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Bernardo: 'O desafio é manter essa boa sequência'


Domingo, 20/03/2011 - 09:22

O roteiro parecia perfeito na cabeça de Bernardo: contratado por um grande clube, apresentação digna de grandes craques e uma vaga garantida no time titular. Entretanto, não foi essa a realidade que o jovem meia, de apenas 20 anos, se deparou quando chegou ao Vasco. Anunciado apenas como mais uma aposta para o elenco cruzmaltino, o jogador confessa ter sido pego de surpresa com a pouca badalação na chegada, e revela que o episódio foi o grande combustível para que pudesse trabalhar, superar a desconfiança e brilhar no time de São Januário, como fez na última partida, quando marcou três gols e saiu ovacionado pela torcida.

Além do humilde status de aposta para o elenco, bem diferente do que imaginou no começo, Bernardo ainda teve que superar algumas restrições. Taxado por muitos como jogador problemático, que tinha potencial, mas que não iria muito longe, o novo xodó dos vascaínos queria provar que tinha mudado.

Curtindo uma nova fase, apegado à família (a esposa Laila e os filhos Lucca, de 4 anos, e Enzo, de 2) e com uma cabeça mais tranquila, Bernardo sabia que não poderia desperdiçar mais uma chance. Revelado pelo Cruzeiro na Copa São Paulo de Juniores, em 2009, e com passagens sem muito brilho pelo time profissional da Raposa e do Goiás, o meia sabia que era hora de deslanchar, fazendo a então promessa virar realidade para o mundo do futebol.

"Cheguei aqui e só tinha um pensamento. Não queria ser apenas mais uma promessa. Queria deslanchar e sabia que teria que trabalhar muito para isso. Estou no caminho certo, espero manter essa pegada", disse.

Em conversa com a reportagem do UOL Esporte, o jogador mostrou estar arrependido de alguns comportamentos no passado, mas garante ter encontrado a maturidade para desfilar o bom futebol nos gramados, capaz de tornar realidade o sonho de vestir a camisa da seleção brasileira, que ele conhece tão bem.

Como está a cabeça do Bernardo após esses três gols e esse reconhecimento tão grande por parte de torcida e comissão técnica?

Nem no meu melhor sonho eu poderia imaginar isso. Sabia que seria muito difícil, que eu teria que trabalhar muito para conseguir meu espaço, mas não imaginava que fosse tão rápido. Estou extremamente feliz com as boas atuações, com os gols marcados e com a confiança por parte de todos. E estou surpreso também com o carinho da torcida, que tem sido maravilhosa.

O que encontrou de diferente no Vasco que não tinha no Cruzeiro e no Goiás, onde teve passagens apenas razoáveis e não conseguiu brilhar como esperado?

Acho que a principal mudança foi em relação a minha maturidade. Aprendi muito com as pessoas que convivi nesses dois anos. Tive a felicidade de conviver em um grupo que disputou uma final de Libertadores, alguns jogadores que já disputaram Copa do Mundo e isso me ajudou muito. Infelizmente, perdemos aquela final de Libertadores em 2009, mas aquilo ali também me fez crescer, entender que a vida não é feita apenas de vitórias. Esses dois anos foram de muito aprendizado, e o meu objetivo agora, no Vasco, é botar em prática tudo que eu aprendi e que ficou de bom.

Como foi suportar a pressão após a Copa São Paulo de Juniores, em 2009, onde foi a principal revelação, mas que não conseguiu o mesmo sucesso nos times profissionais? Diziam que você, apesar do potencial, era um garoto problemático...

Com certeza, este foi o momento mais difícil. Em função da pouca idade, acabei tomando algumas "pancadas" até que eu pudesse amadurecer e aprender com os meus erros. Não significa que eu era maluco, fizesse um monte de besteira. Não era isso, mas como todo garoto de 18, 19 anos, acabava cometendo alguns erros que custariam caros depois. Em alguns momentos, acabou prejudicando meu jogo, meu desempenho em campo.

Quais foram esses erros?

