Nesta semana o Blog traz para vocês uma entrevista com o ex-zagueiro Alemão, que atuou com destaque no Vasco na temporada de 2005. Neste bate-papo exclusivo ele fala sobre a carreira, a passagem por São Januário, a vida pós-futebol e muito mais. Vale a pena conferir.
Nome: Sandro Helio Muller
Posição: zagueiro
Nascimento: 27/05/1976
Local: Rio de Janeiro (RJ)
Altura: 1,84m
* Você chegou ao Botafogo aos 9 anos e com 19 subiu para o time adulto. Nem sempre é fácil para um jogador vindo da base, obter seu espaço nos profissionais. Quem foi o primeiro treinador a te dar a oportunidade de atuar?
Em 1995, o Paulo Autuori me puxou para o time de cima, onde fiquei treinando, fazendo parte do elenco que foi campeão brasileiro, mas sem atuar. O primeiro jogo no profissional foi em 1996, com o professor Ricardo Barreto, contra o Vasco em Brasília. Vencemos por 2x1, gols do Túlio e do Sérgio Manoel. O supervisor da época, Sr. Antônio Clemente, foi importante para que eu tivesse essas chances.
No Estadual, fiquei mais no banco e com a reformulação que foi feita em seguida, tive mais oportunidades de jogar. Nesse ano fizemos uma excursão na Europa e ganhamos um título na Rússia e outro na Espanha, o Teresa Herrera.
Um jogo marcante foi contra o Flamengo em 1997, quando jogamos com o time todo de reservas e já davam a vitória deles como certa, inclusive o Eurico, já que o Vasco precisava do resultado. Ganhamos por 1x0, estádio era 90% de torcida deles e ainda tinham Romário e Sávio.
* Após sair do Alvinegro, você rodou por alguns Clubes menores, até chegar ao Vasco em 2005. Chegou a temer que não tivesse outra oportunidade de atuar em um Clube grande?
Não cheguei a ter medo, porque quando fui para o Arraial do Cabo e para o Moto Club foi por parceria com o Botafogo, que mandou para lá os jogadores pouco aproveitados. Para o Brasiliense fui emprestado e recebi o meu passe em troca da dívida que o Botafogo tinha comigo.
Depois fui para o Torrense de Portugal, em seguida para o Cachoeiro, do Espírito Santo, onde passei apenas um mês, até acertar com o Volta Redonda.
* A campanha do Volta Redonda em 2005 foi surpreendente e abriu as portas para vários jogadores daquele elenco. O que aquele time tinha de diferente para conseguir chegar tão perto do título estadual?
A diferença era a união do grupo. O próprio Túlio, que era o jogador mais famoso do grupo, não tinha estrelismo e o Dario Lourenço na época tinha o time nas mãos. Todos queriam vencer juntos, sem querer aparecer mais do que o outro. Como o grupo tinha qualidade, só faltava a oportunidade. A estrutura do Volta Redonda também é muito boa, tem centro de treinamento, academia própria, feitos na gestão do presidente Rogério Loureiro, que fez o Clube crescer muito.
* Ao chegar ao Vasco, o time tinha feito uma campanha pífia no Estadual e na Copa do Brasil. Como estava o clima do Clube na época?
Tinha uma pressão normal, como todo Clube grande que é eliminado por time pequeno. Não chegou a ter invasão de torcedores. A torcida ganhou esperança com a contratação de uma nova comissão técnica e de jogadores que tinham se destacado no Estadual.
* Você veio junto com o treinador Dario Lourenço, que acabou caindo no decorrer do Brasileiro, para entrada do Renato Gaúcho. Acredita que isso contribuiu para que não tivesse uma continuidade no time titular?
Quando houve a troca de treinador, o Renato utilizou os jogadores trazidos por ele, com os que estavam na época do Dario tendo menos chances. Ainda assim, acabei tendo oportunidade de jogar com ele, mas acabei saindo do time por uma contratura na região lombar em uma partida contra a Ponte Preta em São Januário. Quando retornei da lesão, outros jogadores estavam com ritmo de jogo e acabei entrando em alguns jogos, mas sem ter sequência.
* Só de zagueiros, o Vasco utilizou mais de 10 no período que você esteve no Clube. Acredita que as constantes mudanças contribuíram para que o time frequentasse por muito tempo a parte de baixo da tabela e tivesse a segunda defesa mais vazada da competição?
Contribuiu muito, porque você precisa achar seu esquema defensivo e focar naquilo, pois sem sequência não tem entrosamento. Eu por exemplo, nesse período, tive vários companheiros, sendo que o que mais joguei foi o Fábio Braz.
