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VP de relações especializadas fala sobre a nova camisa 3 vascaína


Domingo, 03/04/2011 - 14:54

Ao entrarem no campo de São Januário, hoje, às 16h, Vasco e Bangu farão o 180º confronto entre os dois clubes. Mas por trás de mais um jogo de futebol, o de hoje se reveste de simbolismo e história de pioneirismo de ambos contra o racismo no esporte. De um lado, o time da casa estreia o terceiro uniforme, em homenagem aos Camisas Negras dos anos 20, que conquistaram o primeiro título carioca de um clube que tinha em seu elenco negros e mulatos. Do outro, está justamente o primeiro do Rio a escalar um negro, o meia Francisco Carregal, entre seus titulares antes mesmo da criação oficial do Estadual, em 1905.

— São dois clubes com grandes histórias na questão racial. O Bangu foi o primeiro a aceitar jogadores negros, o Francisco Carregal, o Manuel Maia, o Luís Antônio da Guia, irmão do Domingos da Guia. Entre os grandes do Rio, o Vasco tem uma história diferente porque promoveu a inclusão social na década de 20 — afirmou o diretor de patrimônio do Vasco, João Ernesto da Costa Ferreira, desfazendo qualquer briga com o Bangu pelo pioneirismo no caso.

(Nota da NETVASCO: João Ernesto da Costa Ferreira é vice-presidente de relações especializadas do Vasco)

Com os dizeres “Respeito e Igualdade” no peito, a camisa, toda preta e sem faixa diagonal, rememora uma época do clube fundado por portugueses que abriu as portas aos negros e pobres. Num esporte até então amador e elitista, a ascensão do Vasco no Carioca, saído da Segunda Divisão em 1922 e campeão em 1923, incomodou os dirigentes dos outros clubes e começou a despertar a paixão no povo:

— O Vasco foi campeão de forma avassaladora, só perdeu um jogo. No ano seguinte, os grandes do Rio criaram outra liga no lugar da liga existente. Convidaram o Vasco, mas uma das condições era que afastasse do seu plantel 12 jogadores de ocupações duvidosas, consideradas inferiores, na maioria negros e mulatos. O então presidente José Augusto Prestes não aceitou e enviou uma carta recusando o convite. A carta é um verdadeiro libelo contra a discriminação racial e social. É um troféu, tanto que está exposta na sala de troféus — disse Oliveira, lembrando que o Vasco foi campeão em 1924 por outra liga.

Foi algo que já havia acontecido com o Bangu alguns anos antes. O clube, que aceitou os operários Francisco Carregal, em 1905, e Manuel Maia, em 1906, os primeiros negros de que se têm registro no futebol carioca, também recebeu o pedido da liga para retirá-los do elenco. Pedido negado, que afastou o time do Carioca de 1907 e 1908.

— Na verdade, não sabia de todo este passado do Bangu. Sempre soube das dificuldades dos negros, como a história do jogador do Fluminense, que teve que passar pó de arroz para ficar branco e jogar. No Bangu, sempre houve muito respeito. Também me sinto homenageado com essa iniciativa do Vasco — disse o técnico do Bangu, Marcão, que começou e encerrou a carreira no clube.

No jogo do respeito, a única disputa vai ser na bola pela vaga nas semifinais da Taça Rio, que ambos tentam alcançar. O lugar na história já lhes pertencem.

Fonte: O Globo