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Eurico: 'As pessoas que estão lá não possuem amor à instituição'


Sexta-feira, 04/02/2011 - 12:12

Apesar das inúmeras declarações afirmando estar cada vez mais distante da vida política do Vasco, o ex-presidente do clube, Eurico Miranda, mesmo tentando, não consegue se desligar dos problemas vividos em São Januário. A voz mansa, durante a conversa com a reportagem do UOL Esporte, passava longe daquela figura emblemática, que brigava contra tudo e contra todos, e não media esforços para defender o interesse cruzmaltino. Ainda assim, o discurso, mesmo com o passar dos anos, não mudou.

O amor pelo Vasco, que, segundo o próprio, transcende alguns limites e muitas vezes supera o familiar, além de nortear seus pensamentos, é a raiz de todos os problemas vividos pelo clube atualmente. Segundo Eurico Miranda, falta paixão aos atuais comandantes.

“Não adianta querer procurar desculpas para a incompetência. A raiz dos problemas está na falta de amor ao Vasco. As pessoas que estão lá não possuem amor à instituição. Apesar da necessidade de ser profissional, isso não é uma empresa, é um clube. Precisa ter paixão, se envolver, renunciar algumas coisas pelo bem do clube. Faz parte do processo e isso não é feito pela atual administração”, afirmou.

Entre inúmeros assuntos, o ex-presidente criticou, mais uma vez, a atual administração de Roberto Dinamite, a gestão do departamento de futebol, além de afirmar que não irá se envolver, em hipótese alguma, no processo eleitoral a ser realizado no próximo mês de junho.

Atual administração do clube

“Não preciso me estender muito, até porque todos sabem a minha opinião em relação ao atual grupo que comanda o Vasco. Enquanto torcedor, fico envergonhado com o que eles estão fazendo. Estão tratando o Vasco como time pequeno, de Série B. Não sou ninguém para julgar, mas eles (torcedores) estão aí para fazer isso. É lamentável saber que o clube não tem representatividade juntos aos órgãos e federações competentes. Vejo as pessoas fazendo o que querem com a instituição e isso me entristece profundamente. Quando eu saí do poder (2008), eles assumiram com o discurso que iam fazer e acontecer. O que fizeram? Nada. Deixei o clube em sétimo lugar no Campeonato Brasileiro e com boa parte das dívidas equacionadas e bem resolvidas. Eles conseguiram rebaixar o time e aumentar essa dívida em uma escala que não dá para mensurar. Não preciso falar mais nada.”

Gestão do futebol cruzmaltino

“Não entendo como as pessoas conseguiram deixar uma instituição centenária, como o Vasco, na mão de empresários. Quando digo que falta amor, também envolve essa gestão futebol. Eles não querem nem saber do time, estão preocupados em entregar os jovens valores, além dos maiores nomes, na mão de empresários e deixá-los com total liberdade para mandar e desmandar no clube. Não se pode deixar o senhor Carlos Leite, empresários de muitos jogadores ali dentro, fazer o que bem entende. Isso sem falar das inúmeras coincidências que são reparadas no futebol do clube. Sempre as mesmas pessoas, jogadores e grupos de empresários. Eles não estão preocupados com o que a torcida quer ganhar, mas sim com o que eles (empresários) podem ganhar. Isso é uma falta de consideração com os vascaínos.”

Mau momento vivido pelo time

“Esse mau momento vivido pelo time do Vasco é uma prova que as coisas estão sem comando. Batem tanto na questão do profissionalismo e deixam o time perder as quatro primeiras partidas do ano. Que profissionalismo é esse? Que planejamento é esse? Isso nunca havia acontecido na história do Vasco. Isso sem falar na punição imposta aos jogadores na última semana (Carlos Alberto e Felipe). É a prova da incompetência deles para comandar o futebol, que é o principal esporte do clube. Mostraram que não sabem administrar o problema. Houve uma quebra de autoridade e eles tentaram voltar atrás nessa questão. Certas situações não se recuperam. Tiveram uma atitude para amenizar o problema e agora mostram que tudo está de volta ao normal. É lamentável.”

Problemas financeiros da atual gestão

“Esse discurso de querer culpar a antiga administração é uma grande desculpa para a incompetência deles. Assumiram o clube, não tiveram capacidade para administrar e agora colocam a culpa em mim, mas eu estou acostumado. É aquele velho discurso de procurar culpados quando não se sabe fazer alguma coisa. Não conseguem resolver nenhuma questão financeira. É sempre a mesma história. Dizem que não tem dinheiro, mas também nunca buscam soluções. Sempre que a coisa complica, a culpa é do Eurico. Não preciso criticar, eles fazem isso sozinhos. Essa é a grande prova da incapacidade da atual gestão de gerir o clube. O problema ali é de gestão, dedicação, competência e, principalmente, de amor ao Vasco.”

Eleições em junho deste ano

“Eu não serei candidato a nada dentro do Vasco e vou repetir isso sempre que necessário. Hoje, como presidente do Conselho de Beneméritos, minha obrigação é zelar pela organização e pelo bom andamento desse pleito, o que vou fazer com toda a certeza. Quando eles falam que um candidato é apoiado pelo Eurico, é uma clara tentativa de desestabilizar a outra chapa. Afinal eles sabem que não estão bem assim. Não estou apoiando ninguém e que isso fique bem claro. É claro que tenho minhas opiniões, mas não estou fazendo campanha para candidatos. Só sei que o Vasco precisa de mudanças e é preciso que elas ocorram o quanto antes.”

CARREIRA DE EURICO MIRANDA NO VASCO

Com mais de 40 anos de vida política dedicada ao Vasco, Eurico Miranda foi um dos dirigentes mais influentes da história do clube. Em 1968, iniciou sua trajetória no extinto cargo de diretor de cadastro da secretaria. Já em 1969, virou vice de patrimônio, passando ainda pelos esportes olímpicos, áreas jurídica e administrativa, até chegar ao futebol, em 1980, ainda como representante do clube na Federação do Rio. No mesmo ano, Eurico Miranda dava formas ao personagem que brigava contra tudo e todos em benefício do clube. Naquela temporada, começou a chamar atenção ao repatriar o então ídolo Roberto Dinamite, que à época estava no Barcelona-ESP, e, anos mais tarde, se tornaria seu principal inimigo dentro do cenário político cruzmaltino. Daí em diante, se tornou o homem forte do futebol. Além de outras negociações históricas, como os casos de Romário e Bebeto, foi pivô de inúmeras polêmicas. Com o reconhecimento do trabalho, na época de ouro do Vasco na década de 90, ganhou ainda mais força, assumindo, em 2001, o cargo de presidente do clube, onde ficou até meados de 2008. Mesmo sendo derrotado nas urnas para Roberto Dinamite, não se afastou do Cruzmaltino, onde preside até hoje o Conselho de Beneméritos.

TÍTULOS COMO DIRIGENTE

CAMPEONATO ESTADUAL

1987, 1988, 1992, 1993, 1994, 1998 *Todos como vice de futebol e 2003 *Como presidente

TORNEIO RIO-SÃO PAULO

1999 *Como vice de fuebol

CAMPEONATO BRASILEIRO

1989, 1997 e 2000 *Todos como vice de futebol

COPA MERCOSUL

2000 *Como vice de fuebol

LIBERTADORES DA AMÉRICA

1998 *Como vice de fuebol

Fonte: UOL