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Dinamite e pais falam sobre jantar organizado pelo Vasco


Domingo, 14/08/2011 - 11:25

Histórias entre pais e filhos já renderam livros, novelas, músicas, filmes. Na noite desse sábado, véspera de um jogo importante entre Vasco e Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro, o futebol entrou no cardápio variado. Literalmente. Um dos patrocinadores do clube organizou jantar no hotel Bourbon, na Barra, onde os cruz-maltinos se concentram. A chegada dos chefes de família num micro-ônibus para encontrar os atletas foi o começo de uma programação comemorativa do Dia dos Pais que se estenderá neste domingo. Antes da partida, os jogadores entrarão em São Januário de braços dados com aqueles com quem aprenderam os primeiros passos da vida. Em cada camisa, haverá o nome do grande herói em vez do ídolo. A torcida gritará nome a nome, da arquibancada. E o presidente, muito provavelmente, vai se emocionar.

Ninguém, mas ninguém no Vasco parecia mais feliz do que Roberto Dinamite. Com a autoridade de dirigente número um e maior ídolo da história do clube, comemorava mais um pioneirismo da turma da fuzarca, como são chamados os vascaínos no seu grito de guerra após as vitórias. A lembrança e a saudade do pai, José Maia, falecido há quase dez anos, foram inevitáveis. Ainda mais que o saboroso passado explica a origem do maior artilheiro vascaíno de todos os tempos.

- Eu sou fruto de uma relação que se iniciou dentro do campo. Meu pai, goleiro, minha mãe, Neuza, torcedora de outro time. Minha mãe foi atrás do gol para pedir a meu pai para deixar a bola passar. Meu pai não deixou. Aí começou o namoro, lá em Caxias. Ele jogava no São Bento, ela torcia pelo Parque Lafayette, outro time de Caxias. Começou aí. Casaram, tiveram três filhos, ele foi um grande goleiro, meu irmão também foi goleiro, ponta-esquerda, e chutava mais do que eu. Dos três fui o piorzinho, mas o mais feliz. Meu pai para mim foi a base para que eu pudesse ser não só o jogador que fui, mas o homem que sou. Quem tem o seu pai hoje o trate com muito carinho, cuide bem dele, é peça fundamental para toda a sua vida. O que está acontecendo aqui é um ponto muito importante nessa relação. Tenho certeza de que ele espiritualmente está vendo tudo isso. Gostaria que estivesse aqui para me ver presidente. Infelizmente não foi possível. Mas isso aqui é dele. Obrigado, pai.

Roberto parecia uma criança comemorando o que chamava de pioneirismo do Vasco. Não lembra de ter visto ou vivido um jantar dessa forma na véspera de partida importante nos tempos de jogador. Mas no dia, tanto José Maia como dona Neusa iam a todos os jogos incentivar o filho.

- Ele era muito na dele. Ficava ali, caladão, sentado na arquibancada, do lado da minha mãe. Mas o olhar entendia tudo.Depois eles me esperavam e saíamos juntos. Naquele período em que eu estava iniciando, não tinha aquele negócio de carro. Meu pai viveu histórias ótimas. Jogou nos anos 50, início de 60, contra um dos maiores de todos os tempos. O Garrincha atuava no Pau Grande. Ele lembrou um jogo em que o São Bento ganhava do Pau Grande por 2 a 0 porque o Garrincha tinha perdido o trem. Mas o Mané chegou no segundo tempo, entrou e aí já viu: 5 a 2 para o Pau Grande. É verídico - afirmou Roberto, às risadas, pai de três filhos, um deles, jogador.

Tio que foi pai

Se o presidente do clube mostrou que pai é eterno, o lateral-esquerdo Julinho deu a senha de que pai também é quem cuida. Não precisa ser biológico. Por isso estava na companhia, aos sorrisos, do tio, Francisco Queirós, 47 anos, conhecido como Professor Chicão, professor de Geografia que mora no extremo sul de São Paulo.

