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Presidente da Emop comenta obras do Maracanã para a Copa do Mundo


Domingo, 26/06/2011 - 13:46

Presidente da Empresa de Obras Públicas do Rio de Janeiro (Emop) desde o primeiro governo de Sérgio Cabral, o engenheiro Ícaro Moreno Júnior costuma dizer que, de tantas exigências e caciques com voz de comando sobre o Maracanã, refomá-lo tem sido como fabricar um avião em pleno voo. A metáfora, por si só, explica por que a atual reforma pode não ser a última, e o custo, de R$ 931,8 milhões, definitivo. Diante das ressalvas da Fifa e da “folga” de 18% em relação ao aumento permitido pela Lei das Licitações, de 50% do orçamento original (R$ 705 milhões), Ícaro deixa claro que projeto e custo estão sujeitos a mudanças no futuro, embora não seja esta a intenção. Ele lamenta a falta de discussão sobre uma obra tão grandiosa e revela que a decisão de cobrir 95% dos assentos do novo estádio foi de Cabral, não exigência da Fifa.

Desafios do processo

“O Maracanã foi feito com paradigma de 1950. Copa do Mundo de 2016 (confundiu-se com o ano das Olimpíadas do Rio) é paradigma de 2016. Arquitetura, lógica, engenharia são muito diferentes hoje. Tem também a nossa legislação. A Fifa atualiza o Caderno de Encargos depois das Copas. O atual saiu em março. Viemos adaptando uma porção de coisas. Eles tinham um prazo para fazer modificações, até 15 de junho, porque a gente forçou. Aí congela. Se não licito lá no (projeto) básico, não posso nem pensar em terminar em dezembro de 2012.”

Orçamento sempre aberto

“Mexi em projetos. O que tinha no básico, mexi para o executivo. A legislação brasileira te dá margem de até 50% (de aumento no orçamento de licitação). Gastamos 28% (na verdade, 32%). Ainda temos uma folga, mas não vamos gastar, a não ser que a Fifa faça exigências. Esse congelar é entre aspas. Pedimos e ela aprovou o projeto, fazendo ressalvas de colocar questões para frente. Claro que vai ter um momento em que ela vai colocar e a gente vai dizer não, por falta de tempo e dinheiro.”

Fifa autoritária

“Você tem vários caciques com comando no processo, e tem que argumentar, buscar bom senso, equilíbrio, e executar no prazo. É a dificuldade. A Fifa preponderou, senão não aprova. Quando você se credencia, está jogando o jogo. Se é para dizer não ao jogo da Fifa, então não se credencia. São Paulo estava quase fora. Nosso governador vai botar dinheiro, está bancando. Ele quer, está apostando.”

Exigência ou recomendação

“A Fifa é sutil. No caderno fala recomendação, mas entenda como exigência. Estamos credenciando o Maracanã para a final. Ela recomenda que o estádio seja todo coberto, não determina. Tem uma parte que ela força mais, para que os convidados vips fiquem em local coberto, do lado oeste (antiga tribuna de imprensa). Aí é exigência. Não dá para se credenciar para a final e não ser todo coberto.”

Nova cobertura

“É para tudo (Copa e Olimpíada), e também um desejo do governador. O que ele coloca está certo. Por que vou cobrir só o lado oeste? E o povo? Vai tomar chuva, sol? Vamos levar esse conforto também para a população. Pegava-se chuva direto, sol na cara, principalmente do lado leste. Então o governador falou: vamos cobrir o máximo que você pode. É conforto e qualidade para quem está no estádio.”

Decisão de demolir

“Primeiro, íamos manter a marquise. Resolvi fazer uma investigação. Quando recebi o relatório, fiquei espantado. Aí fomos a quatro universidades, uma internacional e três do Brasil, e o diagnóstico foi demolição. Ainda questionei, mas não tem como. A vida útil dessa arquibancada está terminal. Fui ao governador e decidimos: vamos demolir. A recuperação era uma fortuna, teria que fazer monitoramento a vida eterna. Foi duro, mas é o que tem de ser feito. Tanto que o caminho mais crítico para terminar é esse.”

Ampliação da cobertura

“Como a Fifa só exige o oeste (coberto), ia fazer só o oeste. Aí me perguntei: se tinha 50% do Maracanã coberto, vou passar a ter menos? Que reforma é essa? O Maracanã ficou 25% mais caro (na verdade, 32%), cobrindo 95%, com uma tecnologia supermoderna, de ponta, que servirá para outras arenas daqui. O Maracanã estará para o mundo como estamos para o futebol.”

Reforma definitiva?

“É. Vai se fazer o evento (Jogos de 2016) nas condições que tiver. Por exemplo, a lona (tensionada) tem capacidade para 10 toneladas na ponta. Então não vai querer botar 30. A abertura norte (acesso à arena atrás do gol onde ficava a torcida do Flamengo) é fundamental para 2016, uma abertura direta para a Radial Oeste, por onde vão entrar os carros alegóricos, as delegações nas cerimônias de abertura e encerramento.”

Pira olímpica

“Quem projetar o evento, terá que criar (um local). Pode ser no meio do gramado, por fora... Não está definido onde ficará. Hoje, não tem nada programado, nem intenção nossa de fazer uma nova obra. Agora, as outras exigências técnicas estão atendidas. Estamos trabalhando com as exigências da Fifa e do COI.”

Falta de debate

“Uma obra desta natureza exige tempo de reflexão. E houve pouca. Não temos tempo, (a Copa) está aí. Em tecnologia, estamos devendo há muito tempo. Em Berlim, deram um salto de dois degraus. Aqui, será de 30.”

Problema no gramado

“Quando você cobre (o estádio), diminui a incidência de sol e água. E a grama depende disso para ser forte, rica. Vamos fazer uma drenagem com mais capacidade de absorção de água, mas que irrigue melhor pela falta de sol. Por outro lado, se usar aquele aquecedor que os europeus usam para a grama, os técnicos dizem que o tipo de grama do Sudeste não resiste. A que resiste mais ao frio não é propícia ao clima daqui. Essas e outras questões estão sendo discutidas.”

Estádio mais caro da Copa

“Não acho caro. É o preço da modernidade, de se adaptar um estádio de 1950. Agora, ficará por quantos anos, mais 50? Aí é manutenção. Se não mantivermos, aí é caro.”

Fonte: Extra online