* Como era a convivência com Romário, um dos maiores ídolos da história do Vasco?
No início tínhamos uma convivência boa. Mas ele teve um atrito com o Dario e por ele achar que eu era jogador do treinador, passamos a ter uns atritos. Depois sentamos, conversamos e passamos a nos tratar de forma apenas profissional. Como ele tinha muita força no Clube, isso foi uma das coisas que me desanimou a ficar no Vasco.
* Como eram as condições de trabalho? Os salários eram pagos em dia?
Nós treinávamos em São Januário ou no Vasco-Barra. A sala de fisiologia era muito boa, o departamento médico, musculação, vestiário, concentração dentro de São Januário, tudo de primeira. Tínhamos também uma alimentação perfeita e na parte de estrutura, o Vasco não deixava a desejar a ninguém. Quanto aos salários, os atrasos atrapalharam um pouco aquele grupo.
* Que balanço faz da sua passagem por São Januário?
Acrescentou muito ter jogado em um Clube maravilhoso, uma instituição maravilhosa, que levo no coração. Foi um aprendizado de vida, tanto como atleta quanto como homem, além dos amigos que fiz no Clube. Mesmo com algumas inimizades, fiz mais amigos que inimigos. O Vasco é um Clube maravilhoso dese jogar e de se trabalhar. A torcida é de outro mundo, fiel, não pára de cantar um minuto, tem que respeitar, São Januário é um Caldeirão. Com a torcida eu tinha moral, às vezes o pessoal da Força Jovem vinha falar comigo que era para o treinador me colocar de volante.
* Após sair do Vasco, como foi a carreira do Alemão?
Fui para o Vitória-BA, disputei Campeonato Baiano e Série C, quando subimos para a Série B no fim de 2006. Então voltei para o Volta Redonda e em 2007 disputamos o Estadual, Série C e Copa Rio (campeão). Em 2008, ainda no Volta Redonda, vencemos o Vasco por 2x1 em São Januário, quando recebi da diretoria uma proposta para voltar, o que acabou não acontecendo por causa da dívida de 2005, além de exigências do Volta Redonda.
Em 2009, disputei o Estadual pelo Mesquita, mas o Clube não honrou seus compromissos e antes mesmo do fim do Campeonato saí. Tive propostas para o segundo semestre de times como Fortaleza, Paraná e Macaé, mas não pude aceitar por problemas familiares.
No Carioca de 2010 fui para o Olaria e após essa competição o desânimo com o futebol me levou a parar.
* E hoje em dia, ainda está envolvido com o esporte?
Trabalho na Beija-Flor de Nilópolis, coordenando o projeto Rio2016, do governo do Estado em parceria com a Beija-Flor, único no Rio voltado para deficientes físicos. Lá oferecemos aulas de futsal, basquete e natação, para crianças a partir de 7 anos.
No ano passado joguei Showbol pelo Botafogo, campeonato carioca, Rio-São Paulo e Brasileiro. Nesse ano já disputamos o Estadual e o Brasileiro está para começar.
* Dos jogadores que trabalhou na época de Vasco, mantém contato com algum?
Às vezes a gente encontra alguém no Showbol, mas nada muito constante. Tenho mais contato com o pessoal da época do Botafogo. Todo fim de ano fazemos um encontro da galera que jogou junto na base.
* Tem acompanhado o momento do Vasco? Qual sua opinião sobre os zagueiros do time atual?
A fase atual do Vasco é excelente porque está vindo de um título importante que é a Copa do Brasil, com um elenco muito bom, mesclando a juventude e a experiência. Tem a volta de um ídolo como o Juninho Pernambucano, que veio com uma prova de amor ao Clube que é ganhar um salário mínimo e durante o período que tive no Clube, presenciei a moral que ele tem com todos.
Sobre a dupla de zaga, é a melhor do Rio disparada e uma das três melhores do país. São dois jogadores de futuro promissor que podem chegar facilmente à Seleção Brasileira. Facilita também ser dirigido por um grande treinador como o Ricardo Gomes, que foi um grande zagueiro e passa o atalho para os caras. Joguei com os dois e são excelentes profissionais, muito na deles, gostam de trabalhar por isso estão vencendo na vida.
O Blog agradece a atenção e solicitude desse grande profissional e deseja toda a sorte na sua vida pós-futebol. Fica o lamento por ele não ter podido colaborar mais com nosso Clube, com suas qualidades técnicas e pessoais.
Fonte: Blog O sentimento não pode parar