Tamanho da letra:
Fernando Prass comenta que laser vindo da arquibancada atrapalha muito
Sexta-feira, 03/06/2011 - 16:48
Luz, câmera... paralisação. Virou rotina nos estádios. Em dias de jogos à noite, a torcida local costuma usar o artifício da luz a laser para prejudicar a visão, principalmente, do goleiro adversário. Apesar de ser tratado superficialmente pela comissão de arbitragem, um especialista ouvido pelo GLOBOESPORTE.COM avisa: o laser é muito perigoso e pode até levar à cegueira.
Na quarta-feira, em São Januário, o goleiro Edson Bastos, do Coritiba, não titubeou e, assim que o objeto começou a ser utilizado pelos vascaínos, solicitou ao árbitro Paulo César de Oliveira que paralisasse o primeiro jogo da final da Copa do Brasil. O juiz atendeu ao pedido e aguardou a resolução do problema. No entanto, no jogo contra o Cerro Porteño, em Assunção, Neymar não teve a mesma sorte e passou muito tempo perseguido pela luz nos olhos.
De acordo com o oftalmologista André Maia, médico da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o contato com o laser é muito perigoso.
- Há casos descritos de queimadura da retina e até perda da visão em pessoas que frequentaram festas "rave" e tiveram contato com raios laser desse tipo. Isso tinha que ser considerado arma e proibido nos jogos de futebol. A potência é muito alta e pode queimar a retina.
O laser com alcance de aproximadamente 300 metros custa em torno de R$ 50 e, na maioria das vezes, vem da China.
- Basta que a luz chegue dentro do olho, que é uma lente de 60 graus. O laser é concentrado no centro da visão, onde pode até cegar - destaca o médico.
Um árbitro, que preferiu não se identificar, contou que o assunto é pouco abordado pela Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol (Conaf). A discussão é superficial, sem qualquer determinação para, por exemplo, paralisar a partida. Os árbitros são livres para determinar, de acordo com seus critérios, as atitudes a serem tomadas.
- Para dizer a verdade, (a Conaf) aborda de maneira superficial e fica pelo bom senso do árbitro, dependendo do quanto está atrapalhando o jogo. Temos essa autoridade de paralisar - disse o juiz.
O GLOBOESPORTE.COM não conseguiu entrar em contato com Sérgio Corrêa, presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, para falar sobre o problema do laser nos estádios.
Polícia tenta coibir o uso
Assim que é identificado algum laser atrapalhando os jogadores, o árbitro comunica à Polícia Militar, que tenta encontrar de onde vem os disparos luminosos e coibir a ação. Algumas tentativas por parte da arbitragem, no entanto, são frustradas.
- Em um determinado jogo, foi pedido para anunciar no sistema de som do estádio, mas não fomos felizes. Vivi uma outra situação, em que estava como reserva e o árbitro percebeu primeiro. Ele me pediu para procurar o policiamento, que identificou de onde estava partindo. Mas é difícil para o árbitro ver. Geralmente quem observa primeiro são os reservas. E nesse caso o árbitro pode parar o jogo, que acho ser o melhor caminho, pois serve como advertência - contou o juiz, que não se lembra de ter sido atrapalhado por laser.
Edson Bastos admite malandragem para esfriar jogo
Afetado pela luz no primeiro jogo da final da Copa do Brasil, o goleiro Edson Bastos, curiosamente, disse que o raio não o atrapalhou tanto e que pediu a paralisação da partida para esfriar o time do Vasco.
- Naquele momento era bem nítido onde o laser estava. Era um tubo enorme e dava para ver bem. Realmente eu pedi para parar, pois acabou dificultando. Mas também foi mais o momento para esfriar um pouquinho o jogo, hora de usar a malandragem e da experiência. Aproveitar para acalmar um pouco, principalmente o início do jogo, o que era bem importante. Até para os mais novos entrarem na partida, passar aquela adrenalina, a ansiedade. (O laser) até que não atrapalha tanto - declarou o goleiro.
A opinião de Edson Bastos não é compartilhada por Renato, meia do Flamengo.
- Quando foca e acerta o olho, atrapalha muito, ainda mais quando é o verde. O vermelho, nem tanto. No jogo contra o Ceará atrapalhou na hora que fui cobrar uma falta. É como um flash de foto na visão - contou.
Adversário de Bastos na final da Copa do Brasil, o vascaíno Fernando Prass também se coloca no campo oposto quando o tema é o laser:
- Atrapalha muito. Conseguem mandar diretamente no olho e praticamente cega naquele momento. Quando estamos nos movimentando, é mais difícil acertarem, mas em faltas, por exemplo, é mais fácil mirarem o olho. Se for na hora exata da batida, prejudica.
Chamativo e perigoso, o raio laser verde acende a luz vermelha no futebol brasileiro.
Fonte: GloboEsporte.com