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Rodrigo Caetano faz balanço de seu trabalho no Vasco
Domingo, 05/06/2011 - 01:27
A final da Copa do Brasil entre Vasco e Coritiba, na próxima quarta-feira, vai colocar frente a frente dois dos melhores representantes da nova safra de dirigentes do futebol brasileiro. Com formação superior e especializações em seus currículos extracampo, Rodrigo Caetano, 41 anos, e Felipe Ximenes, 44, provam que no competitivo mundo do futebol não há mais espaço para amadores. Especialistas em reestruturação, eles reconduziram seus clubes à elite e resgataram a autoestima de cruzmaltinos e alviverdes. No bate- papo a seguir, a dupla revela um pouco da sua trajetória e filosofia de trabalho. Um deles terá seu trabalho coroado na decisão. Mas, pelo que já fizeram até hoje em seus clubes, nenhum deles vai deixar o Couto Pereira derrotado.
MARCA BRASIL: O que o fez aceitar o desafio de reerguer seu clube?
Felipe Ximenes: Cheguei ao clube em maio de 2009, mas, pouco mais de dois meses depois, teve uma mudança política e eu fiquei de agosto de 2009 até janeiro de 2010 afastado do comando do futebol. Sempre achei que seria um grande desafio para a minha carreira e tive a oportunidade de montar a estrutura do Coritiba sob alguns pilares básicos: mantendo a comissão técnica que fora rebaixada, readequando os níveis salariais e, principalmente, juntando todos os departamentos do clube. Tudo isso foi a base do trabalho.
Rodrigo Caetano: Quando aceitei esse desafio, eu estava em situação privilegiada no Grêmio, tinha sido vice-campeão brasileiro, tinha uma Libertadores e um elenco montado desde a saída da Série B, em 2005. Mas a questão de vir para o Rio, de abrir um novo mercado, de encontrar um Vasco em uma situação parecida com a que enfrentei no Grêmio, tudo isso era um desafio. A marca Vasco me fez aceitar.
MB: Na época, alguém te disse que era uma roubada?
F: Desde o primeiro momento, achei que era um grande desafio para mim e estava muito confiante. Sinceramente, não dei ouvidos ao que os outros falavam, sempre procurei escutar o Vilson Ribeiro de Andrade, vice-presidente do Coxa. Ele é responsável pela gestão de área do clube e me deu força para assumir o cargo.
R: Algumas pessoas próximas, sim. Na época, o Vasco tinha uma imagem de não honrar muito os compromissos, uma falta de credibilidade no mercado e isso foi a maior dificuldade que enfrentei no início da montagem daquele time.
MB: Quais foram as maiores dificuldades?
F: É difícil falar sobre isso. Peguei um clube rebaixado, mas, primeiro, busquei a conscientização de todos em cima do processo coletivo, o que é fundamental para qualquer projeto. Uma dificuldade é fazer as pessoas entenderem que estão vindo para fazer parte de um todo, de um projeto. A conscientização de que um grupo está acima do salário que elas ganham é fundamental.
R: Foi administrar as dificuldades financeiras. O atraso de salário foi o mais difícil, e você ter que liderar. Nunca deixei de fazer isso até porque eu sou remunerado também, estávamos todos na mesma situação. Sempre trabalhamos com muita transparência com os jogadores, e eles entenderam isso, sem fazer estardalhaço, sem fazer corpo mole. Tem um pouquinho de cada um deles nesta chegada à final. O nosso começo na Série A também foi muito complicado. Tivemos algumas perdas e não conseguimos os títulos em 2010. Mas aquele mau início colocou em xeque tudo o que fizemos. Tivemos que ter uma serenidade muito grande para reagirmos. Em 2010, em sete jogos, tínhamos cinco pontos. Neste ano, em dois, temos seis. Acho que o mau início do Carioca, com quatro derrotas seguidas, foi exceção. Mas dificuldade mesmo foi o início da Série A.
MB: Você mudou muito neste período desde que assumiu o cargo?
F: Acho que no mundo que estamos vivendo hoje temos que mudar muito para continuar sendo a mesma pessoa. Amadurecemos muito na derrota e ficamos mais preparados para alcançar as vitórias. A derrota te prepara para a vitória, não te deslumbra. Diferentemente da vitória que pode, às vezes, ser muito traiçoeira.
