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Martinho da Vila: 'Não sou vascaíno doente'
Domingo, 13/02/2011 - 06:24
Martinho da Vila: Renascer das cinzas
O Rio ficou triste com o incêndio ocorrido na Cidade do Samba. A escola mais prejudicada foi a Grande Rio, vice-campeã do ano passado e fortíssima candidata ao título deste ano. A Portela e a União da Ilha, com a solidariedade das coirmãs e da prefeitura, terão condições de se recuperar e fazer boas apresentações. Nenhuma corre o risco de cair, porque já foi decidido que as três não serão julgadas. A disputa será entre Vila, Mangueira, Beija-Flor, Imperatriz, Mocidade, Tijuca, Salgueiro, São Clemente e Porto da Pedra, mas mesmo a que tirar em nono estará no desfile principal de 2012.
Entrevistado pela Regina Casé sobre samba e futebol, eu disse que sou Vila Isabel e Vasco da Gama, e ela me fez um pergunta embaraçosa: “Mais Vasco ou mais Vila?” Nunca havia pensado nisso, mas de pronto eu respondi: “Vila Isabel”. E disse que, quando a Vila não faz um bom desfile, o que é raro, fico com o coração na mão até o dia do resultado. Se foi mal colocada, canto: “Vamos renascer das cinzas, plantar de novo o arvoredo. Bom calor nas mãos unidas. Na cabeça um grande enredo. Ala dos compositores, mandando sambas no terreiro. Cabrochas sambando, cuícas roncando, viola, pandeiro. No meio da quadra, pela madrugada um senhor partideiro. Sambar na Avenida de azul e branco é o nosso papel, mostrando pro povo que o berço do samba é em Vila Isabel. Tão bonita a nossa escola! É tão bom cantarolar. Laraiá, laiaraiá. Laraiá”. Já quando o Vasco perde, fico chateado, mas não sofro, porque não sou vascaíno doente.
Se alguém me goza digo, sem sofrimento, que fomos roubados; que perdemos por falta de sorte. Falo numa boa, sem agredir torcedores adversários. Depois, sozinho penso: “Aqueles caras ganham um dinheirão para jogar bem e não cumprem o seu papel. Não merecem a minha tristeza nem a minha repulsa.” Quando o Vasco ganha eu comemoro, ligo para os “inimigos” e digo que ele é o maior. Pois é, amigos. Sou mesmo apaixonado é pela minha escola e pelo samba em geral. “A grande paixão que foi inspiração do poeta é o enredo, que emociona a Velha Guarda e a comissão de frente como a diretoria. Glória a quem trabalha o ano inteiro em mutirão! São escultores, pintores, bordadeiras, carpinteiros, vidraceiros, costureiras, figurinistas, desenhistas e artesãos...
Gente empenhada em construir a ilusão e que têm sonhos com a velha baiana que foi passista, brincou em ala... Dizem que foi o grande amor de um mestre-sala.” As baianas e demais componentes das escolas atingidas têm razão da tristeza, mas o show tem que continuar e o Carnaval vai ser bom para todos nós. Alegria, gente!
Fonte: O Dia