Quinze ônibus repletos de vascaínos deixaram o Rio de Janeiro na madrugada desta terça-feira rumo à Curitiba. Entre os fanáticos que pretendem acompanhar o primeiro título de expressão do Vasco após oito anos, um é emblemático. Luiz Fernando Nascimento Vilaça, de 23 anos, é o protagonista da imagem que resumiu o sofrimento dos cruz-maltinos, em 2008, ao subir na marquise de São Januário e, transtornado, lamentar a queda para a Série B do Brasileiro. Antes de embarcar na caravana, ele atendeu ao Correio e, em seu novo ambiente de trabalho, garantiu: “aprendi muito com aquilo.”
Dividindo a atenção com a reportagem em meio a contagem de um pão francês e outro, Luiz Fernando nem de longe faz lembrar a imagem do desesperado torcedor que quase não aguentou a dor do rebaixamento. Horas antes do embarque para Curitiba, ele ainda dava atenção aos clientes de uma padaria em Nilópolis, cidade onde mora, na Baixada. “Desculpa a correria, mas é que estou aqui trabalhando.”
Assim como toda a torcida vascaína a apreensão de Luiz Fernando é grande. Cheio de planos para um título de primeira divisão após oito anos, ele diz que não poderia estar de fora da festa. “Agora é a hora da redenção. Estamos vivendo uma emoção gigantesca. Amanhã (hoje) temos a chance de sermos campeões. Na sexta, o Juninho será apresentado. É uma alegria fora do comum”, vibra o torcedor.
Quase três anos após a cena que ele chama de “a maior loucura da vida”, Luiz Fernando busca nova vida. Içado pelos bombeiros de cima da marquise, ele diz que tudo serviu para abrir os olhos. “Não me arrependo. Acho que fiz o que muitos queriam fazer, mas não sabiam como chegar lá em cima. Para mim, tem a parte ruim que é a lembrança daquela tristeza. Isso fica para sempre. Mas também tem o lado bom, que é o quanto aprendi. Aprendi a dar mais valor a família, aos amigos que importam, ao trabalho”, garante.
A prova de que dá mais atenção ao serviço agora é a logística tramada por ele para poder ir ao Couto Pereira no meio de semana. Sem motivo relevante para apresentar ao chefe, Luiz Fernando pagou outra funcionária da padaria para que o cobrisse nos dois dias – para isso desembolsou R$ 50. "Poxa, gastei muita grana mesmo. Foram quase R$ 300 para estar lá. Mas vai valer à pena”, planeja, antes de recordar o episódio em São Januário. “Esse negócio de pegar folga mesmo, eu jamais faria antes daquilo. Eu simplesmente faltava e quando voltava era demitido”, revela.
Sem esquecer os clientes da padaria e adaptado ao novo costume de vida, cuja responsabilidade é uma das premissas, Luiz Fernando cortou a conversa: “Amigo, tenho que desligar agora. A padaria está muito cheia. Bom trabalho e tenho certeza de que aquele 1 x 0 vai fazer a diferença em Curitiba”, se despediu o agora confiante e responsável torcedor vascaíno.
Fora da sede
Membro de uma organizada do Vasco, antes de trabalhar na padaria Luiz Fernando ganhava dinheiro com serviços prestados a própria sede da torcida, entre outros bicos durante a semana.
Frase
"Para mim, tem a parte ruimque é a lembrança daquela tristeza. Isso fica para sempre. Mas também tem o lado bom, que é o quanto aprendi. Aprendi a dar mais valor a família, aos amigos que importam, ao trabalho"
Luiz Fernando Nascimento Vilaça, torcedor do Vasco
Saiba mais
Em 7 de dezembro de 2008, o Vasco foi derrotado pelo Vitória em São Januário e rebaixado para a Série B do Brasileiro. Após ser resgatado pelos bombeiros de cima da marquise, Luiz Fernando foi levado ao hospital Souza Aguiar e liberado logo em seguida. Dias depois, ele passou por tratamento psicológico, ao qual agradece até hoje.
Fonte: Superesportes