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Especialistas analisam os sites oficiais dos clubes da Série A
Terça-feira, 12/04/2011 - 15:26
Navegar pelas páginas dos principais clubes de futebol do Brasil é como a desagradável experiência de caminhar por ruas tomadas por vendedores ambulantes. No caso do pedestre, a alternativa é se arriscar em meio aos carros, invadindo as pistas para seguir caminho. Entre os internautas ludopédicos, sem saída, a tendência é se perder no emaranhado de ofertas de produtos do time do coração, enquanto outros aspectos intrínsecos ao mundo esportivo são relegados a um segundo plano.
Especialistas ouvidos pelo Correio, que analisaram as páginas na internet dos 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro, são unânimes: a paixão pelo futebol, que deveria alimentar os sites, na maioria dos casos é trocada por questões mercadológicas.
Vários itens foram avaliados, entre eles conteúdo, atualidade, participação em redes sociais e design. Em meio a falhas gritantes, a apontada como mais grave é a ânsia dos times de vender. “Com raras exceções, os sites estão poluídos, com conteúdos misturados, dificultando a navegação do internauta. As imagens de produtos pipocam por toda a tela, confundindo o visitante”, analisa Fabiana Borja, 33 anos, consultora em planejamento de mídias digitais.
Por incrível que pareça, essa situação é comum em vários dos times considerados grandes. Um dos maus exemplos é o site do Corinthians. Por todas as páginas que se navegue, lá estão os banners com mercadorias, promoções e descontos. Em outras situações, como no caso do Fluminense, não satisfeitos em marcarem presença, os produtos pulam, se mexem e piscam na tela, o que desvia o torcedor das informações mais relevantes.
Andrade, ídolo do Flamengo, detentor de inúmeros títulos pelo clube, como jogador e treinador, lamenta essa realidade. “A internet é uma ferramenta de comunicação maravilhosa. Poderia ser um meio de aproximar mais o torcedor do time, divulgando o planejamento, o trabalho realizado atrás de uma competição. Mas o futebol virou um comércio, onde tudo está à venda. Antes, tínhamos amor ao clube. Infelizmente, essa visão comercial se apossou do esporte”, diz o treinador, que ainda aguarda uma boa proposta para comandar uma nova equipe
Estatísticas e curiosidades
O Atlético-MG é o clube da Série A do Campeonato Brasileiro com maior número de blogueiros na web. Essa característica eleva os acessos à página oficial da equipe na internet. No entanto, essa vantagem é mal aproveitada, pois o design do site não traz nada de inovador e o uso da barra de rolagem nos links internos chega a ser cansativo em alguns casos, afastando o internauta.
O iluminado
São Paulo e Bahia: os campeões de qualidade
Baseado na avaliação dos especialistas, o Correio traçou as melhores páginas de clubes da Série A do Campeonato Brasileiro. Em primeiro lugar, está o do São Paulo. Com design simples e prático, o site oferece as informações básicas sobre o time e coloca em destaque os últimos e os próximos jogos. A homepage também traz vídeos e facilita o acesso do torcedor ao Twitter da equipe. Os produtos não deixam de ser oferecidos, mas não tomam o espaço das informações principais e são apresentados de forma comedida.
O Bahia também se destaca por conseguir oferecer várias informações de maneira leve e organizada. A segmentação da página faz com que o torcedor possa encontrar de maneira rápida o que procura. Para completar, a TV Bahêa transmite, com qualidade, os jogos da equipe.
Apagão
Três grandes a caminho do rebaixamento virtual
Grandes times estão pecando na hora de se apresentarem na internet. O pior deles é o Corinthians. O site surpreende o torcedor com uma avalanche de informações mal posicionadas, sem qualquer hierarquia. O visitante precisa se esforçar muito para separar o conteúdo que deseja dos apelos comerciais da página. O clube ainda se prejudica por adotar as cores da equipe no site. O fundo preto atrapalha a leitura e faz com que todo o leiaute fique pesado, saturando a visão.
O Flamengo também vacila. O vermelho e preto caiu mal no site. Além disso, o primeiro destaque da página é dedicado aos produtos. É preciso usar a barra de rolagem para acessar mais dados do time. Outro exemplo negativo do futebol carioca fica por conta do Vasco. A homepage do clube deixa de apresentar até mesmo a lista de jogadores da equipe. Para descobrir essa informação, o internauta tem de recorrer a um site não oficial, alimentado por torcedores vascaínos.
Calcanhar de aquiles
» As ofertas comerciais são privilegiadas em detrimento da cultura e da história dos clubes. Campanhas de conscientização dos torcedores e promoção de valores, como espírito de equipe, são amplamente ignoradas.
»Boa parte dos sites está poluída, com excesso de informações, não hierarquizadas, e falta de equilíbrio entre as cores.
» Em alguns casos, como no site do Fluminense, o espaço é mal aproveitado, as laterais são desperdiçadas, com cores que não reforçam a identidade visual da página.
» Animações no padrão flash de programação, como a utilizada na abertura do site do Botafogo, atrapalham o site a ser identificado em sites de busca, contribuindo para a redução dos acessos.
