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Souza, hoje no Porto, conta que foi roubado no alojamento do Vasco
Sexta-feira, 26/08/2011 - 13:51
Avida de Josef Dias de Souza é dividida por um campo de futebol. Dos riscos da infância pobre em São Gonçalo à explosão de fogos que via ontem da janela de um hotel de luxo na Europa, o volante separa onze anos de cada lado para contar sua história.
Na linha média estava o alojamento das divisões de base do Vasco, onde sofria constrangimentos por ser dos mais jovens. Ao passar pela peneira, virou ouro no mercado. Desafiado a provar seu valor, Souza foi escalado para marcar Messi na final da Supercopa da Europa entre Porto e Barcelona, hoje às 15h30m (de Brasília), em Mônaco, com transmissão da ESPN.
— Vai estourar em mim — disse o volante que conquistou cinco dos seis títulos que disputou desde que chegou a Europa há um ano.
— O Porto não sabe jogar na defesa. Vamos marcar em cima e obrigá-los a dar chutão na saída de bola.
A precipitação é mais comum no futebol brasileiro.
Com a recente conquista do Mundial Sub-20, Henrique, Oscar e Casemiro já são cotados para a seleção principal, enquanto a geração anterior, da qual Souza faz parte, é pouco lembrada.
— No Brasil, dá-se mais valor ao que acontece no momento, o que é um erro — disse Souza, um dos três que perderam pênalti na derrota para Gana na final de 2009.
Os traumas ficaram para trás. Criado pela mãe que não trabalhava, morava com primos e tios.
Aos 11 anos, encontrou um abrigo nem sempre acolhedor no Vasco. Sem dinheiro para comprar cadeado, Souza era roubado pelos colegas — Aos 15 anos, ganhei tênis de R$ 160 que durou três dias. Também chorei muito quando roubaram o rádio em que ouvia músicas de louvor.
A revolta deu lugar a serenidade. Mesmo sem ter concluído o ensino médio, impressiona pelo bom português, forjado na leitura da Bíblia e nas pregações que faz no Porto. A última teve 150 fiéis.
— Fico mais nervoso antes do culto que do jogo — disse o volante que come bacalhau sem vinho, não fala palavrão nem em campo e tira folgas em parques de diversão. — É a infância que eu não tive.
Da janela do hotel, os fogos no início da noite de ontem celebravam a vida nova.
Por tudo que passou, nem diante de Messi, Souza se intimida.
No futebol e na vida, são onze para cada lado.
Fonte: ESPN.com.br