Tamanho da letra:
Dedé passou de quase dispensado a referência em pouco tempo no Vasco
Quinta-feira, 16/06/2011 - 12:27
Contra o Vitória, no ano passado, pela Copa do Brasil, Dedé finalmente recebeu uma oportunidade no time titular num jogo decisivo. Até então, era a última opção, mas por circustâncias de lesão e suspensão, teve sua chance. Na época, era conhecido como o zagueiro atabalhoado que acidentalmente machucou Carlos Alberto na véspera da semifinal da Taça Guanabara, contra o Fluminense. Poucos imaginavam que ele fosse mudar em campo este panorama. Mas foi o que o jogador fez. Hoje, Dedé virou ídolo e os mesmos torcedores que o xingaram sonham com a sua permanência no Vasco pelo menos até a Libertadores do ano que vem.
De lá para cá, Dedé só cresceu. Ano passado, terminou com o prêmio de melhor zagueiro do Campeonato Brasileiro. Este ano, foi novamente premiado no Campeonato Carioca. Tudo isso com muita raça e disposição em campo. Consequentemente, o assédio europeu está cada vez maior. Até o momento, nenhuma definição sobre o futuro, mas há pelos menos três sondagens, sendo uma delas do Benfica. Para alívio dos torcedores, que antes mesmo de pedir autógrafos já gritam para ele continuar, Dedé já adiantou que sonha disputar a Libertadores. Mas sabe que a decisão não depende só dele.
- Como não vou querer jogar a Libertadores depois de tudo que passei para conquistar a Copa do Brasil? Quero mais. É uma competição que só agrega ao currículo. Mas as sondagens existem, e eu fico muito honrado. Procuro ficar de lado nesse assunto, principalmente porque não me passaram nada de concreto. É uma situação que passa por diversas partes. Eu me preocupo apenas em ajudar o Vasco. Gosto muito do clube - afirmou.
A permanência no Vasco seria um trunfo na luta pelo principal sonho na carreira: chegar à Seleção Brasileira. Nesta semana, o técnico Mano Menezes falou abertamente que o zagueiro pode receber uma chance caso mantenha o alto nível. Dedé mal acreditou quando os amigos falaram. Precisou ver com os próprios olhos. E, ao perceber que realmente eram elogios, tratou de repetir o vídeo mais de 20 vezes. Agora ele vê o sonho ganhar contornos de realidade.
- Vou buscar isso ajudando o Vasco. Foi inacreditável ouvir os elogios da boca do Mano. Lá no clube, os meus companheiros falaram e eu não acreditei. Pensei: "Ou é bomba, ou é o que eu sempre quis escutar". Quando vi o vídeo vibrei muito. E a repercussão da torcida foi impressionante. Pelo Twitter a campanha ganhou força.
O apoio da torcida, por sinal, mexe e muito com o jogador. Dedé falou sobre este e outros assuntos. Inclusive sobre Rodrigo Caetano, um de seus maiores críticos - e incentivadores - no clube. Sobrou até apelido para o sempre sério diretor de futebol. Confira abaixo a íntegra da entrevista.
A conquista da Copa do Brasil foi um marco para o Vasco. Esperava aquela reação da torcida quando vocês desembarcaram no Rio?
- Eram onze anos sem um título nacional. Foi muito tempo sem uma alegria. A reação foi incrível na Copa do Brasil, imagina só em um título internacional como o da Libertadores? Foi muito legal ver a alegria do torcedor, isso motiva ainda mais para buscarmos novas conquistas. Ninguém está satisfeito. Temos um Brasileiro pela frente e não vamos entrar só para disputar.
Foi o seu primeiro título como profissional. Já deu para cair a ficha?
Olha, toda hora passa um filme do jogo na cabeça. Toda hora eu assisto à partida, que eu tenho gravada. Mesmo sozinho em casa, acabo ficando tenso. Quando o Willian pega a bola para chutar, torço para não entrar. Depois do gol tiveram duas bolas do Coritiba alçadas na área e eu grito para eu mesmo tirar (risos). Foi meu primeiro título, e isso é inesquecível. Não sei o que vou conquistar na carreira, mas sempre lembrarei daquele momento.
A sua rotina mudou com a conquista?
Nada. Continuo fazendo as mesmas coisas, só que hoje o pessoal me pede mais fotos e autógrafos, o que não é nenhum problema. Pelo contrário, acho muito maneiro esse calor humano. Outro dia fui ao shopping de chinelo e bermuda. Aí um torcedor disse para mim que eu era simples mesmo. Brinquei na hora dizendo que esta era a maneira educada de falar que eu estava mal-vestido (risos).
Você imaginava ter o sucesso que tem hoje depois de quase não ter tido o contrato renovado?
Tudo vira forma de motivação. Passei por muita coisa ruim. Ouvi boatos de que seria dispensado, depois tive uma proposta do futebol coreano e quase saí... Eu era a última opção, mas sempre acreditei. Revia os meus vídeos da época do Volta Redonda e sabia que precisava de uma oportunidade para mostrar o meu valor. Sabia da minha qualidade. Hoje em dia valorizo muito isso e sinceramente não sei se a ficha caiu.
A fatalidade com o Carlos Alberto ainda marca?
Até hoje tem gente que lembra daquilo. Foi um lance casual em um treino. Mas o Carlos Alberto era nossa principal referência, e isso acabou acontecendo na véspera da semifinal do Carioca. Não precisava ter sido falado tudo aquilo de mim. Foi difícil, mas dei a volta por cima.
Já dá para se considerar ídolo do Vasco?
A torcida diz que sim, mas não sei o que passa na cabeça deles. Veio a conquista da Copa do Brasil, que foi um momento histórico, mas ainda não me vejo no mesmo lugar de jogadores como Edmundo, Felipe e o Juninho Pernambucano.
Mas sua relação com a torcida é impressionante. A possibilidade de você sair já mexeu com eles, que criaram movimentos pedindo para que continue no Vasco por mais tempo...
É verdade e isso mexe. Antes de falar qualquer coisa comigo, os torcedores já dizem que eu não posso sair do Vasco. Dá ainda mais vontade de continuar. Mas eu sei bem que tudo é um conjunto de fatores.
Você se sente pronto para jogar no futebol europeu caso isto se concretize ou seria melhor passar mais tempo no futebol brasileiro?
Cresci muito neste período aqui no Vasco. Hoje eu me sinto pronto para encarar o futebol europeu. Mas tem uma Libertadores no ano que vem e isto acrescenta muita coisa no currículo. É uma competição diferente, mais um aprendizado. Mas não entro nesse assunto porque não chegou nada de concreto para mim. Minha cabeça hoje está somente no Vasco.
E a Seleção?
É meu grande sonho. Tenho como referência jogadores como Juan, Lúcio e Thiago Silva. Seria uma honra poder dividir o mesmo grupo com eles. Vi e revi os vídeos do Mano e vou continuar lutando muito para concretizar o meu sonho. Tudo isso sem perder o foco no Vasco.
No Vasco, o diretor de futebol, Rodrigo Caetano, sempre fez críticas construtivas no intuito de manter seus pés no chão e ver você subindo cada vez mais na carreira. Hoje em dia , depois de dois prêmios de melhor zagueiro e do título da Copa do Brasil, como é o discurso dele?
Pior é que continua assim! O baixinho pega mesmo no meu pé (risos)! Só que é o jeito dele mesmo. O Rodrigo é um cara sério. Mas também é muito chato de vez em quando (risos).
Fonte: GloboEsporte.com