R: Eu amadureci muito, ganhei mais experiência. Tem muita diferença em ter uma tese de trabalho e aplicá-la. Eu cheguei imaginando algo e nestes dois anos e meio tive oportunidade de aplicar o que achava ser ideal. Estou há nove anos nessa função, me sinto muito mais experiente e preparado do que cheguei.
MB: Que modelo serve de inspiração para você como dirigente do clube?
F: Penso que qualquer formação de conceito de trabalho é feita com a soma de referências. Observava pessoas que eram referência na função.Eduardo Maluf, do Atlético-MG, Anderson Barros, do Botafogo, são profissionais importantes da nova geração e que gostaria de citar. Entre os mais rodados, estão Angioni e Isaías Tinoco, precursores nesta linha. Todos foram importantes para mim. E o fato de ter trabalhado como auxiliar-técnico do PC Gusmão me fez criar alguns conceitos de gestão. Mas, sem dúvida, aprendi muito com o Benecy Queiroz, supervisor de futebol do Cruzeiro.
R: Continua sendo o Ferran Soriano, do Barcelona (vice-presidente do clube entre 2003 e 2008), que é um modelo que deu certo. Claro que tem algumas questões de marketing envolvidas. Ele era um homem mais voltado para essa questão de negócios. A gente aqui fica um pouco mais restrito ao futebol. Mas eu procurei neste tempo todo variar as referências. Nunca deixei de lembrar do Bernardinho do vôlei, de quem eu sempre uso frases e modelos. O próprio Alex Ferguson (treinador e dirigente do Manchester United). Tem situações do José Mourinho, técnico do Real Madrid. Tudo isso para compilar e criar um método próprio. Como é uma função recente, criei um método próprio para quem sabe um dia ser também uma referência a ser seguida.
MB: Há semelhanças no trabalho de vocês?
F: Rodrigo é um grande amigo e é fácil de resumir o trabalho dele: é o melhor do Brasil na área de gestão de pessoas. É um prazer disputar uma final com ele. Acredito que tenhamos algo em comum, mas não dá para mensurar isso. Não tive oportunidade de trabalhar com ele, mas acho que uma diferença há: sou um cara um pouco menos agitado que o Rodrigo (risos)...
R: Vejo semelhanças no nosso trabalho. Primeiro no que diz respeito à relação. Todas as negociações que envolvem o Coritiba passam a credibilidade necessária, assim como aqui no Vasco. Ele também tem método de trabalho e aplica. Tem início na divisão de base e tem foco também na formação de jogadores.
MB: Este título será o coroamento do seu trabalho?
F: É duro a gente conviver numa cultura em que o resultado se sobrepõe ao trabalho. Estamos na quinta competição com o Coritiba, com três títulos conquistados. É duro a gente sempre ser questionado sobre isso. Mas o que dói mais é ver trabalhos não tão bons alcançarem sucesso. Ser campeão será uma alegria grande, mas sempre tive consciência de que o sucesso é a certeza absoluta de que você deu o máximo de você. Se vier com a vitória, com o título, vamos ficar mais felizes. Porém, se não vier, não vamos colocar em dúvida o nosso trabalho.
R: O título é fundamental tanto para o Coritiba quanto para o Vasco. Quem ganhar vai fechar um ciclo de dificuldade e vai iniciar um novo ciclo com outra perspectiva, vai ser um passo além e o passaporte para a Copa Libertadores. Não há como medir a repercussão para o clube. São contratos publicitários, receitas, planos de sócios... é incomensurável.
MB: Uma derrota colocaria tudo a perder?
F: Muito pelo contrário. Assim como a vitória não vai colocar um ponto final no que fizemos.
R: O futebol brasileiro só tem espaço para o vencedor. O que eu gostaria de frisar é que a derrota, seja para quem for, não deve invalidar todo este caminho percorrido. Foi um caminho árduo, difícil, foi com muita persistência, sacrifício, não pode ser invalidado. Se não for agora para um ou outro, pode ser ali na frente. Está muito mais próximo do que distante. E, se for colocado como se tudo estivesse errado, aumenta muito essa distância.
Fonte: Marca Brasil