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NETVASCO - 14/03/2008 - SEX - 00:00 - HÁ 60 ANOS O VASCO SE TORNAVA O 1º CAMPEÃO SUL-AMERICANO

De 3 a 14 de março, a NETVASCO publica uma série em dez capítulos sobre os 60 anos do título do Vasco no Campeonato Sul-Americano de 1948. O material foi produzido pelos pesquisadores Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida, ambos vascaínos, e é parte do livro "Um Expresso chamado Vitória", que está em fase final de edição e cujo lançamento está previsto para 21 de agosto deste ano, dia do aniversário de 110 anos do Club de Regatas Vasco da Gama.

Entre em contato com os autores por intermédio do e-mail expressovasco@ig.com.br e garanta já o seu exemplar desta obra obrigatória na biblioteca de qualquer vascaíno. O pagamento antecipado dá direito à entrega do livro em sua residência e a concorrer ao sorteio de uma camisa Retrô 1948 do Vasco.

CAPÍTULO X - VASCO CONQUISTA DE FORMA INVICTA O PRIMEIRO CAMPEONATO SUL-AMERICANO

Contra tudo e contra todos, os cruzmaltinos chegavam ao seu derradeiro compromisso na liderança do campeonato, dependendo de apenas um empate para triunfar definitivamente no Chile. A possibilidade que antes havia de acabarem três equipes empatadas tinha terminado depois da derrota do Nacional diante do time da casa por 3 a 2, no dia 10 de março (no outro jogo do dia, o River Plate goleara o Litoral por 5 a 1 mantendo suas chances). Os organizadores, porém, pensando na hipótese da derrota brasileira e de um empate na classificação final com o time argentino (já que eles ainda jogariam com o Colo Colo na última rodada), resolveram que se isso realmente acontecesse, cada equipe levaria para casa um dos dois troféus que seriam ofertados e posteriormente decidiriam o título em uma melhor-de-três. Mas na cabeça do Almirante só existia um pensamento: definir o campeonato naquele mesmo dia. Agora era pra valer a taça: Vasco x River Plate. Expresso da Vitória versus La Maquina.

A BATALHA DE SANTIAGO

O jogo começa com quase meia hora de atraso devido à chegada ao estádio do Presidente da República do Chile, Sr. Gabriel González Videla, e às várias homenagens prestadas a ele. O estádio está completamente lotado e a renda é a maior já registrada no país.

Quando a bola rola, os platinos vão logo ao ataque: Labruña chuta no canto e Barbosa pratica sua primeira boa defesa na partida. O Vasco não se deixa intimidar e Danilo, com sua imensa classe, domina a meia canja. Labruña ameaça novamente, agora de cabeça. Mas Barbosa está atento. O incansável Djalma, que foi um monstro nessa decisão, divide com Ramos que deixa o campo machucado. Ferrari entra em seu lugar. Chico bate forte e o goleiro espalma. Logo a seguir, o Príncipe Danilo chuta colocado, mas Grizetti salva. Na metade do primeiro período, após uma tabelinha do ataque argentino, Labruña perde mais uma, mandando por cima quando o gol já era tido como certo. O Expresso começa a dominar e sufoca a defesa adversária que chega a ceder quatro escanteios seguidos. Chico e Friaça perdem as melhores chances de abrir o placar. Mesmo um pouco superior, o Almirante fica no zero a zero com o River na primeira fase.