Não foi nada grave, mas algumas coisas que acabam atrapalhando. Quando você é jovem, faz um joguinho bom aqui, marca um golzinho ali, e acha que já é "o cara", quando não é bem assim. É preciso entender que ainda tenho um longo caminho a percorrer, que não basta um jogo, mas sim uma sequência de bons jogos, bons campeonatos, para poder marcar meu nome em algum lugar. Acredito que essa tenha sido a principal lição. Quando tive essa sequência de jogos aqui no Vasco, e até marquei três gols na última partida, pensei logo nisso. Botei a cabeça no lugar, refleti que ainda não ganhei nada e lembrei que preciso trabalhar ainda mais para continuar evoluindo. Sei que o pensamento tem que ser esse, totalmente diferente do que acontecia antes.

Você acredita que esses erros fizeram com que o Cruzeiro não quisesse mais apostar em você?

Não foi bem isso. Acontece que quando eu retornei ao Cruzeiro, no início deste ano, eu tava com muita vontade de jogar, participar do grupo da Libertadores, mas vi que o Cuca já estava com o planejamento montado e que eu não interessava tanto. Fiquei um pouco chateado, mas também comecei a tocar o que eu pensava ser o ideal. Quase fui jogar em Dubai, mas o acordo não aconteceu, e quando meu empresário me avisou do interesse do Vasco, eu não pensei duas vezes. Era exatamente a oportunidade que eu estava querendo para provar que eu não seria mais uma promessa. Sabia que tava precisando deslanchar, marcar meu nome, e é o que eu vou procurar fazer aqui.

E a chegada ao Vasco, como foi?

Confesso que não foi como eu esperava (risos). Cheguei numa segunda-feira, acertei todos os detalhes do contrato, assinei e achei que ia ser apresentado, mas não foi o que aconteceu. Conversei com meu empresário (Leo Rabello) e ele disse que o Vasco não queria fazer muito alarde, porque eu era apenas uma aposta, que estava chegando para compor elenco. Aquilo ali mexeu comigo, a ficha caiu que eu era apenas mais um, e isso me deu mais motivação para trabalhar e buscar meu espaço, mostrar que a aposta iria valer a pena.

O primeiro objetivo, conquistar seu espaço, já foi alcançado. Quais são os próximos desafios?

O desafio é manter essa boa sequência, mas eu tenho certeza que estou no caminho certo. Atualmente, sou um cara mais tranquilo, procuro me cuidar, estar sempre com minha família, focado no meu trabalho, e isso acaba influenciando positivamente no desempenho dentro de campo.

Apesar do pouco tempo, você já parece bem entrosado, principalmente com o Felipe. Como está sendo esse início de trabalho?

O bom entrosamento com o Felipe dentro de campo é reflexo dos treinamentos. Sempre que chego em algum lugar, procuro ficar do lado de pessoas boas, que possam agregar qualidade ao que estou fazendo, e aqui no Vasco não foi diferente. Desde o primeiro dia, procuro estar sempre por perto. Seja na roda de bobinho, no alongamento, na parte física, nos treinos com bola... Quero estar sempre perto para aprender cada vez mais. O Felipe é um jogador fora de série, que eu sempre gostei de ver jogar. Sabe bater na bola, sabe dar um passe, colocar o companheiro na cara do gol. E está sendo maravilhoso poder trabalhar e ter essa relação cada vez mais próxima. É uma cara que sempre me puxa para conversar, me orienta e me ajuda muito.

Apesar do pouco tempo, já dá pra dizer que o Bernardo é "intocável" nesse time do Vasco?

Estou feliz de ter conseguido essa importância dentro do time. Não posso ser hipócrita, sei que venho tendo boas atuações, estou me empenhando bastante no treino, conquistei minha vaga no time e o Ricardo tá vendo isso. Mas não sou intocável, e é preciso saber que nada está resolvido. Assim como eu preciso jogar ainda mais, mantendo a regularidade, nosso time também precisa vencer cada vez mais, voltando a brigar pelos títulos, que é o objetivo de todo mundo aqui dentro. Estou no caminho certo, tenho que continuar agora.

Fonte: UOL