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Juninho, sobre Mundial: 'Se pudesse voltar no tempo, chutaria no gol'
Domingo, 07/08/2011 - 13:20
Com a simplicidade de ídolo que ainda hoje ajuda os funcionários do Vasco a carregar o material de treino e a maturidade adquirida aos 36 anos, 18 deles como profissional, Juninho Pernambucano reconhece erros do passado, frustrações da carreira, como não ter ganho um Mundial, mas sem lamentações. O meia olha para frente e tenta desvendar seu futuro no futebol: não sabe se no clube carioca ou no Lyon, da França. Por enquanto, quer aproveitar seus últimos momentos em campo.
Como é voltar mais ídolo do que antes?
Dá-se muito mais valor às conquistas um tempo depois. Nunca fui melhor do que Ramon, Donizete, Pedrinho, Carlos Germano e Luizão, por exemplo. Acontece que o Vasco entrou num período de dez anos de escassez de conquistas importantes, foi pra Segunda Divisão, depois de ser tão vitorioso. Ainda sou um daqueles jogadores em atividade, o reconhecimento aumentou por causa disso. Não posso nem me comparar a Edmundo e Romário, mas minha geração colaborou muito. E fiz um gol muito importante que ficou na memória.
Por causa desse gol contra o River Plate, na Libertadores de 98, a torcida fez uma música anos depois da sua saída. Como foi escutá-la pela primeira vez?
Fiquei sabendo através da minha filha Giovanna, que acompanha muito mais do que eu o Vasco. Quando ela falou, imaginei que tivesse sido coisa de um jogo, alguma rivalidade, por causa da volta do Adriano para o Flamengo. Não imaginava que fosse uma música que seria cantada em todos os jogos. Depois de ver que foi tudo isso, comecei a pensar que realmente tinha um carinho especial. Não imaginava que fosse tanto.
Seu pai passou o amor pelo Vasco. Você conseguiu fazer o mesmo com suas três filhas?
As escolhas são sempre feitas pelas crianças, lógico que a gente indica. Espero que as mais novas continuem como a Giovanna, que também nunca foi forçada. Mas ela participou do início, nasceu quando cheguei aqui, entrou algumas vezes comigo no campo. Numa reportagem de TV na final do Rio-SP de 98, ela cantou o hino e gostou. Quando ia para Recife e dizia que era Vasco, minha família insistia que ela tinha que torcer primeiro pelo Sport. Isso acabou instigando. Ela só torce pelo Vasco.
Como encontrou São Januário dez anos depois?
A parte negativa, desde que comecei a jogar futebol e que cheguei ao clube, é a falta de um centro de treinamento. O contato com o torcedor e com a imprensa é importante, mas um momento de reflexão, de solidão de um grupo dá muito mais resultado do que conviver nessa pressão diária. Senti falta disso. A grande diferença é que o Vasco tem muito mais profissionais qualificados em volta do time profissional, estrutura de trabalho bem melhor. O Vasco é um pouco atípico pelos últimos dez anos, com problemas políticos, econômicos e falta de resultados. Tudo isso influiu para que estacionasse, acabou perdendo credibilidade e grandes torcedores. Infelizmente, coincidiu com a falta de títulos. Às vezes, os títulos escondem um pouco.
Ao ir à Justiça para deixar o Vasco não temeu pela sua relação com a torcida?
Eu saí porque era um plano de vida. Independentemente do problema, eu queria sair, meu ciclo tinha se encerrado. Sonhava e achava que era capacitado para jogar na Europa, queria a Espanha na época. Talvez se fosse hoje, com salários melhores, contratos longos, acho que o jogador pode fazer carreira no Brasil, se inspirar num Rogério Ceni. Na minha época não se fazia isso porque pertencíamos ao clube a vida inteira. A solução foi entrar na Justiça do Trabalho, dez dias depois o mercado europeu fechou e fiquei preso. O destino me ajudou muito, apareceu um clube que não era a primeira opção, o Lyon, que conhecia muito pouco. A maioria dos torcedores entende essa saída. Não tenho rancor de ninguém.
