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Giovane Gávio, do Vôlei, diz que teve frustração com o Vasco


Sábado, 30/04/2011 - 16:46

Era uma vez um menino travesso, de Juiz de Fora, que começou no judô e, com o tempo, foi sendo apresentado a outras modalidades até se apaixonar pelo vôlei. Campeão praticamente de tudo como jogador pela Seleção Brasileira, o mineiro Giovane Gávio, aos 41 anos, acaba de demonstrar que pode ir longe também como treinador ao conduzir o Sesi, que idealizou e tão bem montou, ao título da Superliga, que já havia conquistado três vezes como atleta. Abaixo, ele relembra as muitas glórias e poucas mágoas na brilhante carreira nas quadras.

Como surgiu o treinador?

Quando jogava, já queria isso. Em 2005,tornei-me gerente de esportes da Unisul. Trabalhava com Renan, autor do projeto. Em 2007, já era treinador. Engraçado, o 7 me persegue: em 1987, fui para o Banespa; em 1997, para a praia; 10 anos depois, virei treinador. Confesso que foi difícil, gostava do trabalho de captação que fazia. Acumulei as funções de técnico e gestor, quando Renan saiu.

E o surgimento do Sesi campeão?

Em 2009, fui campeão catarinense pela Unisul e terceiro na Superliga, mas o time perdeu o patrocinador e encerrou as atividades. Ao saber que o Sesi iria montar um time, procurei o presidente da Fiesp, Paulo Skaff, e fiquei trancado com ele três dias, apresentando o projeto. No primeiro ano, fomos campeões da Copa São Paulo e paulistas e quarto colocados na Superliga. No segundo, bi da Copa São Paulo, vice do Paulista e, agora, campeões da Superliga. Ganhamos porque temos o time mais equilibrado, mais pensado, montado para isso. Sabia que seria muito difícil, pois tinha muito time forte: Vôlei Futuro, Cimed, Montes Claros, Cruzeiro, Pinheiros, Minas... Mas o grupo conseguiu junto.

Qual o seu sonho como técnico?

Dirigir a Seleção, não importa se for da base. Mas, neste momento, estou mais preocupado em planejar para ganhar o Sul-Americano de Clubes e, depois, o Mundial Interclubes.

Fale do seu início.

O judô foi meu primeiro esporte, aos 5 anos. Meu pai queria dar um jeito em mim, porque eu batia nas minhas irmãs. Cheguei a ser bicampeão mineiro, mas parei de lutar aos 10 anos, porque onde estudava, no Colégio dos Jesuítas, em Juiz de Fora, praticava atletismo, vôlei e basquete. O vôlei, mesmo, foi a partir dos 12 anos. Quando passei a gostar mais dele, procurei me aprimorar. Primeiro, na escolinha do Sport, mas tinha de pagar e achava um absurdo. Aí o técnico Flávio Vilela me levou para o Bom Pastor. Joguei no infantil, infantojuvenil e juvenil, dos 12 aos 16 anos, e comecei a ser convocado para a Seleção Mineira. Infantil, jogava também no infanto. Nessa categoria, era chamado para a juvenil. Foi sempre assim: jogava na minha categoria e na acima.

Quando saiu de Juiz de Fora?

Em 1987, disputei um Brasileiro infanto e em seguida uma competição juvenil em BH. Fomos campeões. Um olheiro do Banespa me levou para São Paulo. Foi um período difícil. Morava em alojamento, numa república que chamavam de Casa do Atleta, longe da família, dos amigos. Estranhei demais, chorava muito. Eram uns 25 caras na casa. Aos poucos, fui-me adaptando e começou a ficar divertido. Havia gente de vários estados. Comecei a amizade com Marcelo Negrão, Tande, que chegou de Brasília, Maurício, o levantador, de Campinas. Era juvenil e o técnico do adulto, Josenildo de Carvalho, me chamava para ajudar no treino do time. Daí a pouco, comecei a jogar.

Ali surgiu a história da camisa 3...

