Personagem da matéria do Jogo Extra na terça-feira, Welvis Dias Marcelino, o Vivinho, começou sua carreira na teimosia de um olheiro em Uberlândia, cidade natal do ex-jogador do Vasco e Botafogo. Silvério o observava jogando peladas descalço na cidade mineira quando o convidou para um teste no Uberlândia.
- Pelo teste que fiz ali, acho que nunca mais tinha que jogar bola. Mas o cara cismou comigo - recorda Vivinho, que, aos 22 anos, trabalhava em padaria e a mãe não queria que ele deixasse de ganhar dinheiro para ajudar dentro de casa. Era para Vivinho ficar uma semana, treinando, mas ele sumiu durante seis meses. E Silvério foi atrás do garoto de novo, para tentar convencê-lo e também para dobrar a mãe de Vivinho. Quando finalmente foi para o Uberlândia, Vivinho se tornou a estrela do time. Foi dele o gol do título Brasileiro da Segunda Divisão de 1984, no Parque do Sábia: 1 a 0 contra o Remo, aos 47 minutos do 2º tempo.
Em São Januário, Vivinho foi bicampeão Carioca no meio de uma geração muito talentosa, que tinha Geovani, Mazinho, Bismarck, Sorato e, claro, Romário. Quem tinha a missão de segurar essa garotada era Sebastião Lazaroni, que sofreu. Por pouco, não sofreu até fisicamente.
- Eu sempre fui muito nervoso e uma vez num treino de dois toques em São Januário, o Lazaroni não deu uma falta em mim. Dei um bico na bola na arquibancada. Ele veio para cima de mim, me peitou e disse para eu buscar a bola. Falei que não ia, claro que cheio de palavrões, né - conta, rindo, Vivinho, que depois de empurrar de volta o técnico por pouco não resolveu de outra forma a questão: - Eu, Lira, Geovani, a gente queria pegar ele. A gente ia esperar ele no estacionamento, mas o (Paulo) Angioni veio, falou para a gente parar com aquilo e, então, desistimos.
Depois desse episódio, Lazaroni, que ainda seria o comandante do bicampeonato, foi para a Árabia Saudita e se tornou técnico da seleção brasileira. Chamado de "traíra" por Vivinho e companhia, quando saiu do Vasco, o treinador tomou uma atitude que deixou Vivinho sem graça. Na seleção, em 1989, ele convocou Mazinho, Romário e... Vivinho, que semanas antes tinha feito o famoso gol com três balões na Portuguesa.
- A primeira coisa que ele me falou foi: "está vendo como não sou traíra". Ele lembrou daquele episódio. Fiquei sem jeito na hora.
Com os companheiros de Vasco pelas madrugadas cariocas, ele quase matou o amigo e ponta-direita do time, Mauricinho. Saindo de uma boate em Copacabana, ele, com um Escort ("todo jogador gostava desse carro na época"), e Mauricinho com um Gol GTS novinho, que tinha ido buscar em São Paulo no mesmo dia.
- A gente já estava mamado e na volta, cada um com sua "chacrete" do lado, no carro. Na curva depois do túnel em Botafogo, eu fui reto e bati na porta do Mauricinho. Devia estar a mais de 90 km/h - lembra o ex-jogador, que se surpreendeu quando viu o amigo sair do carro ileso.
Pouco tempo depois, no dia 1º de março de 1989, Vivinho se converteria e viraria mais um atleta de Cristo do futebol. Hoje, pastor, ele lembra com saudade das amizades, dos jogos, mas reconhece que muitas vezes exagerava na dose fora de campo.
Fonte: Extra Online