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Cientista inglês analisa formas de cobrança de faltas de Juninho


Terça-feira, 05/07/2011 - 10:21

Quando se fala em Juninho Pernambucano, logo vem à memória do torcedor vascaíno o gol de falta marcado contra o River Plate, no empate por 1 a 1 pela semifinal da Taça Libertadores de 1998, considerado por muitos o gol do título naquela competição. Mas basta dar uma breve pesquisada na carreira do jogador para constatar que os gols de falta são, na verdade, uma especialidade do Reizinho da Colina (veja no vídeo ao lado oito obras-primas do camisa 8).

O físico inglês Dr. Ken Bray, da Universidade de Bath, na Inglaterra, gerou discussão ao afirmar que Juninho era o melhor cobrador de faltas da história em trecho do livro “How to Score: Science and Beautiful Game” ("Como Marcar: Ciência e Jogo Bonito”, em português), de 2009. O GLOBOESPORTE.COM entrou em contato com o cientista para saber detalhes de sua tese. Segundo ele, existem três tipos de cobrança de falta: com "topspin", assim como no tênis; com "sidespin", com efeito de lado; e a chamada "knuckleball", que, mesmo com pouco efeito, apresenta uma movimentação imprevisível e se assemelha a um arremesso de beisebol:

- Existem três diferentes técnicas utilizadas para cobranças de falta no futebol moderno. Eu digo que Juninho é o melhor cobrador de faltas de todos os tempos porque ele pode explorar todas elas. Podem haver jogadores, como Beckham e Cristiano Ronaldo, que se tornaram especialistas em um determinado método, mas nenhum atingiu a mesma capacidade técnica de Juninho em ser capaz de aplicar todos os três - afirmou, em entrevista por telefone e por e-mail.

Confira o infográfico com detalhes do gol de falta de Juninho contra o River Plate:



De acordo com o físico, atualmente são poucos os jogadores que chutam a bola com pouco ou nenhum efeito. O mais comum nas cobranças de falta é o "sidespin":

- A maioria dos cobradores de falta desvia a bola, chutando-a rápido, com "spin" (giro ou efeito de rotação). O tipo mais fácil de giro para se aplicar é o "sidespin", em que a bola roda, como um pião, sobre um eixo vertical. Ela, então, move-se fortemente para um dos lados durante a trajetória, dependendo se é chutada por um jogador destro ou canhoto.

No entanto, a marca registrada de Juninho é, sem dúvida, a falta cobrada com "topspin". O meia se caracterizou por marcar gols, muitos deles de longa distância ou com pouco ângulo, batendo na bola de uma forma em que ela faz um rápido movimento de cima para baixo, pegando os goleiros de surpresa. Um bom exemplo é o gol marcado contra o River Plate.

- Existem alguns jogadores, como Didier Drogba, que podem chutar a bola com "topspin". Isso é muito difícil de se fazer com a bola no chão, mas, se esse tiro sai, ela vai mergulhar, tornando-se desconcertante para o goleiro. O "topspin" também atinge uma velocidade muito maior do que o "sidespin", porque ajuda a empurrar a bola para baixo, assim como é feito por jogadores de tênis.

O cientista ainda explicou a técnica inspirada em arremessos de beisebol: a "knuclkeball", que é bastante utilizada pelo português Cristiano Ronaldo, do Real Madrid:

- Finalmente, existem cobranças de falta em que, paradoxalmente, a bola é chutada quase sem "spin" e, mesmo assim, atinge muita velocidade. Nesse caso, as forças aerodinâmicas constantemente mudam de direção e tendem a mover a bola durante a trajetória. Isso acontece porque a bola moderna é constituída de poucos gomos. A da Copa do Mundo de 2010, por exemplo, tinha apenas oito painéis, enquanto a da Copa de 2006 tinha 14. Assim, a trajetória da bola se assemelha a um método especial utilizado por alguns "pitchers" (arremessadores de bola, no beisebol), que a lançam com muito pouco efeito. Esse arremesso com a bola de beisebol, que tem apenas dois gomos, é chamado de "knuckleball", cuja movimentação é imprevisível. Estamos vendo esse termo cada vez mais utilizado no futebol: Cristiano Ronaldo explora a técnica muito bem, e replays em slow-motion revelam que ele aprendeu a chutar a bola quase sem "spin".

Ken Bray, que considera o também inglês David Beckam o segundo maior cobrador de faltas de todos os tempos, logo abaixo de Juninho, lamentou o fato de o brasileiro ter deixado o futebol europeu - após oito temporadas no Lyon, ele saiu em 2009 rumo ao Al Gharafa, do Qatar, onde permaneceu até o fim de maio. A esperada reestreia pelo Vasco será nesta quarta-feira, a partir das 21h50m (de Brasília), contra o Corinthians, no Pacaembu. Se depender do físico, a torcida cruz-maltina pode esperar grandes momentos de seu camisa 8:

- É uma grande pena que os torcedores europeus não possam mais ver Juninho de perto, mas tenho a certeza de que os torcedores do Vasco vão saborear suas habilidades na produção de gols de falta espetaculares. Aos 36 anos, ele pode não atuar sempre durante os 90 minutos, mas é um grande jogador para se ter no time quando se está no meio de um jogo equilibrado, em que apenas uma cobrança de falta espetacular pode vazar o gol adversário. Nesse ponto, a idade em nada vai interferir. Por tudo isso, acredito que a próxima geração de jogadores de futebol pelo mundo faria bem se estudasse as cobranças de falta de Juninho.

Fonte: GloboEsporte.com