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Renato Gaúcho comenta diferenças entre Vasco e Fluminense


Sábado, 26/03/2011 - 17:40

Dois clubes rivais. Dois dirigentes controversos. E, no campo, jogadores de personalidade não menos intrigantes. Foi desta forma que Renato Gaúcho escreveu sua história nos primeiros anos da carreira como treinador. Antes de aceitar sair do Rio, o ex-ponta-direita passou quatro vezes pelo Fluminense (2002, 03, 07 e 09) e duas pelo Vasco (05 e 08). Mesmo distante, o hoje comandante do Grêmio sabe muito bem o que acontece da porta do vestiário para dentro nos rivais que se enfrentam neste domingo, às 18h30, no Engenhão.

Personagem de uma polêmica declaração envolvendo possível transferência para o lugar de Muricy Ramalho, há dez dias Renato se viu em maus lençóis por causa do Fluminense. Queridinho do patrocinador tricolor, é sempre a primeira opção quando o cargo está vago. “Tenho as portas abertas no futebol do Rio e sempre terei. Mas terei pelo meu trabalho, pois só faço trabalho bom”, disparou, ainda sobre o mal-estar de semana passada.

Ser aceito nas Laranjeiras como técnico não foi difícil. Ídolo como jogador, foi herói do título estadual sobre o Flamengo, com um gol de barriga, em 1995 - ano do centenário rubro-negro. O problema foi pisar em São Januário. O fanfarrão Renato havia jogado por Flamengo (87, 89, 93 e 97), Botafogo e Fluminense. E, por duas vezes, dirigira o tricolor antes de assumir o time da Colina em 2005. Como chegou pelos braços de Romário, teve pouca rejeição.

“São dois clubes bons para se trabalhar”, define Renato, enumerando prós e contras das duas administrações: “O Vasco tem boa estrutura, estádio próprio. O Fluminense não tem a estrutura do Vasco. Mas tem um grande aliado que faz a diferença, o seu patrocinador”, analisa.

Ele se refere a Celso Barros, presidente da patrocinadora do clube tricolor. Sem discurso combinado, adota fala semelhante à de Muricy Ramalho esta semana em um programa de TV. O ex-técnico do Fluminense declarou que o gestor merecia tapete vermelho nas Laranjeiras pelo esforço na montagem do time e pelas facilidades criadas no departamento de futebol. Renato adaptou o discurso:

“Celso Barros merece uma estátua na entrada do clube. O cara faz a diferença. Primeiro, porque paga em dia, e aí todo mundo pode treinar com a cabeça tranquila porque no fim do mês o teu dinheiro estará lá. Depois, porque ele contrata na hora o jogador que você quer. Qual o treinador que não vai querer trabalhar com um patrocinador destes?”, comentou Renato.

Ambos concordam, no entanto, que o clube peca em estrutura. O que seria o Fluminense, então, sem o patrocinador? Um breve esclarecimento: a natureza do contrato entre o clube e a empresa médica não permite doação de dinheiro para ampliação de patrimônio. Portanto, por mais paradoxal se possa ser, o clube “bancado” pelo maior mecenas do futebol brasileiro carece de boa estrutura.

“Imagina no dia em que ele sair, aí os problemas do Fluminense vão começar. É preocupante”, indagou Renato, cuja relação com Barros o transformou numa espécie de filho mais velho. Os dois já passaram réveillon juntos, saem para jantar constantemente, fumam charuto e assistem no mesmo camarote aos desfiles das escolas de samba no Carnaval carioca.

No Vasco, também estabeleceu boa relação com o ex-presidente Eurico Miranda. Uma das personalidades mais polêmicas do futebol brasileiro – definido como ditador e truculento -, o dirigente, garante Renato, não deixa faltar nada para os jogadores. Apesar da enxurrada de críticas ao comportamento de Eurico dentro e fora do futebol, o treinador, ao comentar a versão dirigente, é só elogios.

“Se ele não gostar de você, não adianta. Mas é um cara bom de se trabalhar, não te deixa faltar nada. Não falta nada para os jogadores. Um cara fiel. Me tornei amigo pessoal dele”.

Com estrutura (campo, vestiário e sala de musculação melhores, sem falar em restaurante e alojamento), mas sem patrocínio forte, O Vasco penou para montar grandes equipes no final do mandato do antecessor de Roberto Dinamite. Em meio a tanta crise, Eurico, segundo Renato, sempre se mostrou uma pessoa de confiança. Cobrava, como qualquer administrar cobra, mas sequer quis interferir no seu trabalho.

“Quer ver uma besteira que as pessoas falam? Que o Eurico e o Celso Barros se metem em escalação. Eles, por serem chefes, querem explicações, cobram, dão até palpite, mas não escalam time”.

As duas primeiras missões estavam cumpridas. Renato foi bem aceito nos dois clubes e manteve bom relacionamento com a dupla toda-poderosa. Faltava, pela pouca experiência na carreira, liderar medalhões com status de intocáveis. No Vasco, de amigo pessoal de Edmundo – parceiro de posto 9, em Ipanema, e futevôlei -, barrou o atacante, um dos maiores ídolos da história do clube, em 2008, na campanha que culminou com a queda para Série B do Brasileiro.

Nas Laranjeiras, no mesmo ano, teve que escolher entre Washington e Dodô para ver quem ia para o banco de reservas. Optou pelo segundo, então um dos salários mais altos do clube.

“Domar estas feras? Não foi tão difícil. Falo a língua deles. Se você chegar colocando as coisas certas, explicando porque o jogador está saindo, ele vai entender. E outra coisa: craque não dá problema. Craque é inteligente. O que te dá problema é jogador não que joga nada e se acha craque”, destacou, omitindo, no entanto, que a relação com Dodô, no fim, já não era tão amistosa.

Sobre o clássico deste domingo, diz que, mesmo à distância, tem acompanhado o futebol do Rio. Perguntado se há um favorito, ele respondeu que não. Segundo Renato, os times vivem uma espécie de gangorra. De campeão brasileiro, o Fluminense teve uma acentuada queda. Mas lembrou que a vitória de virada sobre o América do México (3 a 2), na Libertadores, caiu como uma injeção de ânimo.

“Faz parte do futebol esses altos e baixos. O Fluminense estava mal, mas ganhou um grande reforço, que foi essa vitória na Libertadores. O Vasco subiu de produção com o Ricardo Gomes. Tem tudo para ser um grande clássico”.

Fonte: IG