Imagine uma dupla formada por um artilheiro com mais de mil gols e pelo maior ídolo da história do Vasco, que só na equipe profissional do cruzmaltino balançou a rede nada menos do que 644 vezes. Pois ela existiu na década de 1980, quando Romário foi promovido dos juniores e se juntou a Roberto Dinamite no ataque. Se em 1985 Dinamite ficou com o posto de goleador do Estadual, o Baixinho acabou os dois campeonatos seguintes como artilheiro. Só no Carioca de 1987, conquistado pelo Vasco, eles marcaram 31 gols.
Os saudosos, não só do Vasco, mas do bom futebol, já podem começar a imaginar uma reedição da parceria. Romarinho, 17 anos, filho do hoje deputado Romário de Souza Faria, subiu para os juniores neste início de ano e tanto nos coletivos das equipes de base quanto nos treinos contra os profissionais, a escalação dos juniores já termina com Romarinho e Rodrigo Dinamite, a dupla de ataque.
Rodrigo, 18 anos, é ninguém menos que o filho do presidente. O herdeiro do mandatário do Vasco, Roberto Dinamite, já estava nos juniores. Chegou a disputar a Copa São Paulo no início do ano, mas era reserva, com eventuais entradas no segundo tempo.
Vinte e seis anos depois do primeiro encontro entre os ex-atacantes, a Colina vive a expectativa de receber no time principal a nova dupla, que tem nome e DNA de craque. Um ano mais velho do que o parceiro, Rodrigo já vive a expectativa de uma oportunidade nos profissionais. Romarinho, recém-promovido aos juniores, talvez tenha de esperar um pouco.
Em entrevista exclusiva ao Correio, a nova dupla de ataque Rô-Rô do Vasco conta que tem prazer em reviver esse momento histórico, e que a pressão é algo comum, passageira. “Gosto muito de jogar com o Romarinho. Ele se posiciona muito bem e tem uma noção grande em campo. É muito inteligente jogando”, elogiou Rodrigo. “Sempre que a gente jogava no juvenil ele dava a bola, tocava para mim. Quase todo dia era eu e ele no coletivo. Com Rodrigo eu tenho que ficar um pouco mais na área. Não gosto tanto porque não sou grandão e forte. Sou mais leve. Na lateral tem mais espaço para driblar”, contou Romarinho.
Acostumados à comparação desde que escolheram seguir os passos dos pais artilheiros, eles já sabem como driblar o assédio. “Esperam muito mais de mim por causa do meu pai, mas já estou acostumado. Nem ligo mais para o que os outros falam. Faço a minha parte e só”, explica Romarinho, que sempre procura mostrar a mesma confiança do Baixinho. “Existe a cobrança. A torcida quer que eu jogue que nem o meu pai, faça gol... Mas não adianta. Romarinho não vai ser igual a Romário, eu não vou ser igual ao meu pai. Cada um tem o seu futebol e as suas qualidades. Desde pequeno existe a pressão e vão comparar. Também me acostumei”, emendou Rodrigo, que tem o “Dinamite” tatuado no braço.
Três perguntas para Romarinho e Rodrigo Dinamite
Quais as semelhanças e diferenças do seu estilo de jogo para o do seu pai?
Romarinho: A diferença é que ele ficava muito na área. Sou atacante, mas não sou muito de área. Jogo aberto, pelas pontas. Mas também faço muitos gols.
Rodrigo: Quando eu corro e até a forma de jogar, todo mundo fala: ‘É o seu pai. É idêntico”. O sorriso também, os gestos. Todos falam que a gente se parece muito. Na época da base ele era assim, magrinho também.
Em quem você se espelha?
Romarinho: Meu ídolo é o Ronaldinho Gaúcho. Para mim é o melhor do mundo, mesmo sem estar na melhor forma. Mas me espelho mesmo é no meu pai, que também foi atacante.
Rodrigo: Gostava de ver o Zidane jogando. Agora, tem Messi, Cristiano Ronaldo... Mas ídolo é o meu pai.
Preparado para cobranças e comparações?
Romarinho: Nem ligo mais para o que os outros falam. Faço a minha parte só. Melhorar a gente sempre tem, mas, se precisar de mim, acho que já estou pronto (para os profissionais). A pressão é uma desvantagem minha, mas ela existe desde que eu sou pequeno. Sinto orgulho de ter um pai com a história dele. Tem um ou outro criticando, mas todo mundo sabe que ele foi um dos maiores.