Na final do Mundial de 2000, você teve a chance do gol do título, mas tocou para o Edmundo. Você se arrepende daquela decisão?
Se pudesse voltar no tempo, eu chutaria no gol. Não foi a decisão mais acertada, eu já estava na área, mas a vida não é feita só de glórias. Também tive momentos negativos. Para aprender, olho para trás. De repente nem estaria naquele Mundial, era para ter feito o gol do River e não aquele, que me marcaria mais. Reconheço que errei.
Por que não conseguiu se firmar na seleção?
A verdade é que nunca consegui me firmar na seleção como sempre fiz nos clubes. A única coisa que faltou na carreira foi ser campeão mundial pela seleção ou pelo Vasco. Fico feliz por ter participado de 35 jogos, feito alguns gols, por ter ganho a Copa das Confederações (2005). Com muitos jogadores aconteceu o mesmo. Outros campeões do mundo não marcaram a história do clube como eu. E muitos melhores do que eu também não foram campeões do mundo. Por ter marcado o Vasco e o Lyon, já sou muito feliz, sem nenhuma lamentação. Quem sabe ainda posso ser campeão do mundo de outra forma.
O que aconteceu para você decretar o fim de seu ciclo na seleção logo após a eliminação diante da França em 2006?
Eu achava que quando se perde uma Copa do Mundo, principalmente no Brasil, era natural que houvesse renovação. Achava que com 31 anos faria parte dessa mudança, seleção não tem que ter carreira cativa. Havia muita expectativa, o time era muito bom, mas não aconteceu. Perdemos num jogo difícil, 1 a 0, numa bola parada. Não jogamos tudo o que a gente podia jogar. Foi isso.
A decisão de ir para o Qatar foi pela questão financeira?
Não, pesou o desgaste do último ano no Lyon. Depois de sermos campeões sete anos seguidos, ficamos em terceiro naquele ano. Achava que havia se encerrado o ciclo, tinha campanha para o Lyon não ser mais campeão, porque estava reduzindo o futebol francês a um clube. Consequentemente foi um ano bem desgastante pra mim, por ser brasileiro, a cobrança aumentou. Aqui a imprensa reconhece o estrangeiro muito mais facilmente como Conca, Loco, Herrera. Lá fora é diferente, cada vez que ganha é mais cobrado. Não achava que era correto aquilo e restava um ano de contrato. Não estava mais curtindo a vida fora de campo. Tinha duas opções: ou voltava pro Brasil ou ia para um futebol menos competitivo, esse foi o acordo. Acabei decidindo pelo Qatar. O futebol lá não é tão fácil quanto se imagina, mas fui pra jogar futebol e ter mais qualidade de vida.
A cobrança de falta é sua marca registrada. Aquele quique que engana o goleiro é puramente treino?
Sempre fui batedor de falta desde a categoria de base, sempre gostei de praticar após os treinos. No Brasil, dividi com outros grandes batedores, logo a possibilidade de fazer gols diminui. O jogador brasileiro do jeito que é bom tecnicamente é natural que bata faltas bem. No Lyon não tinha nenhum, foi a grande oportunidade da minha vida. Fui evoluindo, treinando de mais longe, foi o melhor momento da minha carreira. Era o único, batia tudo. Dos 100 gols que fiz, 44 foram de falta. Quando fazia gol de falta, a gente nunca perdia, tinha essa coincidência. Lá, comecei a treinar essa bola que bate antes, que é mais distante. Às vezes, no campo molhado e gramado duro, sobe um pouco mais do que o goleiro imagina, foi treinando nessas variações que fui descobrindo outras formas. Espero evoluir mais.
Você reconhece que a sua volta foi melhor do que esperava. Já decidiu se encerra a carreira no Vasco no ano que vem?
Vou esperar. Começou tudo bem para mim, quero dar sequência. A situação na tabela é boa, vamos acreditar no nosso potencial e continuar lutando. Em dezembro, decido o que vou fazer. Vai depender de como vou terminar o ano e de como o Vasco vai terminar.
Fonte: O Globo