Tamanho da letra:
|

Juarez Fischer comenta passagem pelo Vasco na captação de jovens


Quinta-feira, 24/02/2011 - 05:21

O fim da peneira no dia a dia dos grandes clubes de futebol coincide com o crescimento do trabalho de Juarez Fischer. Captador de atletas, ele precisa ter bons contatos, relações transparentes, vivência de bastidores e, claro, um conhecimento técnico, tático e físico apuradíssimo. Como se vê, não é algo tão simples, mas cuja boa execução é vital para que uma categoria de base revele gente de qualidade. Até por isso, profissionais como Fischer são cobiçados no mercado.

Prova disso é que ele, um ex-treinador de formação, deixou o Grêmio, no ano retrasado, para atender a um convite de Rodrigo Caetano, diretor executivo do Vasco e, justamente, quem lhe colocou na função que desenvolveu no futebol gaúcho. Recentemente, com a troca de comando dos gremistas, Fischer saiu do Rio de Janeiro por divergências internas, que ele prefere omitir, para voltar à rotina da Azenha.

Nesta entrevista exclusiva concedida ao Olheiros, Fischer fala sobre quase tudo: desafios no retorno ao Grêmio, avaliação sobre o que foi feito no Vasco, o funcionamento da maturação para entender como um jovem atleta pode evoluir e também o assédio do Internacional a garotos de outros clubes. Confira:

Quais as maiores carências da base gremista nesse momento? E quais são seus objetivos?

Vejo como meu objetivo no Grêmio, no setor de avaliação e captação, organizar e estabelecer contatos com clubes, escolas conveniadas e empresários para trazer novos fornecedores para o clube. Quando falamos de carências, todo clube grande sempre está em busca de novos talentos para colocar no grupo de profissionais.

Quando deixou o clube, esperava retornar tão rapidamente? Por que isso ocorreu?

Eu não esperava retornar tão rápido. Isso ocorreu pela circunstância de final de temporada no Rio de Janeiro e o começo de uma nova gestão no Grêmio. Recebemos um convite da direção para retornar e aceitamos.

Como você avalia as mudanças que Paulo Autuori realizou na base do Grêmio, que vinha vencendo e revelando?

Sobre as mudanças realizadas pela outra gestão, vejo pontos positivos como a metodologia de trabalho bem aplicada aos treinamentos dos atletas.

Muitos profissionais dizem que é importante trabalhar no eixo Rio-São Paulo para ter reconhecimento nacional. Você também vê dessa forma? Há algum retrocesso em retornar ao Grêmio?

Ter reconhecimento destes dois centros é muito interessante. Gostei muito por ter passado por esta experiência, trabalhei num grande clube com um apelo popular muito forte e acrecentou muito ao meu currículo. Vi outra realidade e cada clube tem sua peculiaridade. Mas não vejo nenhum retrocesso em voltar para o Sul. Muito pelo contrário, porque o Grêmio é um grande clube com reconhecimerto mundial. Mas também sei que Rio de Janeiro e São Paulo são sem dúvida os grandes centros de representatividade de mídia, economia e também no esporte.

Que balanço você faz da passagem pelo Vasco?

Implantamos o setor de avaliação e captação e a gente definiu alguns critérios. O Vasco já tinha dois avaliadores e colocamos outros três. Coordenamos viagens, trouxe fornecedores que tinha no tempo de Grêmio. São clubes, empresários, centro de treinamentos e escolinhas. O Vasco tem um núcleo que é forte no futebol de salão e o Rio é um mercado diferente, é muito central. O clube tem apelo popular, a camisa é muito forte. Foi uma experiência boa.

E por que você pediu demissão?

Não gostaria de comentar. Foi um belo ano, é um trabalho que o Vasco não tinha. Foi bem legal, conheci várias pessoas, implementamos algumas coisas e fizemos viagens de avaliação. São coisa que não se fazia antes.

Quais critérios se leva em conta na captação?

Elaborei critérios de avaliação para que fossem seguidos. É observação da condição técnica, física, a maturação, o biotipo e a competitivdade. Sigo essa linha de trabalho. Mas no futebol nada é definitivo, as coisas nos surpreendem. Às vezes temos ideias, mas um jogador não evolui e outro sim.

O que é fundamental para esse trabalho dar certo?

Primeiro, temos de trabalhar muito. O setor de avaliação é dentro do amador, mas temos que ter trânsito livre em todas as comissões. Tem de haver transparência e se fazer as avaliações sempre em conjunto. Isso posso dizer que tinha no Vasco.

A peneira realmente morreu?