A etapa final começa e Ely acerta Labruña perto da área. Moreno cobra a falta que raspa o travessão. O Vasco retoma o predomínio. Aos seis, Chico chuta rente ao travessão. Com dez minutos, Maneca rouba o couro de Labruña, dribla Ferrari e Rodríguez e toca para Ismael. O jovem atacante deixa Friaça livre para marcar, mas, inexplicavelmente, ele falha na hora do arremate quando muita gente já se preparava para comemorar. Preocupação no time vascaíno: Wilson, destaque do jogo na marcação ao craque Di Stéfano, deixa o gramado contundido. O argentino Rafagnelli o substitui. A partida melhora ainda mais. Aos vinte e oito, um gol de Chico é anulado sem qualquer razão. O impedimento alegado pela arbitragem é um completo absurdo. O buchicho está formado. Há invasão de campo, mas prevalece a pressão dos adversários e a habitual má vontade das autoridades contra os times brasileiros. Não bastasse, Mendez ainda agride Chico covardemente e o atacante vascaíno revida. O juiz expulsa o brasileiro que explica sua atitude e, logo a seguir, Mendez também vai embora. O argentino não aceita sair e os dirigentes de seu clube são obrigados a invadir o campo e retirá-lo do jogo. Ismael sai driblando, arremata forte, mas Grizetti defende. Di Stéfano acerta o travessão de Barbosa no que poderia ter sido o último lance da partida. O árbitro, porém, não termina a peleja e dá cinco minutos de acréscimo. Os refletores são acesos e a bola marrom é trocada pela branca. Nessa pequena prorrogação de tempo, nenhum dos times queria o empate. O panorama foi uma seqüência de ataques de lado a lado. No lance mais contundente, Lelé solta o canhão que sai de sua perna direita e o goleiro salva com a ponta dos dedos. E finalmente o jogo chega ao fim. Agora não há mais como tirar do Expresso chamado Vasco o título de primeiro Campeão Sul-americano da história. E invicto! Os dois troféus são entregues por Gabriel González Videla (a Taça América del Sur) e Juan Domingo Perón (o Trofeo Juan Domingo Perón), respectivamente, presidentes do Chile e da Argentina. Os jogadores, emocionados, escutam o Hino Nacional com lágrimas nos olhos. Era o nosso povo rompendo fronteiras, sendo respeitado como nunca através do seu futebol.

Os demais jogos do certame (Nacional 4 x 1 Emelec, no próprio dia 14, e Municipal 3 x 1 Litoral e River Plate 1 x 0 Colo Colo, ambos no dia 18 de março) serviram apenas para definir a classificação final do segundo ao último colocado. O campeão já estava definido: o Vasco da Gama.

FICHA TÉCNICA

VASCO 0 X 0 RIVER PLATE-ARG

Data: Domingo, 14 de março de 1948.
Estádio: Nacional (Santiago, Chile).
Hora: 18 horas (local) - 19 horas (Rio).

Início do 1º tempo: 18h23min (local) - 19h23min (Rio).
Início do 2º tempo: 19h30min (local) - 20h30min (Rio).

Árbitro: Nobel Valentine (URU).
Auxiliares: Carlos Lesson (CHI) e Higino Madrid (CHI).

Renda: 1.628.403 pesos (aprox. 850 mil cruzeiros) - recorde até então no Chile.
Público: 52.000 pagantes (aprox. 70.000 presentes).

Expulsões: Chico 39'/2ºT (VAS), Mendez 39'/2ºT (RIV).

Gols: -

VASCO: Barbosa, Augusto e Wilson (Rafagnelli 20'/2ºT); Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca (Lelé 46'/2ºT), Friaça (Dimas 46'/2ºT), Ismael e Chico. Técnico: Flavio Costa.

RIVER PLATE-ARG: Grizetti, Vaghi e Rodríguez; Yácono (Mendez 18'/2ºT), Rossi e Ramos (Ferrari 9'/1ºT); Reyes (Muñoz, intervalo), Moreno, Di Stéfano, Labruña e Losteau. Técnico: José Maria Minela.

