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No dia do goleiro, site da CBF homenageia Jaguaré, ídolo dos anos 20 e 30


Terça-feira, 26/04/2011 - 18:27

Jaguaré: o goleiro que foi ídolo na primeira metade do século

Jaguaré foi um ídolo na França nos anos 1930. Goleiro do Vasco, onde começou a carreira, do Corinthians e da Seleção Brasileira, transferiu-se para o Barcelona, depois de uma excursão do Vasco à Europa, e depois para o Olimpique de Marselha, onde foi campeão e se transformou em ídolo da torcida.

Jaguaré Bezerra de Vasconcelos - na França era chamado de Vasconcelos - era carioca, nascido em 14 de maio de 1905. Defendeu a Seleção Brasileira em três jogos, com três vitórias, em 1928/29.

No Olimpique de Marselha, onde jogou de 1936 a 1939, Jaguaré atingiu a consagração, tendo sido campeão francês e da Copa da França, e era exaltado como um grande jogador nas páginas dos jornais do país.

O seu grande momento aconteceu na decisão da Copa da França de 1938, no jogo em que o Olimpique de Marselha derrotou o Metz por 2 a 1 e se sagrou campeão. Trinta e dois mil espectadores viram então um goleiro marcar o primeiro gol, o de empate, aos 22 minutos.

O lance foi assim descrito pela revista "Sport IIustrado", em sua edição de 22 de junho de 1938. "Aos 22 minutos, Laurent, do Metz, fez um penalty. Com supresa de todos os assistentes, Jaguaré abandonou o seu posto e encaminhou-se para o goal adversário. Jaguaré collocou-se diante da bola, e quando o árbitro apitou, bateu o penalty. Ouviu-se uma exclamação da assistencia. Jaguaré enviou a bola a um canto e marcou o goal de empate. Foi um lance sensacional. Um arqueiro fazer um goal contra o adversário! Em nossa capital, jamais houve um caso, em partida official, de um arqueiro executar um penalty."

Mas Jaguaré não se tornou o heróí do jogo apenas pelo gol que marcou. Fez mais: aos 28 minutos do segundo tempo, garantiu a vitória do Olimpique ao defender "com um salto formidável" a cobrança de pênalti feita pelo jogador Donzelle. Pela sua atuação na decisão Jaguaré recebeu as felicitações do presidente da França.

Histórias de Jaguaré

Em um jogo contra o América, Jaguaré quase mata Alfredinho de raiva. Primeiro, defendeu um chute do atacante americano somente com uma das mãos. Depois atirou a bola na cabeça de Alfredinho para fazer nova defesa. Com tantas "molecagens", nada mais natural que os estádios enchessem com torcedores atraídos pela fama de Jaguaré.

No livro de Mário Filho "O Negro no Futebol Brasileiro", muitos são os casos contados pelo grande jornalista, como se segue:

"O Vasco da Gama foi o campeão carioca de 1929. Como prêmio, o time realizou uma temporada em Portugal. Jaguaré ficou encantado com o profissionalismo. Terminou ficando pela Europa, junto com Fausto dos Santos, o Maraviha Negra, jogando no Barcelona, para depois se transferir para o futebol francês. De vez em quando, aparecia no Brasil e era um sucesso. Um dia, anunciou que iria treinar no Vasco. São Januário encheu. Jaguaré apareceu de terno branco e chapéu chile pendido de lado. Trocou de roupa e ficou igualzinho a um goleiro europeu, de boné e luvas. Foi o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas."

Na Europa, as "brincadeiras" que Jaguaré fazia no Brasil não eram aceitas. Num jogo pela Copa da França, contra o Racing, fez uma defesa de bicicleta. Não foi mandado embora porque o Olimpique venceu. Na Inglaterra, depois de uma defesa, atirou a bola na cabeça do adversário. O juiz parou o jogo, chamou o capitão do Olimpique para adverti-lo que não iria admitir outra jogada como aquela, e puniu o time francês com um tiro livre indireto.

Um dia, Jaguaré voltou ao Brasil para ficar. Voltou com medo da guerra. Chegou sem um tostão. O dinheiro que ganhou, e não foi pouco, gastou tudo pelas esquinas da vida. Voltou a ser estivador e, quando falava do seu passado, todos riam e não acreditavam em Jaguaré. Depois, desapareceu. Sabe-se que foi para a cidade de Santo Anastácio, no Oeste paulista. Em 1940, Jaguaré voltou a ser noticia dos jornais. Em um canto de página policial, estava registrado que o antigo goleiro do Vasco, Jaguaré, tinha se envolvido em uma briga com policiais, que o espancaram até a morte. Jaguaré foi enterrado com indigente.




Fonte: Site da CBF