A dor do Japão passa longe do Restaurant e Wasabi, onde, além de sushis e sashimis, a alegria é um prato da casa. E nem poderia ser diferente. Um dos sócios do restaurante é Felipe, jogador do Vasco, que recebe com frequência amigos dos velhos tempos como Luisinho e Pedrinho, ex-companheiros de clube. A doce rotina dos parceiros só é interrompida pelas concentrações e viagens, um pesadelo na vida de Felipe, que já começa a pensar no fim da carreira.
Aos 33 anos, você já pensa no futuro?
Não vou empurrar com a barriga. Quando não render mais, eu paro.
Jogará até quando?
Gostaria de cumprir o contrato até o fim de 2012. Mas, se no fim desse ano eu não estiver rendendo, posso até parar.
Está desanimado?
Não é isso. Mas admito que concentração e viagem são duas coisas que me matam. Fiquei cinco anos no Catar, onde se joga menos vezes.
A idade está começando a tirar o seu ânimo
Gosto de treinar mais do que quando era mais novo. E nem me incomodo por treinar de manhã. De qualquer forma, acordo cedo, às 6h, para levar meus filhos à escola.
Por que o seu rendimento vem melhorando?
A parte física melhorou. Aqui, a preparação física é melhor. Lá no Catar, cada hora era um preparador de um país diferente. Uma hora, um francês. Outra, um árabe. Marroquino, holandês... Aliás, uma vez chegou um holandês dizendo que a preparação física fazia mal ao jogador de futebol. É mole?
Você passa a impressão de que a carreira está chegando ao fim. Além do título mundial no Japão, faltou uma passagem marcante pela Seleção?
Perdemos no Japão porque fomos cedo para lá e ficamos um tempão sem jogar. Em relação à Seleção, era preciso ralar pra cacete para aparecer. Hoje, qualquer um é bom pra caramba! O marketing está forte.
Por que sua relação com a torcida do Vasco é de amor e ódio?
Porque eu não vou ser mais o Felipe de 97. Tenho 33 anos! Mas só é cobrado quem tem qualidade, né? A torcida do Vasco ficou mal acostumada. Fica esperando aquele futebol de 97, 98... Não sei também se pesa o fato de eu ter jogado no Flamengo. Caramba, eu joguei lá porque, quando voltei da Turquia, recebi um convite do Flamengo, e não do Vasco!
Você também ficou mal com a torcida do Flamengo, por ter jogado uma camisa longe, não?
Que nada... O que mais encontro é rubro-negro me perguntando por que não voltei para o Flamengo. Meu problema foi que, quando joguei lá, não havia grandes jogadores. Éramos eu, Julio Cesar e Zinho. O Ibson ainda estava começando a aparecer. Agora, quero aproveitar pra dizer que tenho uma mágoa do Vasco...
Qual?
Tenho mágoa pelo que fizeram com o Pedrinho. Um ano antes de ir para o Vasco, ele tinha jogado 60 partidas com o Luxemburgo, no Santos. No Vasco, o Renato só botava ele faltando 5 minutos. O Vasco caiu, Pedrinho ficou chorando e não renovaram o contrato.
Você acha que deveriam ter renovado?
Acho. Não sei se para ser titular. Mas ele tinha condição de fazer parte do elenco. Mas agora ele está numa boa. Na semana passada, Pedrinho e Luisinho me ligaram para dizer que estavam num futevôlei. E, eu, concentrado em Volta Redonda. Quero levar a vida desses dois. Vou esperar para curtir só quando estiver com 60?
Qual é a motivação?
É conquistar títulos. Faço parte da história do Vasco, e isso ninguém vai apagar. Gostaria de fazer mais pelo clube.
O Vasco está na briga pela Taça Rio?
Está. O time está numa crescente. É o momento crucial do campeonato. E temos também a Copa do Brasil, né?
Por que o time melhorou depois que PC Gusmão saiu? Estavam entregando?
Se tivesse sacanagem, eu estaria fora. Aprendi uma coisa com o Abel Braga: eu dependia do futebol, e, hoje, eu trabalho no futebol. Se tiver que parar, não morro de fome. Mesmo com o PC, o time ia melhorar. Não tinha como piorar, né?
E o ambiente, hoje?
É ótimo. Ricardo (Gomes) é privilegiado pela comissão técnica que tem. O Cristóvão (auxiliar) é sensacional.
Como surgiu a ideia do restaurante japonês?
A amizade com Alex, meu sócio, vem da praia. Ele já tinha o restaurante desde 2004, e eu era o cliente número 1. Um dia, de férias no Brasil, comentei que gostaria de ser sócio só para comer de graça. Ele me convidou. Mas entendo pouco. Outro dia, fui na Ceasa. Era um fedor de peixe danado!
Seu futuro não será no restaurante...
Posso voltar para o Catar. Como o Mundial de 2022 será lá, o Al Sadd já me convidou para ser diretor de futebol. Eles querem que eu ajude a desenvolver o futebol.
Que dificuldades teve no Catar?
Fiquei pelado no vestiário, e eles consideram isso desrespeito. Eu não sabia (risos). Mas, depois que peguei intimidade, aí eu ficava pelado só de sacanagem. Há outra coisa engraçada: os homens se beijam encostando nariz com nariz. Dei muito beijo assim. Fazer o quê?
Fonte: Marca Brasil