Recife foi o berço de um dos jogadores mais geniais da rica história do esporte bretão no Brasil: Ademir de Menezes. Apelidado de "Queixada" devido à mandíbula proeminente, o atacante foi o terror dos adversários de Sport, Vasco da Gama, Fluminense e da Seleção durante a sua trajetória excepcional e pioneira entre 1938 e 1956. Neste 11 de maio faz 15 anos que um câncer tirou a vida do craque, e o FIFA.com aproveita para homenagear o primeiro ponta de lança do futebol brasileiro.
Inovadora, a posição que dava liberdade para o jogador se movimentar no campo de ataque forçou os times a abandonarem os esquemas táticos com três zagueiros, comuns naquele tempo. A esperança era que uma linha formada por quatro defensores pudesse parar Ademir, um dos principais nomes do "Expresso da Vitória", como ficou conhecida a equipe do Vasco que conquistou o primeiro título internacional fora do Brasil — o Campeonato Sul-Americano de Clubes de 1948.
O grupo cruzmaltino também formou a base da Seleção Brasileira que venceu a Copa América pela primeira vez em 27 anos, em 1949. Ademir marcou três vezes na goleada de 7 a 0 no jogo decisivo contra o Paraguai, além de ter sido o artilheiro no Mundial do ano seguinte. Injustamente, talvez, a única Copa do Mundo disputada pelo atacante terminou com a trágica derrota por 2 a 1 para o Uruguai que tirou a taça dos brasileiros em pleno Maracanã. "Se o Brasil tivesse vencido aquela partida, o Ademir seria reconhecido como o maior jogador da história", afirmou certa vez o técnico Flávio Costa, que treinou o goleador no Vasco e no plantel canarinho de 1950.
Nascido no dia 8 de novembro de 1922, Ademir chegou a pensar em seguir carreira na medicina antes de assinar com o Sport em 1941. Logo na primeira temporada como profissional, anotou 11 gols e levou o clube ao título pernambucano. O que provocou a mudança para o Rio de Janeiro, porém, foi a impressionante atuação em um amistoso entre Vasco e Sport na capital carioca em 1942: o rubro-negro recifense perdia por três gols, mas virou para 4 a 3 com três de Queixada.
Quando chegou a São Januário, Ademir chamou a atenção primeiro pela aparência física: magricela, queixo saliente, cabelos pretos com farta brilhantina e um fino bigode. Mas a habilidade dentro das quatro linhas não demorou a sobressair. Cercado por grandes ídolos do Vasco da época, o ponta se destacava pelas arrancadas velocíssimas, pela força no jogo aéreo e pelos poderosos arremates de direita ou de canhota — fora, claro, os muitos gols.
Dois deles inspiraram o elenco vascaíno na goleada de 4 a 0 sobre o Madureira na penúltima rodada do Estadual do Rio em 1945, resultado que encerrou um jejum de títulos no Carioca que já durava nove anos. A apresentação teria levado o técnico Gentil Cardoso, recém-contratado pelo Fluminense, a fazer um famoso apelo à diretoria do clube das Laranjeiras: "Deem-me Ademir e eu lhes darei o campeonato." O Tricolor prontamente atendeu ao pedido, mas não sem desembolsar uma quantia exorbitante para tirá-lo de São Januário.
A passagem de Queixada pelo Flu foi curta, mas proveitosa. Além de conqusitar o título estadual prometido por Cardoso, o atacante fez 64 gols em 77 jogos. Em 1948, se arrependeu da mudança e voltou ao Vasco. Poucos meses depois, o Expresso da Vitória — que cedeu Barbosa, Augusto, Ely, Friaça, Danilo, Maneca e Chico à Seleção Brasileira, além do próprio Ademir e do técnico Flávio Costa — venceria a edição inaugural da primeira competição sul-americana de clubes, um torneio organizado pelos chilenos do Colo-Colo que reuniu sete times para jogos de todos contra todos em Santiago.
Uma lesão tirou o craque do último compromisso da equipe carioca, que segurou um empate sem gols com o River Plate de Alfredo Di Stéfano, José Manuel Moreno, Ángel Labruna e Félix Loustau. Mas naquela altura ele já tinha aberto o caminho para o título vascaíno, especialmente pela atuação memorável na goleada de 4 a 1 sobre o favorito Nacional. "Ademir nos infernizou aquele dia", resumiu o emblemático zagueiro uruguaio Schubert Gambetta.
Mas Gambetta e companhia dariam o troco por essa derrota dois anos mais tarde, privando Ademir de encerrar com chave de ouro o que vinha sendo um Mundial fantástico para ele. O atleta mandou a bola para as redes em oito ocasiões, marcando inclusive o primeiro gol do torneio. Na partida decisiva, o Brasil jogava pelo empate no Maracanã e chegou a sair na frente com Friaça, mas a Celeste virou o placar e selou o pior momento de Queixada em oito anos com a camisa verde e amarela.
De fato, ele ajudou a Seleção a vencer a Copa América e o Campeonato Pan-Americano em 1949 e 1952, respectivamente, e marcou 32 gols em 39 partidas oficiais — oito na Copa do Mundo da FIFA, recorde entre brasileiros em uma mesma edição da competição. "Ademir foi o melhor jogador do planeta na sua época", elogiou o ex-atacante e técnico Evaristo de Macedo, que enfrentou o ponta quando jogava no Flamengo. "Quando chutava no gol, não errava."
Ademir Queixada foi um dos maiores talentos já produzidos pelo futebol brasileiro e um dos grandes ídolos da história do Vasco, clube pelo qual marcou 301 gols em 429 jogos e ganhou quatro Campeonatos Cariocas. Há alguns anos, a revista Placar o apontou como o segundo melhor jogador da história cruzmaltina, à frente de nomes como Barbosa, Bellini, Vavá, Edmundo e Romário. Verdade ou não, o fato é que até o único futebolista a superar Ademir nessa lista põe em dúvida o próprio título de rei de São Januário: "Ele foi um dos melhores atacantes da história do futebol brasileiro", declarou Roberto Dinamite. "Não estou sendo modesto: acho que o Ademir de Menezes estava uma faixa acima."
Fonte: Fifa.com