A década de 90 foi marcada por títulos, vitórias, conquistas e a revelação de diversos craques, como Edmundo, Valdir, Pedrinho, Felipe e etc. Porém, algumas outras jovens promessas acabaram ficando pelo caminho em razão de fatalidades. O caso de Vítor se encaixa bem nisto. camisa 10 do time campeão da Copa São Paulo de juniores em 92, o meia teve sua carreira precocemente interrompida devido uma grave lesão no joelho. Conheça melhor sua história.
Agradecimento especial ao leitor Fabiano Branco, que nos passou o contato do ex-jogador.
Vítor, como foi o seu início de carreira?
Comecei no Futsal em Cabo Frio no Tamoyo E.C e disputando um torneio de verão em Cabo Frio jogava com 14 anos na Categoria Infanto Juvenil e neste torneio enfrentamos o Fluminense (4X4 onde fiz os 4 gols) e o Flamengo (vencemos 4X1 e fiz 2 gols) e o técnico do Fluminense me convidou para ir jogar no Fluminense e eu aceitei. A notícia correu na cidade e um Diretor do Vasco me conheceu e ficou sabendo que sou vascaíno. Ele me convidou para fazer um teste no clube, o que prontamente atendi deixando o Fluminense de lado , pois meu sonho sempre foi jogar no meu time de coração. Fiz o teste no Vasco e arrebentei sendo aprovado logo no 1º treino e uma semana depois eu já estava federado jogando contra o Botafogo, daí em diante foram muitos títulos nas categorias de base até me profissionalizar em 1992.
Em 1992 você conquistou a Taça São Paulo de Juniores pelo Vasco. Qual o momento mais marcante desta decisão para você?
Com certeza foi na disputa de pênaltis pois fui o primeiro a bater e o Pacaembu lotado, a pressão de nunca ter conquistado este título (aliás o Vasco só tem esta conquista), jogando contra o São Paulo que tinha um timaço onde muitos também se profissionalizaram e graças a Deus saímos vencedores.
Muitos dos atletas campeões na base em 92 subiram e se firmaram no time principal, alguns inclusive se tornando ídolos do clube como Pimentel, Leandro Ávilla e Valdir. O que você considera o grande motivo por não ter conseguido manter uma regularidade nos profissionais do Vasco?
Tive nos 2 primeiros anos uma concorrência e tanta na minha posição. Dois jogadores com nível de seleção brasileira, que eram o Bismarck e o William, mas estava sempre entrando nos jogos e entrava sempre bem. Em 1994, o Bismarck foi vendido após o Campeonato Carioca e assumi a condição de titular no Campeonato Brasileiro, tendo uma sequência de jogos. No jogo contra a Portuguesa tive uma contusão séria onde rompi os ligamentos do joelho direito. Passei por uma cirurgia com prazo de volta de um ano e infelizmente nesta cirurgia peguei uma infecção hospitalar onde corri até o risco de ter a perna amputada. Graças a Deus não perdi minha perna, porém fiquei com seqüelas gravíssimas da infecção e isso me atrapalhou muito quando voltei a jogar, pois meu joelho incha com qualquer contato. Isto acabou culminando com o meu precoce final de carreira aos 25 anos de idade.
Em 93 você teve a oportunidade de fazer parte do grupo bicampeão carioca. Na época, Geovani e Bismarck eram os titulares da meia. Como foi essa experiência com estes craques e teve alguém em quem você se espelhasse ou achasse o seu estilo de jogo parecido?
Muita gente falava que meu estilo de jogo era muito parecido com o do Bismarck e de certa forma, ele era uma referência para mim, pois cresci assistindo o Bismarck arrebentando no Vasco e nas Seleções de Base, mas sem sombra de dúvida meu grande ídolo sempre foi o Roberto Dinamite.
Você teve a oportunidade de conviver com Dener em sua breve passagem pelo clube em 94, antes de falecer tragicamente num acidente de carro. Como foi jogar e treinar ao lado de um craque como este e como foi que aquele grupo conseguiu se reabilitar após a morte do atacante e seguir até o tricampeonato carioca?
