Zagueiro avesso ao marketing pessoal, futebol limpo e especislista em cobranças de falta, Jorge Luiz marcou época no futebol carioca. Entre 1990 e 98, defendeu as camisas de Vasco, Flamengo e Botafogo. Passara também pelo Fluminense, mas nas divisões de base. Porém, foi como profissional que se destacou ao lado de marcadores implacáveis como Alexandre Torres, Ricardo Rocha, Ronaldão e Gonçalves. Mas o hoje auxiliar-técnico do Vasco traz no currículo um feito inédito: único jogador campeão antecipado e invicto pelos três clubes do Rio.
Como estamos às vésperas da final da Taça Rio e os envolvidos são Vasco e Flamengo, Jorge Luiz mergulha na história do clássico, que domingo será a principal atração no calendário esportivo do carioca. Nesta entrevista ao iG, ele revela outra curiosidade: no título de 92, pelo Vasco, a vítima foi o Flamengo nos dois turnos. Já em 96, quando deu o troco pelo clube rubro-negro, lá estava o time de São Januário do outro lado. Em tempo: o título pelo Botafogo foi em 97. Quer outra curiosidade? Tanto em 92 quanto em 96, o título veio com empate: 1 a 1 no primeiro ano e 0 a 0 no outro.
“É muita coincidência mesmo. Fazer parte da história de um Vasco x Flamengo desta forma é para poucos. Foram anos de muitas glórias. Disputar este clássico não é fácil. Existe muita pressão, muito nervosismo”, conta Jorge Luiz.
Para ele, não há clube que sofra mais com ansiedade que o outro. Quando a tabela marca o clássico para o domingo, os jogadores amanhecem na segunda-feira contando as horas para a partida. Esta semana a história se repetiu na Colina. O time tinha o compromisso com o Náutico, na quarta, pela Copa do Brasil. Mas quem disse que o grupo conseguiu esquecer o Flamengo?
“Você não pensa em outra coisa. Passa a semana toda lembrando que tem o clássico. É o torcedor que fala com você na rua, é o funcionário no clube. Aqui no Vasco, a gente conseguiu controlar porque temos jogadores experientes, como o Fernando Prass e o Felipe, que souberam lidar com o grupo. Mas é difícil”, disse Jorge Luiz.
Entre os dois títulos, o mais marcante é o de 92. Por uma razão simples: foi a sua primeira conquista, e invicta. Acabou tendo um sabor especial. Naquele ano, o Maracanã estava fechado obras, e o palco dos grandes jogos foi São Januário. Havia um ambiente familiar para o zagueiro naquela campanha. Ele sabia que o título lhe daria projeção na carreira.
“Eu era novo, estava começando. Aí você cai num grupo que tem um cara especial como o Roberto Dinamite, um ídolo. Você quer ser campeão para ficar na história. E o Roberto estava se despedindo. A gente queria ser campeão”, relembra.
Por falar em Roberto Dinamite, o atual presidente teve fundamental importância na ascensão de Jorge Luiz dentro do Vasco. Ele chegou ao Vasco em 90, treinava entre os reservas, aguardando a sua chance. Numa semana de Vasco e Flamengo, ele ouve do técnico Zagallo que começará jogando no domingo. Ficou tenso, natural. Mas num encontro casual com Dinamite ouviu do ídolo que era para não se afobar, pois o grupo confiava no seu potencial.
“Naquela época, a gente estacionava o carro na rua, em frente ao portão principal. Eu caminhava na direção do vestiário e de repente o Roberto está do meu lado. Eu fiquei nervoso. Ele vira pra mim e diz: ‘Fica tranquilo. Você tem futebol. Entra com calma, faz o normal, a gente confia em você’. Ouvir aquilo do ídolo foi o que eu precisava para controlar minha ansiedade”, conta o auxiliar-técnico, lamentando apenas o placar do jogo: 1 a 0 para Flamengo, gol de Nélio, no dia 16 de setembro.
Para o clássico de domingo, não arrisca um vencedor, mas avisa que o Vasco está embalado e ninguém no grupo atual tem a síndrome do “vice”. “Desde a chegada do Ricardo Gomes, o ambiente mudou. Mas mudou mesmo. O grupo é ótimo, o time está jogando bem, empolgando. Não sei quem vai ganhar, mas te garanto que o Vasco está muito bem e muito bem preparado”.
Fonte: IG