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José Luiz Moreira, sobre o Vasco: 'Por revanchismo, nunca me pagaram'
Sexta-feira, 22/04/2011 - 08:35
Antes de vir para o Brasil, em 1961, José Luis Moreira colhia frutos nas árvores do Jardim de São Lázaro, na freguesia de Santo Ildefonso, no Porto. Chegando ao Rio, ganhou do avô uma camisa e um título de sócio do Vasco para não esquecer das raízes lusitanas. Mais tarde, como empresário do ramo do transporte público, foi a ele que o clube recorreu para quitar seus compromissos. Por quase sete anos, Zé Luís foi o trem pagador da Colina sem nunca negar um olhar carinhoso ao Olaria, historicamente clube satélite do Vasco. Afastado de São Januário na gestão Roberto Dinamite, hoje ele rega as sementes que, desde 2009, vem plantando no subúrbio da Leopoldina, onde fertilidade, comemora, nunca foi problema.
— Aqui a gente tira sangue de formiga! — brinca, ao falar com orgulho da tradição e do sucesso do azul e branco. — O Olaria tinha uma defesa formada por Haroldo, Miguel, Altivo e Alfinete que foi toda para o Vasco. Romário, Aílton e Gonçalves também saíram daqui.
A relação entre Zé Luís e o Vasco quase sempre foi uma via de mão única. Em 2003, quando o clube conquistou seu último título, do Campeonato Estadual, Marcelinho Carioca foi contratado e gamou no BMW do dirigente. Quis tanto o carro que Zé Luís o repassou ao jogador e pôs o valor estimado num crédito. Até hoje, diz, nunca recebeu. Seu trunfo é uma confissão de dívida assinada pelos poderes do clube e reconhecida por “99% do Conselho de Beneméritos”. O valor, não revela. Segundo Zé Luís, ao assumir, a nova diretoria não fez as pendências constarem no balanço.
— Quando a coisa estava difícil, o Zezinho sempre quebrava o galho — ironiza. — Por revanchismo, nunca me pagaram. Me associam ao Eurico, mas não tem nada a ver. Conheço ele desde 1966, fornecia papel de enrolar o pão da padaria da família.
No Olaria, todos atentos
Hoje do outro lado, ele lamenta que o Vasco não valorize mais o intercâmbio que, um dia, permitiu ao Olaria vestir a mesma grife da matriz. Naquela época, jogador que não era aproveitado em São Januário ou precisava ganhar experiência também encontrava abrigo na Rua Bariri. Em determinado momento, foram doze de uma só vez. Atualmente, a maior parte do elenco é formada em casa. As principais apostas são o volante Vítor e os atacantes Renan Souza e Waldir, que despertam nteresse dos grandes.
As comparações com o adversário de amanhã na semifinal da Taça Rio devem sempre contextualizar a ordem de grandeza de cada um. A receita do Olaria é infinitamente inferior a do Vasco, e fica ainda menor com as penhoras que, guardadas as proporções, atrapalham bastante. A mola propulsora do sucesso num clube pequeno ainda é a amizade e a vontade de vencer.
Enquanto no Vasco era comum ver jogadores cochilando enquanto falava, no Olaria, Zé Luís abre a boca e os jogadores são todos ouvidos:
— Aqui o jogador é mais humilde. Eu digo que vou falar e todo mundo escuta. Se pudessem, eles gravavam.
Fonte: O Globo