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Após 7 meses na China, Renato Silva reencontra a felicidade


Quinta-feira, 11/08/2011 - 11:28

Seduzido por uma boa proposta, Renato Silva resolveu tentar a vida no futebol chinês. Contratado pelo Shandong, chegou a se empolgar com o início. Mas foi até conhecer a cidade onde iria morar pelos próximos anos: Jinan. Situada a 420 quilômetros da capital Pequim, ela não tem grandes atrativos. Pelo contrário. A cada dia que passava lá, a ideia de sair ficava cada vez mais madura em sua cabeça. Motivos não faltavam: sua esposa estava grávida e voltou para ter o filho no Brasil, o futebol não era competitivo e, principalmente, ele não conseguia comer.

- Os pratos são até bonitos, mas não dá. É tudo muito diferente, tudo muito exótico. O tempero é horrível - decretou.

Foi aí que apareceu o Vasco, clube pelo qual fará sua estreia na noite desta quinta-feira, contra o Palmeiras, às 21h50m (de Brasília), em São Januário. Renato Silva não pensou duas vezes e se mandou. Agora, já readaptado ao Brasil, o zagueiro relembrou os tempos difíceis na China em bate-papo bem descontraído com o GLOBOESPORTE.COM após o treino.

Além das histórias fora de campo, Renato falou da expectativa no novo clube, da vida de pai, relembrou com sinceridade o episódio em que foi flagrado no doping por uso de maconha e revelou o primeiro prato que saboreou com um sorriso no rosto assim que desembarcou no Rio de Janeiro. Confira a íntegra abaixo:




Como foi o início no futebol chinês? Tão ruim como nas últimas semanas?

Não. Longe disso. Logo quando cheguei viajamos para a Espanha e treinamos em Málaga. A cidade é maravilhosa e fica em um país maravilhoso. Depois passamos um período em Pequim. A capital é legal demais também. Você dá de cara com uma cidade toda moderna. Nessa hora eu até achei que fosse ser legal. Mas aí cheguei em Jinan e tudo mudou. Lá foi o "osso" mesmo, bem ruim...

Antes de falar da comida, como era a vida na cidade?

Para começar, era completamente diferente de Pequim. Em Jinan tudo é antigo. A cidade está sendo reconstruída. O lugar é nojento. As pessoas não são higiênicas, todo mundo seboso mesmo. As mulheres não depilam a axila. É tudo muito estranho. No começo, fiquei duas semanas morando em um hotel e as coisas eram mais tranquilas. Depois ficou difícil. Nossa casa era quase dentro do clube. Me sentia em uma prisão. Quando minha mulher Vanessa foi morar lá a situação melhorou. Mas depois que ela voltou por causa da gravidez eu fiquei maluco.

Foi quando você resolveu procurar uma maneira de voltar? O nascimento do Lucas foi determinante?

Com certeza. Não queria ver meu filho nascendo naquele lugar. A Vanessa voltou e até eu resolver minha transferência para o Vasco foi complicado. Não entrei mais no fuso de lá. Treinava pela manhã, dormia a tarde inteira esperando chegar de noite para poder falar com minha família. Fiz de tudo para chegar com tempo de participar do nascimento, mas não deu. Cheguei já com cinco dias (hoje Lucas está com pouco mais de um mês). Agora quero aproveitar o tempo ao seu lado e, sinceramente, espero não ter de voltar. Meu desejo é firmar um contrato longo aqui no Vasco e voltar a morar no Rio, que é a minha cidade.

Seu principal problema lá foi a alimentação. Como era essa questão?

A comida lá é muito diferente. Nas primeiras semanas eu só comia em fast food, que tinha perto do hotel. Depois ficou difícil. Mas até isso é diferente. Lá tem porção de pata de galinha (risos). Carne vermelha, por exemplo, nunca nem arrisquei. Ficava só no frango até porque não sabia se era carne de vaca ou de cachorro. O Obina (que era seu companheiro de clube) até encarava alguma coisa, mas eu não. Os pratos são bonitos, mas o paladar não dava. O tempero deles é forte demais. Até o arroz é difícil comer. Pizza, por exemplo, só de queijo. Não arriscava colocar nada. Fiquei até mais fraco fisicamente, porque treinava em dois períodos. As coisas só melhoraram quando as esposas chegaram e assumiram a cozinha.

Quando desembarcou no Rio de Janeiro, qual foi a primeira coisa que você comeu?

Uma feijoada. Já estava preparada pela minha família só me esperando (risos).

E a adaptação em campo. Como é o futebol chinês dentro das quatro linhas?

É bastante veloz e desorganizado. Fora que a pressão é zero. O público nos jogos em casa até era razoável, mas nos jogos fora a média era de três mil pessoas. Alguns raros jogos tinham público de 20 mil. Aí era legal. Mas a estrutura do clube era excelente. E eles estavam gostando do meu trabalho. No segundo jogo pela Copa da Ásia, contra o Cerezo Ozaka, fiz um gol. A adaptação ficou mais fácil por ter o Obina. Depois ainda chegou um português e a convivência melhorou.

Depois de toda essa dificuldade, você recomendaria o futebol chinês para algum amigo seu?

Olha, não dá para falar sem saber das condições. A única coisa que eu posso dizer é que quem for vai encontrar muita dificuldade. E tem de levar a família junto. Se for sozinho não vai aguentar não.

Você voltou ao futebol brasileiro e carioca. No Vasco, você fechou o ciclo tendo passagens pelos quatro grandes. Qual a diferença daqui para Flamengo, Fluminense e Botafogo?

A torcida aqui é muito apaixonada. Além disso, o Vasco tem um estádio, o que faz toda a diferença. Mas até hoje recebo carinho dos torcedores rivais. Moro no Leme, que fica na Zona Sul do Rio, e tenho contato com muitos. Só os torcedores do Fluminense que não me passam muito carinho. Tive uma passagem curta e polêmica. Acho que deve ser isso.

Foi no Fluminense que você acabou flagrado no doping por uso de maconha. É um episódio que ainda te incomoda?

Claro que não queria ter sido flagrado e julgado. Foi um sofrimento muito grande que poderia ter sido evitado. Mas ao mesmo tempo aprendi muito ali. Acabou sendo determinante na minha vida e na minha carreira. Depois deste episódio, todas as minhas passagens por outros clubes foram muito boas. Aprendi na marra a ser um profissional que nunca havia sido anteriormente. Só tirei coisas boas.

Agora, no Vasco, é mais um recomeço. Está pronto para encarar novamente o futebol brasileiro?

Estou bem fisicamente e pronto para o desafio. Espero conseguir ir bem e, como falei anteriormente, assinar um contrato longo para poder curtir a minha família.

Fonte: GloboEsporte.com