O Dener era um jogador de raro talento. Recordo-me de um jogo que fizemos contra o New Old Boys na Argentina , time em que o Maradona jogava na época, e ele conseguiu simplesmente ofuscar o Maradona arrancando aplausos de pé da torcida e olha que o jogo foi na Argentina, em Rosário. Infelizmente ele veio a falecer e principalmente eu senti muito a perda do Dener, pois eu concentrava no Hotel dividindo quarto com ele já alguns meses e aí tivemos uma grande amizade. O nosso elenco sentiu muito a falta do Dener e nos motivamos a ganhar o Tri em 94 para oferecer a ele, grande amigo e grande jogador.
No início de 94 o Vasco foi à Argentina realizar alguns amistosos e você estava no grupo. Os jogos foram contra os New Old Boys que contava com Maradona em seu elenco. Como foi enfrentar um jogador como ele? Era um sonho seu?
Realmente foi um momento especial na minha carreira, lembro que no intervalo do jogo eu e o Jardel fomos tirar foto com o Maradona e parecíamos crianças diante dele tamanha a admiração de estarmos tendo a oportunidade de jogar contra um dos maiores jogadores da história.
Neste mesmo ano você chegou a atuar algumas vezes como titular e inclusive marcou um gol contra o Bahia pelo Brasileiro. Você se lembra bem deste gol? Como foi?
Joguei no Brasileirão vários jogos como titular e acabei me contundindo depois do jogo contra a Portuguesa em Juiz de Fora. Neste jogo contra o Bahia foi um gol que fiz em São Januário em um chute de longe que resvalou no pé do zagueiro e entrou no ângulo, foi um bonito gol.
Depois que saiu do Vasco, quais outros clubes você defendeu?
Ainda como jogador do Vasco após todo o processo traumático da minha cirurgia no joelho, a questão da infecção hospitalar me tirou mobilidade, confiança e explosão muscular e segundo os médicos eu teria poucas chances de voltar a jogar em alto nível, aí fui emprestado ao Olaria no início de 96 junto com outros jogadores do Vasco como Ricardo Rocha, Charles Guerreiro, Pedro Renato, Hernande, Cláudio Gomes, Bruno Lima, porém vivia com o joelho inchado e atuei poucas vezes, quando voltei do empréstimo fiquei ainda mais seis meses lutando para me reabilitar e apenas treinando até que no final de 96 saí definitivamente do Vasco. Fui convidado a tentar uma nova chance de voltar a jogar em 1997 pela serie B do Campeonato Paulista pela Francana e voltei a ter sérios problemas no joelho o que me fez decidir por encerrar a carreira no meio de 97 após o primeiro semestre quando ainda tinha apenas 25 anos.
Como anda a sua vida hoje em dia, no que vem trabalhando? Pretende continuar no meio do futebol?
Desde Julho de 97 voltei a minha cidade natal, Cabo Frio e literalmente comecei do zero. Foram momentos difíceis, pois apostei toda minha juventude no futebol. Comecei a trabalhar no ramo imobiliário, estudei e hoje sou Corretor de Imóveis em Cabo Frio. Gostaria muito de voltar a trabalhar no futebol, pensei em montar uma Escolinha mas meu tempo não me permite e quem sabe um dia apareça alguma coisa ?
Mande um recado à torcida vascaína!
Galera vascaína, parabéns pelo título da Copa do Brasil, vocês merecem , o Dinamite merece e acima de tudo o Clube merece por sua grandeza e para resgatar o orgulho de todos em torcer por este que é um dos maiores clubes do mundo, o nosso querido Vascão, que sofreu tantos anos por culpa de más administrações. Tenho certeza que vem muitos títulos pela frente e agora com o Juninho (meu grande amigo e parceiro em 96 quando voltei ao Vasco do Olaria) tudo tende a melhorar. Obrigado por tudo torcida vascaína que sempre me apoiou e tenho a consciência tranqüila que fiz o meu melhor pelo Vasco conquistando vários títulos enquanto meu joelho permitiu. Um grande abraço a todos e foi um prazer conceder esta entrevista.
Fonte: Blog Boteco do Portuga