- O pai dele foi embora, não deu certo com a mãe, nós morávamos na mesma casa, aí eu passei a cuidar dele como pai. O apelido dele era Fraldão, fugia para trabalhar com a gente... Foi uma luta, família pobre de São Paulo... Mas é bom menino, está no futebol graças a ele mesmo. Dedicação, determinação, empenho. Quando resolveu sair para jogar, a mãe ameaçou não liberar. Eu disse que ela tinha que deixar, porque um dia ele poderia cobrar isso. Ele foi, deu certo. Destacou-se no Atlético Goianiense, o Avaí o contratou, ele foi bem na partida contra o Vasco, pela Copa do Brasil, e o clube o contratou por um ano.

Pai coruja

Julinho vem ocupando seu espaço no Vasco. Fernando Prass já ganhou o seu no gol. Também, com um pai coruja como o advogado e agora comerciante Arthur Prass, fica mais fácil. Dono agora de um restaurante em Florianópolis, sempre que pode acompanha ao vivo a carreira do goleiro. Quando é no Sul, então...

- Não viajo tanto quanto eu gostaria. Mas em Porto Alegre, Curitiba e também em Floripa, aí estou lá, não tenha dúvida. Não consigo perder um jogo e fico concentrado duas horas antes. Aqui no Rio, quando há clássicos ou jogos decisivos, dou um jeito de vir. É assim desde o início da carreira dele, quando saiu para jogar no interior de São Paulo, no Francana. Estive lá umas quatro ou cinco vezes nos seis meses em que jogava lá. Depois em Goiânia, quando foi campeão estadual, estava lá na final, e depois no Coritiba.

Aos 61 anos, Arthur parece um garoto ao falar das qualidades do filho. E confessa que ficou surpreso com a homenagem do Vasco.

- Fernando sempre foi um filho muito carinhoso, presente. E agora eu tenho os netos, Caio e Helena, de quatro anos, gêmeos, filhos dele. O maior presente que me dá é esse profissionalismo, o reconhecimento que tem da torcida. Essa reunião aqui é muito boa. Nunca tinha visto e não esperava. Não estava programado para vir no Dia dos Pais aqui. Como o Fernando vai para Florianópolis enfrentar o Avaí na quarta, esperava lá esse encontro. Mas não tive como recusar essa proposta dos patrocinadores do Vasco. Estou curtindo esse ambiente com os filhos, os netos. E estou tendo a oportunidade de conhecer pais de outros atletas.

Empolgação

O entrosamento realmente parecia perfeito entre os pais. Arthur cumprimentava Jumar, pai do volante vascaíno do mesmo nome, e José Hélio Alexandre de Souza, treinador de base no interior de São Paulo e fã número um de Bernardo, o filho e reserva de luxo do Vasco, que, por sinal, estará em campo neste domingo, contra o Verdão.

José Hélio era dos mais entusiasmados com o jantar na Barra da Tijuca. Espera que a ideia pegue e possa agora passar muitos Dias dos Pais com o filho. Feliz com a ascensão de Bernardo, que para ele não teve desempenho tão bom no Goiás, sonha com futuro promissor.

- Espero que ele continue assim na carreira. O ano está sendo dos melhores. Agora, com essa oportunidade que ganhou no Vasco, alcançou o objetivo de ser campeão, e espero que ainda dê muitas alegrias ao clube. Achei a ideia sensacional .Principalmente para a gente que mora fora do Rio de Janeiro, é do interior de São Paulo. Está sendo uma festa legal. Desde que ele se tornou profissional, era sempre meio complicado. Muitas vezes nos falamos no Dia dos Pais por telefone. A saudade era muito grande. Mas sabíamos como era importante, por isso suportavávamos com muita tranquilidade. Mas a gente fica mais sentimental, gosta de receber o carinho dos filhos neste dia. O mais importante é o beijo e o abraço.

O pai coruja tem mais duas filhas, Bruna, com 23, e Bianca, com 18 anos. Sorridente, aos 47 anos, saboreava com prazer ao lado de Bernardo e do neto o menu da casa, que tinha do filé de frango ao escalopinho de mignon. Mesmo sem bacalhau - a opção de peixe era o dourado -, a festa vascaína foi da fuzarca.


Feliz com jantar, presidente Roberto Dinamite lembra do pai com carinho e saudade



Professor Chicão é tio e pai do lateral-esquerdo Julinho



Arthur Prass saboreia o jantar com o filho, o goleiro Fernando



Com o neto, José Hélio ganha beijo carinhoso de Bernardo


Fonte: GloboEsporte.com