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Oposição publica íntegra da carta de renúncia de Luso Soares da Costa


Domingo, 23/01/2011 - 23:30

Documento publicado pelo site do movimento de oposição Cruzada Vascaína. Link original: clique aqui

"Ao Conselho Deliberativo do Clube de Regatas Vasco da Gama

Eleito por esse Conselho para exercer o cargo de 1º Vice-Presidente Administrativo, no momento em que apresento minha carta de renúncia, julgo-me na obrigação de, com ela, apresentar as justificativas para tal decisão.

A falta de respeito sob o ponto de vista pessoal, já seria o bastante para uma decisão dessa natureza, mas sempre teria um caráter pessoal. A falta de respeito a pessoas, a funcionários e aos Estatutos do clube, aliada a comportamentos indignos de quem ocupa cargos na diretoria de um clube com o nosso glorioso passado, me levou a não mais ter interesse em conviver. Se não vale a pena conviver, não vale a pena argumentar mas algumas reações devem aqui ser colocadas como exemplo não só de caráter mas de como a força do ódio e de sentimentos inferiores, pode destruir uma instituição.

Inicio pelo, aparentemente, ultrapassado caso do Vice-Presidente Jurídico, Dr. Luiz Américo Chaves.

Por se tratar de um profissional honesto, no dia seguinte ao da posse, me deu conhecimento do seu pleito por remuneração, dada a necessidade de uma dedicação quase integral. Prontamente, lhe disse que não só os Estatutos não permitiam, como sob o aspecto moral, naquele momento, era uma reivindicação a ser esquecida e que pensasse em formas de remuneração outras, desde que sustentáveis.

Antes da posse, entretanto, ainda desarmados os espíritos pela inebriante vitória, estranha interferência apresentara a sugestão, aceita, de ficar a administração do clube com o 2º Vice- Presidente, diante da inexperiência do Presidente Administrativo e do fato de o 1º Vice-Presidente, sendo engenheiro, melhor ficar com o Patrimônio. Sem que se percebesse, tinha início a primeira fase de um processo de domínio.

Passados 15 dias, comunicada a desistência do Dr. Benjamim Nasário da Vice-Presidência de Finanças, no dia seguinte, o Dr. Mandarino passou a acumular o cargo.

O Dr. Luiz Américo foi a ele, falou das impossibilidades que eu apresentara e o Dr. Mandarino deu a ¨solução¨, arranjando um parecer que permitia ao Vice-Presidente Jurídico ser remunerado, mas essa posição deveria ficar somente do conhecimento deles dois e do Presidente. O Dr. Luiz Américo argumentou que queria tudo às claras, já que justo, mas a resposta foi de que, politicamente, seria melhor.

Só em novembro, diante de denúncias e de documentos, todos tomaram conhecimento do relatado. A partir daí, mais que da oposição veio da situação, uma forte necessidade de queimar e afastar, rapidamente, o Dr. Luiz Américo, para que nele fosse jogada toda a culpa, culpado menor e mais indefeso.

Nesse mesmo período, tivera início a segunda e insidiosa fase do domínio, através do desgaste. Para diversos Vice-Presidentes, individualmente, o Dr. Mandarino afirmou que era o Luso quem vazava para a Imprensa, os assuntos discutidos em reuniões de Diretoria. Ao mesmo tempo, passou a designar as reuniões de Diretoria de¨assembleismo¨, em que nada se decidia. Logo em seguida, o Presidente passou a dizer o mesmo, apesar das posições contrárias de outros Vice-Presidentes e tivemos um período em torno de 3 meses sem reuniões. Roberto Dinamite, Mandarino e Luiz Américo decidiam tudo, em geral, em reuniões no centro da cidade.

Também em novembro, tomei conhecimento dos fatos acima e fui ao encontro do Presidente da Assembléia, Dr. Olavo Monteiro de Carvalho que confirmou ter também ouvido do Dr. Mandarino a referida calúnia e que eu deveria falar com o Presidente pois, provavelmente, este também estaria sob essa influência.

Diante do então caos administrativo e financeiro do clube (palavras do Presidente ) e já que Mandarino só pensava em futebol, veio a decisão de um novo Vice-Presidente Financeiro, passando o Dr. Mandarino a ocupar a Vice do Futebol.

Em dezembro, consegui uma reunião com o Presidente, quando pude relatar o que estava acontecendo. Como ele havia dado carta branca ao Dr. Mandarino e não sabia sequer os salários dos novos jogadores, disse-lhe, bem claramente( exponho aqui e agora, por já ser de conhecimento público):

- ¨Roberto, com o time na 2ª Divisão, se vier o despejo da Barra, se não conseguir o patrocínio da Eletrobrás e se vazar para a Imprensa que você não sabe nada sobre os salários, você ficará em péssima situação. ¨

O Presidente garantiu que pediria a relação completa dos jogadores e gostaria de contar com meu apoio pois, em breve, as questões seriam resolvidas.

