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Saiba mais sobre Cristóvão Borges, que substitui Ricardo Gomes no Vasco
Domingo, 11/09/2011 - 12:14
Muitos dos jovens torcedores do Vasco, dos nascidos no final dos anos 80 até os mais jovens, que acompanham o futebol há pouco tempo, não devem fazer ideia de quem é Cristóvão Borges ou o que ele já fez pelo futebol. Se você se encaixa nesse grupo, deve estar surpreso em saber que o substituto de Ricardo Gomes no comando do clube carioca tem uma vasta história no mundo da bola e que já chegou até a ser campeão com a Seleção Brasileira.
Para aproximar a vida e carreira do treinador dos torcedores vascaínos, o Terra traçou um perfil do ex-atleta e hoje técnico, ouvindo alguns ex-companheiros dele nos tempos de jogador, para conhecer um pouco mais sobre a personalidade de Cristóvão.
Por isso, falamos com o atual técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, que comandou o ex-jogador no Grêmio, além do ex-companheiro dos tempos de Rio Grande do Sul, Alfinete, que hoje também atua como treinador, e o irreverente Biro-Biro, que atuou ao lado dele na passagem pelo Corinthians.
Felipão se refere a Cristóvão como sendo uma pessoa leal, que não se escondia nas horas de crise e liderava os companheiros em campo. Ao ser perguntado sobre qual a personalidade do ex-jogador, respondeu sem pensar duas vezes: "Liderança. Ele sempre foi trabalhador. Nos momentos difíceis, era ele que comandava o grupo. Tinha liderança no grupo. Comigo sempre foi boa pessoa, bom amigo e leal".
O atual treinador do Palmeiras disse que o ex-comandado já demonstrava sinais de que poderia vir a se tornar treinador no futuro devido à forte capacidade de liderança e leitura das partidas.
"Sempre teve uma conversa fora do campo, antes do jogo ou no intervalo. Ele colocava algo para nos ajudar. Dava opinião sobre o que ocorria no jogo", disse Felipão, que vê em Cristóvão um técnico com qualidade e condições para vir a se tornar vitorioso no futuro.
Alfinete e Biro-Biro fizeram diversos elogios à personalidade do ex-jogador, além da visão de jogo dele nos tempos de atleta, e projetaram um futuro de sucesso para Cristóvão na nova carreira.
Alfinete descreveu o substituto de Ricardo Gomes como uma pessoa "comprometida com o que faz, muito profissional, um baita de um companheiro. E para jogar onde ele jogou, já mostra que ele tem personalidade, tem tudo para poder dar sequência. Sabe conduzir, já exercia uma liderança comigo, com o Mazaropi (no Grêmio), chegou à Seleção, então é um cara que tem tudo para dar certo".
Biro-Biro elogiou o jeito determinado do técnico interino do Vasco e relembrou os tempos de Corinthians para apontar as qualidades do ex-volante. "Cristóvão era um cara que tinha uma personalidade forte, que sabia o que queria. Quando chegou ao Corinthians ele se impôs, com a qualidade que tinha, fez um bom trabalho e era uma pessoa que brincava muito, que batia papo, que chegou, jogou, mostrou a qualidade dele. É um cara inteligente e agora agente está vendo ele assumindo o Vasco, nesse início de carreira. Não sabemos se o Ricardo Gomes vai voltar ou não, mas pelo menos, com o Cristovão, o Vasco pode seguir bem", disse.
Ao debater sobre as possibilidades de Cristóvão ser vitorioso na nova carreira, os dois ex-companheiros seguiram linhas distintas de pensamento. Biro-Biro acha que, se o técnico mantiver a personalidade e seguir as convicções, pode triunfar, chegando a almejar coisas grandes.
"Se ele tiver o grupo na mão dele, se ele se impuser e falar 'daqui para frente eu sou o treinador, eu vou mudar, não quero saber dos outros, eu vou seguir a minha ideia, se tiver que usar um jogador ou outro, eu vou mudar', ele pode levar o Vasco a pensar grande. Tanto que vem conseguindo bons resultados e pode ter uma carreira boa, brilhante como treinador, pois com a personalidade e inteligência que tem, ele pode levar o Vasco longe", apostou.
Por outro lado, Alfinete, que também é treinador, adota a cautela e usa da própria experiência para não prever êxito imediato para o companheiro do passado.