O Banespa tinha um levantador veterano, Renato, que estava parando, e era a camisa que estava sobrando. Quando a gente é novo, não escolhe. Queria jogar e a camisa 3 servia bem. Depois, virou marca, superstição. Faz parte da minha vida, em placa de carro, número de telefone, por aí afora.

E a carreira na Seleção?

Minha primeira convocação foi para a juvenil, em 1988, com Marcos Lerbach. Fomos campeões sul-americanos depois de muito tempo e, em 1989, bronze no Mundial da Grécia. Na volta, com Negrão e Janélson, fui direto para a seleção adulta, do Bebeto de Freitas, porque houve uma crise e saiu a geração de Bernard, Xandó, Renan, Montanaro... A primeira competição oficial, como reserva, foi o Mundial do Brasil em 1990. Naquele ano, eu me transferi para a Itália (defendeu Padova e Ravenna). Em 1991, Josenildo de Carvalho me convocou para o Pan de Havana, mas foi com José Roberto Guimarães que virei titular, na Olimpíada de Barcelona’1992.

O ouro foi planejado?

Confesso que não pensávamos em ser campeões olímpicos. Saímos do Brasil com o objetivo de ficar entre os quatro primeiros, disputar a semifinal. Mas as coisas foram acontecendo. Fomos primeiros da chave ganhando da Coreia do Sul, Rússia, que era fortíssima, Holanda e Cuba. Nas quartas, passamos pelo Japão e, na semifinal, pelos Estados Unidos, outra seleção favorita. Na outra semifinal, a Itália, que tinha o time mais forte e era o nosso temor, perdeu. Na final, contra a Holanda, jogamos tudo. Naquele dia, ninguém ganhava da gente.

E muita coisa começou a desandar...

Em 1993, ganhamos a Liga, em São Paulo, e fui eleito o melhor do mundo. Mas, a partir de 1994, vivi um inferno astral. Em 1995, no Maracanãzinho, decidimos a Liga com a Itália (dirigida por Bebeto de Freitas). Dei uma “banana” para a torcida, pegaram no meu pé. Para piorar, perdemos. Estava de cabeça quente e já pedi desculpas, mas isso não me sai da cabeça.

E a vida na Itália?

Um grande aprendizado. Até então, a bola decisiva nunca me era passada, mas lá, como estrangeiros, tínhamos de decidir. Além disso, jogava com e contra os melhores jogadores do mundo, tinha a quem copiar, com quem aprender. Passei a atacar e defender, me aprimorei.

Você se inspirou em alguém?

Renan sempre foi uma espécie de guru. Voltei da Itália em 1994, para jogar no Palmeiras, e ele era o técnico. Já tínhamos atuado juntos no Ravenna. Quando decidi voltar, tinha de ser para jogar com ele. Depois, passei pelo Chapecó e pelo Suzano, onde fui campeão da Superliga.

Cite uma frustração na carreira.

Fiquei muito magoado na Olimpíada de Atlanta’1996. Não jogamos, havia muita coisa errada, o grupo já não era coeso. Na volta, eu e Tande decidimos ir para a praia, onde ficamos três anos e fomos campeões brasileiros. Mas queria disputar outra Olimpíada e, ao ver que na areia seria impossível, pensei em voltar à quadra. Na Olimpíada de Sydney’2000, fui rejeitado pelo grupo (o Brasil ficou em sexto lugar). Mas veio a era Bernardinho. Pedi-lhe uma chance e ele me disse: “Esqueça o passado e comece a fazer uma nova história”. Isso foi fundamental para que eu conseguisse jogar novamente como antes. Mas tive ainda uma frustração com o Vasco. O time ficava em Três Corações, o clube não me pagou. Foi um problemão.

Como deu a volta por cima?

Ganhamos a Liga em 2001. No Mundial de 2002, o saque do título foi meu. Em 2003, fui de novo o melhor do mundo. Joguei uma temporada no Minas, infelizmente não fomos campeões e fui para a Unisul. A Olimpíada de Atenas’2006 foi emocionante, empolgante. Éramos uma família, todo mundo amigo. Eu e Maurício fomos bicampeões. Não há muita gente com duas medalhas de ouro.

Fonte: Superesportes (texto), Acessa.com (foto)