Tamanho da letra:
|

Eurico Miranda: 'Não há hipótese de eu voltar ao Vasco'


Domingo, 12/06/2011 - 17:49

Eurico Miranda. Impossível falar o nome do advogado, que completou na última terça-feira 67 anos de idade, sem associá-lo ao Vasco. Maior e mais polêmico dirigente do clube e um dos mais contestados nomes do futebol brasileiro em todos os tempos, Eurico se orgulha de ter a imagem intimamente ligada à instituição, mesmo que hoje seja "apenas" presidente do Conselho de Beneméritos.

- Se você olha pra mim, vê que sou Vasco. Por isso que não preciso usar a camisa do time. Há pessoas que não sabem nem o meu nome, mas dizem: 'Aquele cara ali é Vasco' - se vangloria.

Nesta entrevista exclusiva ao jornal "MAIS", o ex-presidente vascaíno passa uma imagem totalmente diferente da que foi criada ao longo de sua carreira. O receio de estar em frente ao controverso personagem some à medida em que Eurico vai respondendo às perguntas e mostrando que é, sim, uma figura real.

Como está a sua relação com os torcedores?

A relação com o povão eu nunca perdi. A minha vida não mudou na maneira do que eu fazia, do que deixei de fazer. Eu saí da linha de frente, mas continuo. De vez em quando, as pessoas me telefonam, conversam, pedem opinião.

E a vida pessoal?

Em termos, mudou para melhor, em qualidade de vida. Só não digo que ela mudou para melhor efetivamente pelas coisas que tenho visto que tem acontecido com o Vasco. que me causam problemas interiores. Não consigo conviver com determinadas situações. Vejo uma transformação no Vasco que a mídia tenta colocar que é uma transformação para melhor, mas que a grande verdade é que está acontecendo um grande retrocesso. Hoje, o Vasco está em posição secundária, quando deveria estar na linha de frente em todos os aspectos. O Vasco não é vagão, é locomotiva. O Vasco puxa, não é puxado. Fora isso, que me perturba, está tudo bem.

Pensa em voltar ao comando do clube no futuro?

Na arena, não dá mais, não teria mais como, depois de tudo que aconteceu. Não há hipótese de eu voltar ao Vasco. O%. Não é zero, é abaixo de zero. Não tenho como superar uma determinada coisa. Teria que ser uma ressurreição, não há como ressuscitar. O problema é que quando aconteceu a grande catástofre para o Vasco que me atingiu diretamente, que foi a queda para Segunda Divisão, com o interesse da mídia, quiserem atribuir a culpa a mim. As pessoas dizem que se eu tivesse no Vasco, ele não cairia, mas eu fui o culpado de o clube cair. Mas eu publicamente me ofereci. Disse que assumia com plenos poderes no futebol e o Vasco não caía.

Mas, como não cairia? Tinha mágica?

Não tem mágica, tem conhecimento, que você adquire com o tempo. Me ofereci, não quiseram e passamos essa vergonha.

Como o senhor descreve o sentimento naquele dia (do rebaixamento)?

Tem coisas que não se descreve. Eu fui atingido mortalmente, como um gladiador. Foi um misto de revolta, indignação. Uma das coisas que mais me chocou foi como a torcida aceitou passivamente isso. Isso não é o Vasco. Criaram slogans de sentimento não pode parar. O sentimento é uma coisa que nasce com a gente.

De onde vem essa briga com a torcida do Fla?

A torcida do Flamengo me respeita. Ela sabe que eu não me escondia. Minha opinião pelo Flamengo sempre foi a mesma e não vai mudar. Eu nunca tirei a dimensão dessa rivalidade quando disse que ganhar do Flamengo é melhor do que uma relação sexual, é verdade. E era em todos os níveis, nos jogos do infantil, mirim, natação, basquete, vôlei. O Vasco não existia na natação, o Flamengo ganhava tudo. O Vasco foi dois anos seguidos campeão em tudo na natação. O maior prazer que tive foi fumar meu charuto e me jogar na piscina. Tinha prazer, ganhei do Flamengo.

Como ficava quando perdia? O que fazia?

Eu não bebo (risos). Pensava... Vai acontecer, vai ter a próxima.

Se tivesse um filho ou genro rubro-negro?

Não teria. Genro não entraria na minha casa. Transformaria antes de entrar. Minha filha sabe, meus filhos sabiam, meu netos são Vasco. Na minha casa, nunca entrou uma camisa do Flamengo, tenho amigos que torcem para outros clubes, mas na minha casa nunca entrou camisa de clube algum sem ser do Vasco. Se vocês viessem me entrevistar com a camisa do Flamengo, não iam me entrevistar. Você pode ser Flamengo, mas não venha demonstrar que é Flamengo aqui, comigo, no meu lugar.

O Vasco retribuiu na mesma proporção o que o senhor deu para o Vasco?

Eu faria tudo de novo. O Vasco é o Vasco. Talvez, vou falar uma coisa que não devesse, mas vou dizer, nessa tal troca. Em relação a mim, não deve. Mas em relação à família, é diferente. Sou casado com a minha mulher há 40 anos e deixei a família de lado muitas vezes pelo Vasco. Sofri ingratidões, não reconhecimento, agressões de toda natureza das pessoas do Vasco.

Como é o vovô Eurico?

Eles são muito pequenos. Mas não os deixo ver gol dos adversários. Não tem a menor chance. Os meu filhos devem ter sofrido por serem meus filhos, isso tem o ônus e o bônus. Talvez o ônus tenha sido maior do que o bônus. Mas eles entenderam.

Fonte: Mais