ESTATÍSTICAS DA PARTIDA


A LENDA DO PÊNALTI

Diversas matérias sobre o jogo Vasco 0 x 0 River Plate colhidas através dos tempos afirmam que Barbosa defendeu um pênalti cobrado por Labruña. Porém, tal lance jamais aconteceu. O arqueiro vascaíno defendeu, sim, uma penalidade máxima no Estádio Nacional de Santiago, mas cinco anos mais tarde, no dia 5 de abril de 1953, no jogo Vasco 2 a 1 Colo Colo válido pelo Torneio Internacional do Chile. Foi a foto desta defesa, amplamente divulgada, que induziu diversos jornalistas e pesquisadores ao erro.

A RECEPÇÃO DOS VITORIOSOS

A conquista do Vasco ganhou a dimensão de uma Copa do Mundo para o nosso país. Dois dias depois do triunfo, a festa, programada apenas para o Aeroporto Santos Dumont, começou ainda na chegada da delegação ao Aeroporto Internacional do Galeão, exatamente às cinco da tarde. No caminho até o centro da cidade, passando pelo Porto de Maria Angu, as ruas estavam repletas de torcedores de todos os clubes que levaram faixas e cartazes para saudar seus heróis. A chegada ao Santos Dumont aconteceu somente duas horas mais tarde. A multidão se apertava para recepcionar os campeões do continente. Presentes ao local estavam os ilustres Carlito Rocha, presidente do Botafogo, e Célio de Barros, presidente da Federação Municipal de Atletismo. No trajeto até São Januário, mais folia: as avenidas Rio Branco e Presidente Vargas pareciam estar em plena época de Carnaval. Estampava-se no semblante de toda aquela gente um orgulho diferente de ser brasileiro. E tudo isso graças ao Expresso da Vitória.

Já no seu estádio, o elenco foi presenteado com um ‘Porto de honra’ oferecido pelo presidente do clube, o Sr. Antônio Rodrigues Tavares. Logo depois, o grupo se encaminhou para o altar de Nossa Senhora das Vitórias, onde agradeceu pela benção recebida neste memorável episódio.

O ELENCO CAMPEÃO


HOMENAGENS

“A vitória não é só dos vascaínos. É do desporto brasileiro.”

(João Lyra Filho, Presidente do Conselho Nacional de Desportos, o CND, na época a instância máxima do esporte brasileiro)

“Tenho o maior prazer de felicitar os esportistas brasileiros por tanto denodo, perseverança e disciplina que elevaram o nome do esporte nacional, levantando com justiça o título de campeão sul-americano.”

(General Ângelo Mendes de Morais, Prefeito do Distrito Federal - na época o Rio de Janeiro ainda era a capital do Brasil)

“A ABI - Associação Brasileira de Imprensa -, sempre atenta a todas as festas que assinalam tanto os triunfos da inteligência como os da vida desportiva na sua mais alta expressão, não pode deixar de compartilhar com o maior entusiasmo das manifestações vibrantes do regosijo público pela vitória grandiosa que vem de alcançar denodadamente o grêmio da Cruz de Malta nesta parte do hemisfério, conquistando o título de campeão invicto num certame glorioso de campeões. Esse acontecimento equivale à consagração de nossa indisputada primazia no esporte continental.”

(Herbert Moses, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa - ABI)

O RECONHECIMENTO DA CONMEBOL

No início de 1996, o Comitê Executivo da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) reconheceu o Vasco como primeiro campeão sul-americano de clubes. A decisão só não foi unânime porque o representante do Flamengo, Michel Assef, votou contra o reconhecimento.

A oficialização do título de 1948 por parte da entidade máxima do futebol na América do Sul elevou o Gigante da Colina à condição de primeiro clube do mundo a ter conquistado um campeonato continental oficial, uma vez que as competições similares em outros continentes só começaram a ser realizadas na década de 1950.

O Vasco ganhou também o direito de participar da Supercopa, torneio então restrito aos clubes vencedores da Taça Libertadores da América. Jogou a edição de 1997, em que foi eliminado curiosamente pelo River Plate. Em 1998 - ano em que o Vasco ganhou a Libertadores -, a Supercopa fui substituída pela Copa Mercosul. O Vasco disputou todas as edições da nova competição e conquistou-a brilhantemente em 2000, levantando assim seu terceiro título sul-americano oficial.