Não só não foram bem resolvidas como outras questões foram adicionadas ( Vasco-Barra, Luso Arenas, o vergonhoso desrespeito ao Desembargador Nei Fonseca )

Ao fim de 2009, em nova reunião com o Presidente, comuniquei que se tudo continuasse, não renunciaria mas passaria a ser um dissidente declarado.

Em abril( ou maio ) de 2010, o Presidente se fez acompanhar do Dr. Nelson Rocha e do funcionário Rodrigo Caetano em viagem à Europa, da qual tomei conhecimento através da Imprensa, o que me fez estar presente em São Januário, nos dias seguintes, para aparentar conhecimento prévio e salvaguardar sua posição.

À sua chegada, na Tribuna de Honra com diretores do clube visitante, inquiri se tinha sido feliz no contato com os alemães (caso Carlos Alberto) e com os italianos (caso Felipe Coutinho), procurando justificativa para a forma daquela viagem. O Presidente me respondeu que tinha somente ido a Portugal, em viagem muito agradável.

Nos dias que se sucederam, tive nova reunião com o Presidente, cobrando uma necessária e respeitosa comunicação de ausência do país ao que o Presidente retrucou que não se julgava obrigado a isso. Diante do fato, comuniquei que não mais voltaria àquele Gabinete a não ser se convocado, mas não renunciaria.

Durante 2009, recebi cartas de um vascaíno anônimo, cobrando de mim posições a respeito, principalmente, de ¨negócios ¨envolvendo o Chefe do Gabinete. Por se tratar de cartas espúrias, não dei guarida mas procurei verificar alguma possível veracidade nas acusações, como julgava ser minha obrigação.

Em 2010, recebi um CD com gravação de trechos de reuniões de Diretoria, a denunciar que o anônimo possuía muito mais, acompanhado de carta em que exigia uma posição a respeito e dizia ter mandado cópia aos Grandes Beneméritos Antonio Lopes Caetano Lourenço e Nelson Gonçalves, pois em conversas gravadas, eu teria feito alusões aos mesmos como pessoas corretas. Com o CD, cobrava dos mesmos, o acompanhamento das minhas posições nos casos que ele próprio elencava. Entrei em contato com ambos para que me comunicassem, no caso de recebimento.

Numa 5ª feira, o Dr. Nelson Gonçalves acusa o recebimento do CD e combinamos manter sigilo, já que não poderíamos alimentar tal prática.

No sábado, recebo nova carta, dizendo que não sossegaria enquanto eu não colocasse tudo às claras.

Na 2ª feira, apresentei ao Conselho de Beneméritos o caso, solicitando:

a) que não fosse, ali, ouvida a gravação por não ter mérito próprio, relatando alguns casos nela contidos, no sentido de esvaziar seu conteúdo e impedir a continuidade desse procedimento;

b) que aquele Conselho deveria respeitar o poder representado pelo Presidente Administrativo, da mesma forma que o Presidente deveria respeitar não só aquele Conselho como os demais poderes do clube.

Assim foi feito, conforme pode ser comprovado na gravação das reuniões do Conselho de Beneméritos, medida feliz, adotada pela presidência daquele Conselho.

Consequências:

1. Assim que solicitei a reunião do Conselho de Beneméritos, recebi emails agressivos de uns poucos vascaínos. A agressividade é plenamente justificável pelo desconhecimento de circunstâncias, pelo envolvimento de que foram vítimas e, principalmente, pelo que, mais adiante, será apresentado. Devo salientar, no entanto, que o conteúdo do email de um chefe de torcida organizada e do conselheiro que foi colocado como interlocutor junto às torcidas, era, basicamente, o mesmo. O conselheiro, Sr. Agostinho Taveira, perguntava por que eu não me manifestara quando da expulsão de conselheiros do MUV. Responderei mais adiante.
2. O Sr. Mandarino enviou correspondência ao Presidente, dizendo que ao tomar conhecimento da minha posição junto ao Conselho de Beneméritos com as gravações, não mais estaria presente às reuniões de diretoria com minha presença, Os senhores Mandarino e Nelson Rocha deram início à pressão para os demais vice-presidentes assim se manifestarem, não conseguindo dobrar o caráter de José Roberto Gomes da Costa.

Deve ser ressaltado que nenhum, nem um dos Vice-Presidentes Beneméritos esteve presente a essa reunião do Conselho. O Sr. Mandarino não poderia estar presente mas não poderia perder a oportunidade de tacada final. Já o Sr. Nelson Rocha, é um caso à parte.