Rodrigo: Desde pequeno existe a pressão e vão comparar. A vantagem (de ter um pai ídolo) é que ele me dá muita dica. Ele já viveu isso e sabe como que é, conhece os atalhos.
Estatísticas e curiosidades
Atual presidente do Vasco e maior ídolo da história cruzmaltina, Roberto Dinamite foi o jogador que mais atuou pelo clube carioca e colecionou títulos em São Januário. Só de Estadual foram cinco. Com a camisa vascaína, ele foi artilheiro do Brasileiro duas vezes, em 1974 e 1984, e três vezes do Carioca, em 1978, 1981 e 1985. No total, Dinamite marcou 644 gols em 955 jogos pelos profissionais — números que nem Romário supera. Pela equipe principal do Vasco, o Baixinho balançou as redes 326 vezes em 414 partidas.
Artilheiro dos mil gols, Romário deu mais alegrias ao cruzmaltino do que a qualquer outro clube, apesar da relação de amor e ódio com a torcida por conta da passagem pelo Flamengo. Na lista de títulos, há um Brasileiro, uma Copa Mercosul e dois Cariocas. Além disso, foi defendendo o Vasco que o ex-atacante se tornou artilheiro do Brasileirão três vezes, em 2000, 2001 e 2005. Romário teve quatro passagens por São Januário, onde marcou o milésimo gol e ganhou até estátua.
Surpresa: gostar de treinar
Se no jeito de correr e até de sorrir Rodrigo Dinamite lembra muito Roberto, em campo o posicionamento é diferente. O garoto, que atuava como segundo atacante até o juvenil, está mais recuado nos juniores. “Estamos jogando com três atacantes. Eu sou o que fica atrás, praticamente como um meia de ligação. Agora, tenho que voltar para marcar também. Estou me adaptando melhor a essa posição”, ressalta.
“Contam que na época do juvenil e dos juniores meu pai não era a estrela. Era que nem eu. Era mais um. Treinava e se dedicava, como eu faço todos os dias. Havia três jogadores da Seleção, um estava cotado para ser o cara do Vasco. E no final ele fez tudo aquilo”, disse Rodrigo, referindo-se aos mais de 600 gols de Dinamite só com a camisa cruzmaltina e aos títulos conquistados em São Januário, onde é até hoje o maior ídolo do clube.
Romarinho também segue em busca do seu espaço em campo. Com Rodrigo, nos tempos de juvenil, ele atuava mais fixo na área, como centroavante. Agora, se sente melhor na função de segundo atacante. “Jogo aberto, pelas pontas”, explicou o filho do “Peixe”. Embora ficar como homem de referência à frente não seja sua preferência, Romarinho conta que é goleador. “Também faço muitos gols. No ano passado, fiz dez em 12 jogos no Estadual e fui artilheiro de um outro campeonato. Não estou jogando nos juniores agora porque acabei de subir e jogam os mais velhos.”
Ao contrário do pai, o menino — quem diria — gosta de treinar, mas só coletivo. “Treino físico é meio complicado”, revelou, aos risos. “Gosto da rotina de treinamento porque não consigo ficar muito tempo em casa sem fazer nada. É bom sair e fazer a coisa que gosta. Quando não estou nos treinos eu jogo futevôlei. Sempre com a bola”, completou o herdeiro dos mil gols.
Dar alegria à torcida
Romário fez história em clubes do Brasil e de fora. Só no Rio ele passou por Vasco, Flamengo e Fluminense. O Baixinho é ídolo de todos, até porque marcou época na Seleção, onde foi a grande estrela do tetracampeonato mundial em 1994. Romarinho pensa grande e deseja trilhar o mesmo caminho. “Meu maior sonho é jogar a Copa do Mundo.”
Rodrigo também pretende seguir os passos do pai. “Se fizer pelo menos metade do que ele fez aqui, estou feliz. Tenho vontade de ser ídolo de uma torcida como a do Vasco e dar alegria, pois o clube não ganha título há muito tempo (fora a Série B de 2009)”, disse. Ligado ao cruzmaltino desde que nasceu, Rodrigo quer mesmo é levantar a taça em cima do maior rival. “Quero meter gol no Flamengo. Tenho raiva deles, pode colocar aí (risos).”
Fonte: Superesportes