Tamanho da letra:
|

Sonho de infância de Dedé era ser gari em Volta Redonda


Quarta-feira, 03/08/2011 - 11:09

Copa de 94: Dedé, aos 6 anos de idade, vestiu a camisa da Seleção Brasileira, mas como torcedorPouca gente sabe, mas o mais novo voltarredondense convocado para jogar na Seleção Brasileira sonhava, quando criança, ser gari. Isso mesmo. Bem antes do futebol, o menino se encantava quando o caminhão passava pelas ruas do Parque das Ilhas e ele via os garis correndo para recolher o lixo e jogar na carroceria do caminhão. Para a mãe, Maria Helena da Silva, de 53 anos, o fascínio de Dedé com os garis foi fruto de um caminhão de lixo de brinquedo que ele ganhou de presente.

- Na época, o pai do Dedé trabalhava na CSN e ganhava alguns brinquedos que a própria empresa dava para os empregados presentearem os filhos. Quando Dedé ganhou o caminhãozinho de lixo, não largou mais. Ele dizia que seria um gari e que trabalharia num caminhão igual àquele, porém maior.

Ainda segundo dona Lena, como a mãe é conhecida, todos os dias em que o caminhão de lixo passava em frente à casa deles, Dedé saía correndo e ficava observando os garis. Chegava a pedir para ir atrás do caminhão e não desgrudava os olhos dos movimentos dos garis.

Mas o sonho logo ficou para trás quando o zagueiro começou a jogar bola. O futebol passou a ser seu foco. O bom desempenho no Voltaço, no Estadual de 2009, levou Dedé ao Vasco. No ano passado, firmando-se na carreira, foi considerado o melhor zagueiro direito do Campeonato Brasileiro, ganhando o prêmio "Craque do Brasileirão". Este ano, porém, parece ter tudo para superar 2010. Afinal, o Vasco já comemorou a Copa do Brasil. E, na segunda-feira (25), o jogador de 23 anos experimentou o dia mais feliz de sua vida, ao ser convocado pelo técnico Mano Menezes para a Seleção Brasileira que jogará amistoso com a Alemanha, no próximo dia 10, em Stuttgart.

Convocação que ele não acompanhou porque estava dormindo na hora. Fui eu quem o acordou. "Amor, bom dia! Levanta da cama e grita, pois você foi convocado". Foram exatamente essas palavras que eu disse. A partir daí, começou a festa. A família e amigos lhe fizeram uma surpresa, aparecendo no treino, em São Januário, para lhe dar os parabéns.

Dedé é o quinto jogador nascido em Volta Redonda a vestir a camisa da Seleção Brasileira e o segundo que começou a carreira no Voltaço. Antes, foram Cláudio Adão, Deley, Donizete (o primeiro revelado pelo Volta Redonda) e Felipe Melo. Agora, chegou a vez do garoto que já foi fascinado pelo trabalho dos garis e que a bola, que muda de trajetória nos chutes maliciosos dos grandes craques, chamou para o futebol.

Ex-goleiro Sandro é lembrado pelo apoio

Dedé ganha beijo da mãe, dona Lena: Jogador revelado pelo Voltaço chega à seleçãoEm meio à gratidão pelo apoio da família, dos amigos e companheiros de clube, Dedé lembrou de um nome pouco conhecido no futebol nacional, mas que, reconhece, o ajudou bastante a adquirir experiência no futebol. Ele mencionou Sandro, ex-goleiro do Voltaço (atualmente supervisor do futebol profissional do clube), que acompanhou sua carreira desde o início e, segundo o zagueiro, o aconselhava em lances de jogo e o elogiava nos treinos.

Sandro aproveitou o momento de comemoração do zagueiro para dizer que sempre torceu por Dedé que, ainda nas categorias de base, chamava sua atenção tanto pelo talento quanto pelo profissionalismo. "Desde quando Dedé começou eu sabia que ele era um jogador diferenciado. Sempre foi muito profissional e, mesmo quando não jogava, nunca ficou cabisbaixo. Eu sempre brincava, falando que parecia que ele não tinha problemas, que a vida dele era perfeita. Ele não deixava transparecer nenhuma tristeza ou revolta. O que está acontecendo hoje não me surpreende, sabia que ele alcançaria a seleção " disse Sandro.

Na entrevista coletiva que concedeu no dia seguinte à convocação, em Volta Redonda, Dedé deixou claro estar consciente de que alcançar o sucesso na Seleção Brasileira vai muito além de ser chamado. "Minha hora chegou, mas ainda é cedo para me sentir um vitorioso. Um objetivo eu conquistei, que era ser convocado. O que vou buscar agora é me firmar e chegar à Copa", afirmou, sem esconder o quanto a convocação lhe fez bem: "Minha ficha está caindo aos poucos, parece um sonho".

Dedé quebrou o jejum de cinco anos do Vasco sem jogador na seleção. O último a vestir a amarelinha foi o meio-campo Morais, convocado na estréia de Dunga, em 2006. Sua convocação teve também significado especial para o Voltaço, pois se tornou um estímulo aos garotos da divisão de base. "Eles terão em quem se espelhar, além de saber que é possível alcançar o sonho de viver do futebol", afirmou o presidente Rogério Loureiro.

Ressaltando que, para chegar onde está, teve que "comer muito arroz, feijão e angu frito", Dedé deixou alguns conselhos para quem está em times de menor porte, como o Voltaço, enfatizando que força de vontade e responsabilidade são palavras-chave para o bom rendimento no futebol: "Quem tem um sonho, não pode desistir dele. Para me profissionalizar, suei muito, para conseguir jogar então, nem se fala. Quem acredita, alcança, por isso aconselho que todos tenham responsabilidade, juízo e evitem ao máximo tudo aquilo que possa atrapalhar o rendimento dentro do campo".

Fonte: Foco Regional