É difícil. Hoje temos muito centros de treinamentos, escolinhas, e o menino que começa no futebol aos 15 anos já está atrasado. Às vezes, você começa no futebol de salão e daqui a pouco vem para o campo. E ainda há a classe baixa, que é onde os meninos viram jogadores muitas vezes. Vi muito isso no Rio e, no chamado Grande Rio, são mais de 15 milhões de habitantes. É impressionante o número de pessoas e é aí que achamos os talentos. Quanto mais cedo o garoto começar, mais chances há de vingar.

Quais os maiores frutos, objetivamente, desse trabalho no Vasco?

Consegui trazer jogadores de juvenil e infantil, por exemplo, pelos contatos que a gente fez nesse mundo do futebol. Acho que em torno de 30 atletas no total. Mesmo na categoria /90 há jogadores: o Rômulo, por exemplo, observei na Copa São Paulo quando eu ainda estava no Grêmio, em 2010. Ele estava no Porto, de Caruaru, e sempre olhamos o talento independente do clube em que o jogador estiver. Isso acontece muito. Em um primeiro momento, tentamos para o Grêmio, mas não veio. Depois, fomos novamente atrás com o Rodrigo e ele veio para os juvenis. E já virou profissional.

Como se observa a maturação de um jovem atleta?

A gente sempre tem a visão de tentar enxergar lá na frente, no profissional. Sabendo isso, você começa a ver com outros olhos. Sempre, o mais novo, nascido no fim de um ano, tem um lastro maior e a maturação é mais retardada. Se ele já está, como chamamos, maturado, menos vai desenvolver lá na frente. O jogo do profissional é completamente diferente da base, isso precisa se entender. Se erra muito menos do que no júnior ou até nos infantis. É nesta categoria, aliás, que está a nata do nosso trabalho.

Quais os principais critérios em relação a isso?

São duas valências: força e velocidade. É preciso ser muito forte para suportar o embate físico e a competitividade. E isso vem lá de baixo, porque você tem um Vasco e Flamengo aos 12 anos, tem um Gre-Nal aos 14 anos. Isso vai dando competitividade. Se você vê um menino muito técnico e pouco competitivo, às vezes a maturação dele ainda é baixa.

Como está a base do Vasco após sua saída?

Está mais forte, mais ou menos como a equipe profissional. Há mais parceiros, fornecedores, pessoas que levamos e ficam dentro do clube porque há uma credibilidade pelas negociações. Você precisa prometer o que cumpriu. Ainda há dificuldade em relação ao Centro de Treinamento, mas isso não é fácil de se resolver. Há um lastro de muitos anos e um problema dos quatro grandes do Rio.

O que você pode dizer sobre o meia Guilherme, destaque da base do Vasco?

Pode se esperar muito dele. Agora vai para o último ano de juvenil e pegou quase todas as convocações da seleção. É grande, canhoto, pode jogar como meia armador e tem uma bela perna esquerda. Tem força e técnica, deve evoluir nesse ano e, conforme for, já belisca um júnior, o que não é fácil porque a geração de /92 é muito boa.

E a respeito do Yago, atacante da mesma categoria /94?

É muito bom, é outro jogador que tem tudo para jogar nesse ano. É rápido, veloz, um jogador de lado muito atrevido e sem nenhum medo. Precisa de uma preparação especial, porque tem problemas familiares, mas isso é natural. Ele já era titular no time /93, é um jogador especial.

O Vasco andou perdendo jogadores para o Internacional, como o Fernando Baiano, convocado para o Sul-Americano Sub-17. Você acompanhou isso?

Não se perdeu nenhum jogador na minha chegada, mas na troca de direção. Eles fizeram muito assédio a jogadores nossos. Alguns se foram, mas trouxemos de volta porque sabíamos da forma de agir do Inter. Ligamos para eles, porque não agem de uma maneira ética. Assim, recuperamos jogadores lá de dentro. Com meninos de 16 anos, é preciso ter uma relação familiar muito forte, do clube com a família. Você precisa sempre mostrar que está atento e nisso você consegue inibir muita coisa.

O setor de captação no Vasco segue firme sem você?

Acho que sim, porque o Rodrigo Caetano tem um alto nível de gestão. Hoje em dia, isso faz falta nos clubes. Quando fui convidado para esse setor no Grêmio, treinava equipes sub-15 e fiquei surpreso. Aí comecei a trabalhar, viajar, conhecer pessoas e abri minha cabeça. Esse trabalho de captação é essencial, até para se fazer outras relações. Eu trouxe o Elivélton, volante, do União São João. Só de São Paulo foram jogadores do Paulista, do Marília e da Ponte Preta, por exemplo. Há muito jogador por aí.

Fonte: Olheiros.net