TABELA COMPLETA




CLASSIFICAÇÃO FINAL




ESTATÍSTICAS DO CAMPEONATO




PRINCIPAIS ARTILHEIROS




GALERIA



Lance de perigo na área do River Plate. O goleito Grizetti salta e segura a bola, acossado por Ismael e Friaça. Ao fundo, as arquibancadas lotadas.


Chico deixa o marcador para trás e fuzila Grizetti. (No detalhe, a bola por trás do goleiro argentino). Mas o gol que daria a vitória ao Vasco foi impugnado pelo árbitro sob a alegação de um impedimento que ninguém viu.


Os campeões sul-americanos, em foto tirada antes do jogo Vasco 1 x 0 Emelec em 29/02/1948. Em pé: Augusto, Barbosa, Rafagnelli, Danilo, Jorge e Ely; agachados: Djalma, Maneca, Friaça, Lelé, Chico e o massagista Mário Américo.


A primeira página do Jornal dos Sports no dia seguinte ao do título. Manchetes: "Recebamos os vascaínos como autênticos heróis de uma jornada sem precedentes"; "Partiram para a vitória e venceram!"; "Que todos acorram ao aeroporto!"; "Vozes do esporte louvam a conquista sensacional"; "No Galeão às 17,30 e no aeroporto uma hora depois".


Jornal chileno reverencia o Vasco fazendo um trocadilho com o apelido do River Plate: "La Maquina fue Vasco" ("A Máquina foi o Vasco").


Recepção aos campeões e comemoração no Rio de Janeiro


Recepção aos campeões e comemoração no Rio de Janeiro


Recepção aos campeões e comemoração no Rio de Janeiro


Recepção aos campeões e comemoração no Rio de Janeiro


Recepção aos campeões e comemoração no Rio de Janeiro


Recepção aos campeões e comemoração no Rio de Janeiro


A Taça América del Sur, também conhecida como Troféu Condor, que há 60 anos repousa em São Januário.


O Troféu Juan Domingo Perón, que o Vasco também recebeu pela conquista.


Faixa de campeão sul-americano de 1948 (produzida pelo Vasco recentemente em comemoração ao título) pertencente ao acervo do jogador Friaça, único titular ainda vivo.


CAPÍTULOS ANTERIORES (clique para acessar)

Capítulo I - Nasce o Expresso da Vitória: o primeiro time do Brasil campeão no exterior
Capítulo II - Vasco representará o Brasil no Campeonato Sul-Americano de Clubes em 1948
Capítulo III - Na preparação do torneio, uma disputa acirrada do Expresso contra o campeão paulista
Capítulo IV - Elenco chega esperançoso na primeira conquista internacional de um clube brasileiro
Capítulo V - Vasco vence Litoral com dificuldade na sua estréia no Sul-Americano em Santiago
Capítulo VI - Expresso da Vitória arrasa o Nacional uruguaio com atuação de gala
Capítulo VII - Vasco goleia o Municipal no seu terceiro compromisso no Sul-Americano
Capítulo VIII - Expresso bate Emelec pelo placar mínimo no Sul-Americano do Chile
Capítulo IX - Gigante da Colina empata com Colo Colo e fica a um ponto do título

Sobre os autores

ALEXANDRE MESQUITA nasceu em 7 de maio de 1970, pouco antes do tricampeonato mundial. Assíduo freqüentador da Biblioteca Nacional desde 1997, é pesquisador e colecionador de tudo o que se refere ao tema futebol.

JEFFERSON ALMEIDA nasceu em 24 de fevereiro de 1973 e se formou em Jornalismo na PUC-RJ em 1994. É escritor, pesquisador e possui vasto acervo com livros, reportagens e fotos do futebol brasileiro e mundial.


Fonte: NETVASCO


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