» Tem clube que dificulta a vida do internauta. O caso mais estarrecedor é do Atlético-PR, que pede ao usuário os números do CPF ou CNPJ para acessar algumas seções. A estratégia é por demais invasiva e pouco amigável.
Armas de cada um
» Exibições de áudio e vídeo são comuns em vários sites. Alguns fazem transmissões ao vivo de treinos e jogos. Bahia, São Paulo, Inter e Botafogo se destacam nesse quesito.
» O Grêmio conseguiu resolver um problema para vários sites. Apesar do fundo preto, a página apresenta as informações com leveza.
» Links para a venda de ingressos, como oferecidos por Flamengo, São Paulo, Inter e Palmeiras, facilitam a vida do torcedor e ajudam a organizar o acesso aos estádios.
» A maioria das equipes está inserida nas redes sociais. Twitter, Facebook e Orkut são cada vez mais utilizados pelos clubes, reforçando a imagem dos times para o público.
» Alguns sites, como o do Atlético-GO, dão destaque aos comentários dos internautas, reforçando o aspecto comunitário da página.
Notícias atualizadas e ingressos on-line
Os especialistas convidados pelo Correio também apontaram as qualidades das páginas dos times. A maioria delas traz notícias atualizadas sobre as tabelas de campeonatos, apresenta as partidas, os adversários e ainda faz uma boa cobertura de bastidores, mostrando o dia a dia dos jogadores, treinos e entrevistas. É possível também encontrar o perfil dos atletas e da comissão técnica com dados e fotos.
Fabiana Borja destaca a importância de os sites se manterem atualizados. “O que mais me chamou atenção é que quase todos se preocupam em manter o conteúdo atualizado, principalmente em relação aos jogos dos respectivos times e sobre os bastidores extracampo. Isso é um bom sinal, pois o internauta que procura o site do seu time quer informações”, justifica.
Além das informações atuais, as páginas também contam a história dos times, lembram os títulos importantes, grandes ídolos, mostram mascotes, musas, estádios, estrutura física, símbolos, administração e outras curiosidades. Os clubes que têm equipes em outras modalidades aproveitam o espaço para exibir os demais atletas e suas conquistas.
Algumas agremiações, como São Paulo, Palmeiras, Internacional e Flamengo, ainda facilitam a vida do torcedor com links para a compra de ingressos e localização dos estádios. Nas arenas onde é possível marcar lugar, há os mapas de identificação dos assentos disponíveis. Os pagamentos podem ser feitos pela própria internet, com cartão de crédito ou de débito.
Busca por lucros a qualquer custo
O incentivo aos torcedores a se transformarem em sócios do clube é uma das maneiras de lucrar por meio da internet mais exploradas pelos cartolas. No entanto, no afã de conquistar associados, os administradores das páginas virtuais não explicam bem quais as vantagens de se aderir à sociedade, limitando-se a fazer o convite com frases chamativas, finalizadas com um ponto de exclamação.
Máximo Migliari, 32 anos, diretor de Operações da ClickLab – Agência de Marketing Digital, ressalta esse como um dos problemas do site do Internacional. “Um dos objetivos principais da página é fazer com que os visitantes se tornem sócios do clube, porém o site faz um trabalho muito ruim nesse sentido. Ele mostra para o usuário um formulário e o preço de se associar, sem ao menos expor para o torcedor quais as vantagens oferecidas, que deveriam ser o ponto principal a ser abordado”, critica o especialista.
Outro problema grave é o excesso de elementos nas páginas principais dos times. São muitas colunas, boxes, fotos e chamadas. Em meio a tanto apelo, o torcedor fica perdido. É possível até que a informação procurada esteja no site, mas o visitante tem dificuldade para encontrá-la, tamanha a confusão. “Esse excesso compromete o uso eficiente, porque distrai o visitante do site, que acaba não encontrando de forma rápida o que realmente deseja”, comenta Alírio Marra, 49 anos, diretor da Net Design, empresa que tem Marcelinho Carioca entre os clientes e já atendeu os clubes de futebol Legião e Jaguar.
Nas redes sociais, mas sem interatividade
Uma das apostas dos times é na interação com o torcedor. Para isso, as redes sociais são as ferramentas mais usadas. Todos os times possuem perfis no Orkut, Facebook ou Twitter. Enquanto alguns se preocupam em dar maior destaque para os ícones curtir e compartilhar, outros os escondem no fim da página ou nas laterais. De toda forma, os conteúdos estão atualizados com informações de bastidores, sempre rápidas e curtas, como a correria do dia a dia exige.
Mas apesar da aparente acessibilidade aos times, um recurso que seria fundamental para contato do torcedor funciona precariamente. O Correio enviou mensagens para todos os clubes por meio dos links “Fale conosco” ou da “Ouvidoria”. Dos 20 times, apenas cinco responderam: Inter, Palmeiras, Avaí, Botafogo e Atlético-PR.
O site do Corinthians gera uma resposta automática, informando que irá entrar em contato, mas até a conclusão desta matéria nada foi feito. Já o e-mail do Bahia não estava funcionando, incrivelmente, a mensagem retornou antes de ser enviada. Ou seja, os clubes até disponibilizam o serviço, mas não estão bem preparados para responder às demandas da torcida que surgem pela internet.
Fonte: Superesportes