Ainda em 2009, falei com o meu amigo e Grande Benemérito José Maquieira, presidente da Comissão de Reforma dos Estatutos, que julgava não só conveniente como necessário, ser criado um dispositivo que impedisse ser o Vasco tão usado como trampolim de carreiras políticas, deixando bem claro que isso não fosse válido para as eleições 2010, para não prejudicar as candidaturas existentes. Na ocasião, o Dr. Maquieira achou que, embora importante, era uma questão delicada e admitiu que a hipótese de um licenciamento de 6 meses para os postulantes, talvez fosse uma alternativa.

O Sr. Nelson Rocha sabia de minha opinião e ainda, de que eu fora contrário à colocação de out-door de agradecimento de Nelson Rocha e Roberto Dinamite no fim de ano, por ser um interesse agressivo demais. Nunca houve, de minha parte, uma questão pessoal e fiz ver ao Presidente que comigo concordou.

Em reunião de Diretoria, entrei em litígio com o Dr. Nelson Rocha por determinações julgadas por mim desrespeitosas com os funcionários do Vasco, em especial, o posteriormente falecido, Murilo, administrador do Estádio. Na discussão, aliou-se a Nelson, o Sr Mandarino e, a partir daí, firmou-se um difícil relacionamento com ambos.

A prevalência do ódio e de sentimentos inferiores.:

Antes da última reunião do Conselho Deliberativo, um conselheiro, conversando comigo, ironizou a observação do Conselho de Beneméritos da conveniência de contrato de Risco de Engenharia (Performance Bond) para as obras em São Januário a serem efetuadas pela Prefeitura. Esclareci que a observação havia sido de minha autoria mas a ironia permaneceu.

Sendo esta, espero, minha última participação no Conselho, sinto-me à vontade para esclarecer minha posição nesse caso e na vida pública e que exigiriam um respeito que é devido a qualquer cidadão e que sempre me foi ofertado em todas as instituições de que participei, inclusive no Vasco da Gama.

Fui o 1º Professor de Inspeção de Riscos de Engenharia no Brasil e durante alguns anos, o único, até ser convidado por órgão governamental, o IRB, para preparar engenheiros para a especialidade, o que fiz durante 2 anos nas principais capitais do país. Fui o único engenheiro não vinculado ao Mercado Segurador, a participar da criação da Tarifa de Seguro de Riscos de Engenharia, adaptando as Normas suíça e alemã e na visitação e análise dos riscos petroquímicos, nucleares e usinas hidrelétricas.

Como empresário, além de ter sido sócio diretor por 50 anos, de tradicional empresa do comércio de materiais de construção, fui Presidente do Sindicato patronal do setor por 30 anos, Presidente de Federação do Comércio e, eventualmente, do SENAC e do SESC.

No Clube de Regatas Vasco da Gama, sócio há 67 anos; nos anos 50, um dos mais novos conselheiros do clube; nos anos 60, como engenheiro convidado, fiz parte da Comissão Julgadora dos projetos para o prédio de 25 andares de nossa Sede Social à Av. Presidente Vargas, de triste memória; nos anos 80, Vice-Presidente de Esportes Amadores e Vice-Presidente do Departamento Infanto-Juvenil.

Outros fizeram mais, com certeza, mas assim como meu pai tinha orgulho por ter ajudado anonimamente, a erguer o Estádio de São Januário, sinto orgulho por ele, pelo que pude fazer e pela credibilidade adquirida por 50 anos de trabalho, com respeito ao próximo e às instituições de que faço parte.

Entendo que a mídia vascaína faça críticas e permaneça em constante alerta, o que é salutar em um sistema democrático, desde que, para o bem do Vasco, sem ironias maldosas ou até mesmo pejorativas que afastam as pessoas de bem que não querem ser dessa forma envolvidos.

O Casaca, como Oposição, me acusou de omissão e acho que tem razão, se não considerar que essa omissão foi, acima de tudo, a de manter uma expectativa de harmonia administrativa que nunca foi possível.

O Só Dá Vasco, como Situação, me acusou de forjar as gravações e também acho que tem razão aparente, pois a minha voz é bem mais clara, o que pressupõe maior proximidade. Como Engenheiro de Riscos, sempre mantive contato com colegas da Polícia Técnica e ao ouvi-los, a conclusão foi de que ou o gravador estava comigo ou no forro ou na mesa, mais próximo de mim.

Ambos não me conhecem e têm razão de não pensar em 50 anos de probidade e de 60 anos de Vasco, sem nunca participar de calúnias ou de movimentos escusos, visando prejudicar terceiros com maledicências. Não deixam, no entanto, de ser uma referência, como exemplo do ódio a que adiante nos referiremos.

Não sinto tristeza ao ler as declarações do Vice-Presidente José Mandarino, em ataque desnecessário, de que nada muda com minha saída já que perante ele e seus pares, eu era ímpar. Pelo contrário, concordo e reafirmo: Perante ele e seus pares, eu sou ímpar.

