As paulistas Aline Tenyer e Fabiana Soares passaram o início de semana no Rio com uniforme “policial” preto, portando algemas, cassetete e lanterna no cinto, mas não prenderam ninguém, só a atenção dos participantes da Interseg, feira Internacional de segurança pública no Riocentro.
Em vez das tradicionais promotoras de eventos com figurino de executiva, empresas da área de segurança resolveram mexer com o imaginário dos policiais, seu público-alvo. Contrataram modelos fantasiadas de policiais, presidiárias, jogadora de futebol e até de “Irmãs Metralha” para chamar a atenção dos inscritos na feira, quase todos homens.
As fantasias são curtas e sugestivas – assim como a da maioria das promotoras de evento da Interseg, algumas com microssaias –, e “mexe com o fetiche dos homens”, na opinião da “presidiária” Analu Dietrich, 24 anos. Modelo em eventos e estudante de tecnologia de informação, ela define: “É o normal de eventos: os homens vêm ver armas, carros e mulheres.”
“O objetivo é chamar a atenção em relação à segurança, dando uma inovada. O público é quase 100% masculino”, justifica Maura Magari, do marketing da Blackbee, de soluções em tecnologia, que tinha “policial”, “presidiária” e “jogadora de futebol” no estande.
Dupla ‘pioneira’ critica ‘imitação’ de minissaia: ‘Desmerece a classe’
Aline e Fabiana reivindicam o pioneirismo no mercado de “policiais” de feiras. “Somos as primeiras, trabalhamos para a Police Shop há sete anos, sempre vestidas assim, e fazemos dez feiras por ano. Já somos conhecidas. Tentam nos imitar, mas fica horrível, ridículo. Desmerece a classe: não dá para associar polícia a minissaia”, disse Aline Tenyer, loura de 28 anos e 1,77m, torcendo o nariz.
“Não tenho vergonha nenhuma”, disse uma modelo concorrente, vestida de “policial”. Com enorme decote no colo, microssaia preta e salto alto, ela pediu para não ser identificada, porque trabalha como atriz de TV e não poderia estar trabalhando na feira.
Três centímetros mais alta que Aline e com um decote bem maior, Fabiana conta que as duas recebem de 50 a 60 cantadas por dia e mostra, divertida, um bolo de cartões de visita recebidos nesta terça-feira. “Tem o elegante e o deselegante. Quanto mais velho pior. Os novinhos têm vergonha; os velhos perdem a vergonha. Vem coronel da PM, e a gente fala: ‘Vem cá tomar um choque!’ Aí eles vão, mas põem um soldado, capacho, para tomar choque”, ri Fabiana.
A dupla, que ilustra o catálogo da empresa e recebe comissão de vendas nas feiras, garante que a estratégia de marketing recompensa. “Tem homem que chega e acaba levando pelo menos alguma coisa, só de vergonha de falar ‘não’ para a gente”, contou Aline.
O assédio não as incomoda e, às vezes, a conversa cola. Fabiana já chegou a namorar um policial federal que conheceu em evento. Em duas ocasiões, as duas ganharam carona de helicóptero policial até o aeroporto, uma vez no Rio outra em Brasília.
Os namorados curtem menos. “Tive um namorado que ofereceu pagar o que eu receberia em uma feira para eu não trabalhar”, contou. O bilionário Eike Batista já fez o mesmo com a então mulher Luma de Oliveira, oferecendo-lhe o valor que a Playboy lhe pagaria para posar nua e levando-lhe diariamente bombons, para que saísse de forma. Luma só posou após a separação.
Nem todas ficam tão à vontade. Analu disse que o primeiro dia como presidiária de camiseta, saia e barriga de fora, foi “um pouco estranho”. “Tenho quadril largo e a saia estava subindo, então pus uma calça legging por baixo. Como não estou usando nada sugestivo de mais, tudo bem”, afirmou Analu Dietrich.
Vestido listrado, salto alto e tornozeleiras eletrônicas, com monitoramento
Priscila Cannone, 20, faz faculdade de Direito, teatro no Tablado, aulas de música, canto e testes para a Globo. Enquanto a carreira não decola, ela atuou como “presidiária” na Interseg.
Ao lado da também atriz Thatiana Moraes, que trabalha em um programa humorístico na TV Brasil, Priscila vestia uma tornozeleira eletrônica da Spacecom – para monitorar presos em regime semi-aberto –salto alto, um vestidinho e chapéu listrados preto e branco de “presidiária”.
“A fantasia é mais descontraída, uma brincadeira. O ruim é que nos monitoravam o tempo todo, pelo computador. Sabiam quando estávamos almoçando, não tem como fugir. Estou me sentindo presa mesmo, mas mais tarde eles nos libertam”, riu ela. Aluna de Direito, ela quer é “prender todo mundo” como promotora, depois que se formar.
Com máscaras pretas sobre os olhos, camisetas amarelas com número “176-761” e calças azul turquesa, as “irmãs Metralha” Liliane Victorino, Hellen Aragão e Ágata Guimarães curtiram a fantasia.
“Eu adorei, é diferente daquela roupa básica de eventos e chama mais a atenção”, disse Liliane, 29. “Um monte de gente veio dizer que foi a melhor ideia da feira”, contou Ágata, 22. “Gostei porque não é vulgar”, completou Hellen, 22.
Ex-nadadora da seleção se transforma em atleta de embaixadinhas
Amanda Armelau, 23 anos, foi recordista e campeã brasileira, sul-americana e europeia juvenil de natação, nos 50m e 100m borboleta. Após largar o esporte, concluiu a faculdade de Educação Física, faz pós-graduação em Educação Escolar na Uerj e trabalha em eventos para juntar dinheiro e fazer mestrado.
Depois de aprender a jogar futebol com o pai, participa de partidas com homens e, esta semana, usou o talento fazendo embaixadinhas em frente ao estande da Blackbee, empresa de soluções tecnológicas. “Tem umas meninas quase peladas, se fosse me vestir de presidiária, cobraria mais”, conta ela, que já defendeu nas piscinas o Vasco, Santos, Botafogo e São Caetano, além da seleção brasileira.
Apesar da roupa mais “comportada” - camiseta e shorts -, ela também ouviu cantadas. “Um cara me disse que fui a única que deu ‘bola’ para ele... Se você trabalha com eventos e tem corpo bonito, já sabe que vai ter isso. Mas se você se dá o respeito, as pessoas não abusam.”
Fonte: IG