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Eurico Miranda foi à posse de Aldo Rebelo no Ministério dos Esportes
Terça-feira, 01/11/2011 - 12:48
Nada lembrava uma solenidade oficial de transmissão de cargo, de um ministro que cai para um ministro que entra, com a missão de fazer uma devassa em atos de responsabilidade do antecessor. Tudo foi preparado pelo cerimonial do Ministério do Esporte como uma grande festa de homenagem a um amigo injustiçado, com leitura de poemas pela servidora mais antiga para Orlando Silva, e entrega de flores para sua mulher, Anna Petta, por outra funcionária.
— Amigo é coisa para se guardar... — recitou Waldete Augusta, a servidora mais antiga escalada para homenagear Orlando em sua despedida do ministério.
O ex-ministro também ganhou flores amarelas, chocolates e um livro — antologia do poeta Carlos Drummond de Andrade. O novo ministro, Aldo Rebelo, assistiu a tudo, esperando sua hora de ser empossado e falar — mais preocupado com os desafios que terá daqui em diante, com a troca de equipe com nomes de fora sem melindrar o PCdoB, limpeza de contratos problemáticos no programa Segundo Tempo, e cumprimento das imposições da presidente Dilma Rousseff.
Sem o brilho da solenidade do Planalto, mais cedo — com muitas autoridades e celebridades —, o pequeno auditório do Ministério do Esporte estava lotado de servidores, alguns poucos deputados do PCdoB, os ex-cartolas Eurico Miranda e Márcio Braga, além de dirigentes de algumas confederações.
Na primeira fila, a mulher de Orlando, Anna Petta, e sua mãe, dona Vanda. Segurando um bebê de colo, também estava na primeira fila o secretário-executivo Waldemar Manoel, o primeiro que teve a degola anunciada por Aldo. Mas Orlando não esqueceu “os amigos” e em seu discurso fez um apelo por sua equipe, citando nominalmente Waldemar.
— É uma equipe pequena mas aguerrida. Esse é o meu time, que quero dar para você.
Do mais simples servidor até o Waldemar, todos estão aqui com muita dedicação — disse Orlando.
Mais cedo, no salão lotado de ministros, políticos e representantes de setores dos esportes, no Planalto, Orlando nem parecia que estava perdendo o emprego. Com bom humor, fez brincadeiras, falou da filha pequena que estava na plateia e, ao final, ganhou um forte abraço da presidente Dilma Rousseff.
Na plateia, inimigos se encontraram.
Pelé e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, estavam entre os convidados.
Pelé foi saudado por Aldo como o “deus dos deuses”. Teixeira não teve sequer o nome citado. Também estavam lá a ex-jogadora de basquete Hortência, o presidente do Corinthians, Andrés Sanches, e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fundador do PSD. Assim como os governadores de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), e de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), cuja mãe, Ana Arraes, enfrentou, e venceu, Aldo na disputa por uma vaga para o Tribunal de Contas da União (TCU).
Com seu jeito peculiar para discursos — quando sempre lança mão de muitas referências históricas —, Aldo parecia um professor de Antropologia em aula. Provocou um grande cochilo, flagrado pelas câmeras, do ministro da Previdência, Garibaldi Alves.
Aldo, no seu discurso de muitas voltas, observou que era a primeira vez em que uma mulher presidia o Brasil e citou mulheres de destaque na vida nacional, como a princesa Isabel. Lembrou Graciliano Ramos, que dissera na década de 1920 que o futebol não seria o esporte nacional do brasileiro, e passou pelo historiador Eric Hobsbawm. E terminou lembrando que ontem era o Dia do Saci — data criada por um projeto de lei de sua autoria para se contrapor ao Halloween americano — e sapecou, para demonstrar conhecimento na área, que a lenda brasileira é o mascote do Internacional.
Fonte: O Globo