Não sinto tristeza por ser o único Vice- Presidente não Grande Benemérito. Pelo contrário, espero que nunca me tirem esse orgulho de não ter feito parte, nunca, de facções que permanecem, sempre, em defesa dos seus amigos, dos seus interesses, de suas vaidades, de suas ambições, sem voltarem seus pensamentos para o destino e o futuro do Vasco.

Não sinto tristeza quando ouço de um Grande Benemérito que eu estava causando grandes danos ao clube ao ir àquela reunião do Conselho de Beneméritos.

Há 25 anos, o Presidente Antonio Soares Calçada, ciente das minhas preocupações, me designou para preparar o Planejamento Estratégico do clube. O Vice-Presidente de Patrimônio, achando que estava sendo diminuído em sua importância, pediu apoio a um líder de sua facção para que pressionasse o Presidente para botar abaixo a decisão. Calçada falou comigo sobre a pressão, o deixei à vontade e ambos julgamos melhor deixar tudo como estava. Perdemos mais 25 anos.

O Grande Benemérito era o mesmo. No entanto, devo dizer que ele é uma figura importante e que age, certo de que está fazendo o melhor para o clube, nunca pensando que poderá estar causando mal, ao interferir no caminho natural das coisas.

O grande Eça de Queiroz já dizia que um problema mal resolvido, escondido, não está resolvido.

Assim, o ódio que se instalou há mais de 30 anos, foi escondido mas não resolvido.

Para boa governabilidade do Vasco, em 1985, as facções Calçada-Eurico se uniram e vivemos bons momentos de paz e evolução mas os sentimentos permaneceram, ocultos.

Bastou que ambições e vaidades superassem os interesses maiores do clube para que mágoas passadas eclodissem, até mesmo por conveniência de muitos que não faziam parte daquele passado, pois a manifestação de ódio realça personalidades. O ódio é mais forte que o amor, mesmo que não tão duradouro.

Ainda na reunião de 30 de dezembro, ao imaginar como seria importante, reunirmos figuras antagônicas, adversário políticos, em torno de uma mesa para juntos participarem de um processo de união redentora, fui aparteado por um conselheiro, a dizer que jamais sentaria com um inimigo político e aduziu: -¨Por que você não participou no caso da expulsão de membros da antiga oposição?

Por ser a manutenção do ódio tão importante, o conselheiro não percebeu que a presença permanente minha e de Hércules Figueiredo, e, principalmente, a atuação deste, no Conselho de Beneméritos, foi que deu ensejo à comutação das penas àqueles associados, em 12 de julho. Com certeza, não foi a ausência dos beneméritos da situação.

Tinha a intenção de provocar uma reunião dos Presidentes dos Poderes para alertar sobre a necessidade de respeito entre eles, independentes das diferenças pessoais.

No caso do Dr. Eurico Miranda, o fato de ser Oposição não o desobriga de manter seus direitos e obrigações e assim tem sido, de forma inegável, em defesa dos interesses do clube.

No caso do Presidente do Conselho Fiscal, Dr. Hércules Figueiredo, talvez o primeiro no cargo a agir com isenção e independência, tem sobre si, as acusações de ser muito correto, o que seria risível se não fosse vergonhoso.

A desconsideração e o desrespeito à sua atuação vêm num crescendo, até atingir o inimaginável neste último mês de dezembro, levando o Conselho Fiscal a comunicar que suas reuniões só voltariam a se realizar, após formal pedido de desculpas.

Estava ainda, propenso a reunir Calçada e Eurico num grande abraço de paz mas alguém o fará.

Paz por tudo que já fizeram pelo Vasco e por ser aquele gesto o maior de suas histórias, ao não deixar que o ódio não só permaneça mas que se alastre.

Nesse dia, também os Presidentes dos Poderes se unirão e se respeitarão e mesmo que seja por interesse de preservar suas biografias, o resultado será a redenção.

Nesse mesmo dia, os conselheiros donos da verdade, na realidade, donos das suas verdades, se cumprimentarão e alguns, até se abraçarão, sem precisar pedir desculpas pelas ofensas praticadas como multidões enfurecidas.

Permitam-me sonhar.

Nesse dia, fruto de todo esse estado harmonioso, a administração discutirá e dará satisfações, abertamente, de todos os problemas, antigos e novos, do nepotismo ao desrespeito, da redução da folha de salários, dos contratos e contratações justificadas e das relações familiares, sem sombras.

Despeço-me da vida política do clube e só me pronunciarei se necessário algum esclarecimento ou sobre questões atuais e futuras, sempre no sentido de ser construído para nosso clube, um presente e um futuro de acordo com sua grandeza.

Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2011

Luso Soares da Costa
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Fonte: Cruzada Vascaína