"Ser vitorioso ou não é relativo, e treinador vive de resultados. Ele está em uma grande equipe, trabalha há muitos anos com o Ricardo, que é um cara inteligente, conhece a maneira dele de trabalhar, são amigos, já jogaram juntos. O elenco do Vasco é muito bom, difícil é conduzir cabeça-de-bagre. O Vasco já está de sangue doce, já ganhou a Copa do Brasil 2011, tem vaga garantida na Libertadores 2012, ele pode dar continuidade ao trabalho, desde que o emocional não atinja a equipe com o problema do Ricardo", ponderou.
Biro-Biro ainda aproveitou para contar uma característica importante da personalidade de Cristóvão. Segundo o ex-jogador, o companheiro era muito descontraído e gostava de brincar com os demais jogadores. "É um cara que gostava de tirar sarro de um e de outro, brincava com todo mundo e era bem animado", contou.
Alfinete foi além, e expôs uma situação engraçada vivenciada ao lado de Cristóvão. "A mulher dele agenciava artistas e sempre quando tinha uns shows bons em Porto Alegre, a gente pedia ingressos de graça, brincávamos muito com ele por causa disso".
Carreira
Nascido em Salvador, na Bahia, em 9 de junho de 1959, Cristovão ingressou no futebol por meio do Bahia Esporte Clube. Profissional desde 1977, o volante ganhou projeção nacional atuando pelo time da capital baiana, e chamou a atenção do Fluminense, que o contratou dois anos depois.
No clube carioca, conquistou o primeiro título, o Estadual de 1980, e fez uma amizade que seria muito importante para a carreira atual: se tornou amigo do então zagueiro Ricardo Gomes. Apesar de atuarem por pouco tempo juntos, entre 82 e 83, Gomes e Cristóvão se tornaram muito amigos e os caminhos dos dois se cruzaria por diversas vezes no futuro.
Depois de sair do Fluminense, em 83, teve breve passagem pelo modesto Operário-MS antes de se mudar para Curitiba, onde atuaria pelo Atlético-PR e conquistaria os títulos paranaenses de 83 e 85. Chegou a atuar pelo Santa Cruz, em 84, no intervalo das passagens pelo Atlético.
No biênio 86/87, defendeu o Corinthians, ao lado de atletas como Biro-Biro, Casagrande, Waldir Peres, entre outros, além de ser comandado pelo lendário Rubens Minelli, treinador tetracampeão brasileiro.
Após a passagem pelo clube paulista, mudou-se para Porto Alegre, onde jogaria pelo Grêmio e seria treinado por Luiz Felipe Scolari, o Felipão, hoje no Palmeiras. No clube gaúcho, jogou com Mazaropi, Alfinete e Paulo Bonamigo - hoje treinador.
No Grêmio, Cristóvão viveu o auge da carreira como jogador, faturando o tri estadual, entre 87 e 89, ano em que chegaria à Seleção Brasileira e conquistaria o título mais importante desde então, o da Copa América - que naquele ano foi disputada no Brasil -, em grupo que contava com Romário e Bebeto, posteriormente campeões do mundo em 94.
Depois do Grêmio, Cristóvão passou por Guarani, Portuguesa e Atlético-MG antes de encerrar a carreira no Rio Branco-SP, em 1994. Afastado dos campos como jogador, o ex-volante decidiu mudar o rumo e passou a se dedicar ao futebol fora das quatro linhas.
Em 2001, retomou a parceria com Ricardo Gomes, quando o ex-zagueiro tornou-se treinador do Guarani, e o levou para ser assistente-técnico no clube de Campinas. A partir daí, seguiria, como assistente, todos os passos do amigo, que comandou Coritiba e Juventude, além de estar à frente da Seleção Brasileira Olímpica, que falhou na tentativa de se classificar para o Jogos de Atenas, em 2004.
Após a tentativa frustrada de classificação, esteve afastado do cenário nacional do futebol, retomando a carreira de auxiliar agora em 2011, outra vez ao lado do amigo dos tempos de Fluminense, Ricardo Gomes, que assumiu o Vasco após trabalhar no São Paulo.
Com o incidente ocorrido com Ricardo Gomes, que sofreu um AVEH (Acidente Vascular Encefálico Hemorrágico) no clássico contra o Flamengo, no último dia 28 de agosto, Cristóvão assumiu o comando da equipe no Campeonato Brasileiro.
À frente do Vasco, o agora treinador interino Cristóvão acumula duas vitórias - 3 a 1 sobre o Ceará e 2 a 0 sobre o Coritiba -, e um revés (4 a 1 para o América-MG). Neste domingo, tem mais um desafio: o Figueirense, às 16h (de Brasília), em Florianópolis.
Fonte: Terra