Ano novo, técnico velho. A virada do ano se aproxima com uma curiosidade na administração dos clubes do futebol brasileiro. Pela primeira vez desde a implantação do sistema por pontos corridos, os 12 principais times do país vão soltar fogos no reveillon empregando os mesmíssimos treinadores do fim da temporada anterior. A dois dias de 2011, não há rumor de demissão nas esquadras tradicionais.
O Correio apurou o número de trocas de comando desde a passagem de 2002 para 2003. Na virada de 2006 para 2007, por exemplo, 10 dos 12 clubes mantiveram os seus técnicos. Cruzeiro e Palmeiras foram as exceções. No início de 2006, metade dos times mudou de treinador. Portanto, a contagem regressiva para 2011 é histórica. Se não houver aviso prévio até o dia 31, Dorival Júnior, Joel Santana, Tite, Cuca, Vanderlei Luxemburgo, Muricy Ramalho, Renato Gaúcho, Celso Roth, Luiz Felipe Scolari, Adilson Batista, Paulo César Carpegiani e Paulo César Gusmão não darão entrada no seguro desemprego.
Terceiro colocado no Mundial de Clubes da Fifa, Celso Roth balançava no cargo, mas não caiu. Nem mesmo a eliminação nas semifinais diante do Mazembe, da República Democrática do Congo — no maior vexame da centenária história colorada — foi capaz de impedir a renovação do contrato até o fim de 2011. Até Joel Santana, famoso por suas longas negociações por onde passa, pensou pouco na hora de esticar o acordo com o Botafogo. Assinou três dias depois do encerramento do Campeonato Brasileiro.
A manutenção dos técnicos não representa mudança na gestão dos clubes. Longe disso. É sintoma do mercado. Ruim com o atual treinador, pior sem ele. Na visão dos dirigentes, os nomes disponíveis no mercado são pouco atraentes e confiáveis. Além disso, os melhores sonhos de consumo estão empregados longe do brasil, têm contratos longos e ganham altos salários. Basta um técnico ficar na corda bamba em terras tupiniquins para o telefone de um nome top como o de Abel Braga tocar lá nos Emirados Árabes Unidos. Impossível é pagar a multa rescisória ou convencer o Al Jazira a liberá-lo.
Pressa
O Santos é um exemplo de clube atento aos movimentos do mercado. Depois de demitir Dorival Júnior, o Peixe agiu rápido e sigilosamente. Adilson Batista foi apresentado em 9 de novembro. Desde então, faz o planejamento para 2011 e só não estreou oficialmente porque não quis. O ex-treinador do Cruzeiro e do Corinthians preferiu observar o elenco liderado pelo interino Marcelo Martelotte.
Outro fator decisivo na manutenção dos técnicos é a falta de credibilidade na Europa. Na virada de 2004 para 2005, o Real Madrid apostou em Vanderlei Luxemburgo. O clube merengue arrancou o treinador do Santos, Luxemburgo não teve sucesso na Espanha. Campeão mundial com o Brasil em 2002; vice da Eurocopa em 2004 à frente de Portugal e quarto colocado na Copa da Alemanha, em 2006; Felipão conquistou o voto de confiança do Chelsea em 2008, mas também fracassou. De volta ao país, teve a carteira assinada pelo Palmeiras, onde resiste bravamente aos assédios do Oriente Médio.
São Paulo
O tricolor paulista é o clube mais estável entre os 12. A última vez que a diretoria trocou de técnico na virada do ano foi em 2005, quando Paulo Autuori — então campeão mundial — deixou o cargo para a entrada de Muricy Ramalho. Depois de Muricy, Ricardo Gomes (2010) e agora Paulo César Carpegiani (2011) iniciam a temporada empregados pelo hexacampeão brasileiro.
Veja quem são os técnicos do "G-12"
Memória
Rio repete feito de 2007
Muricy Ramalho levou o Fluminense ao título brasileiro após 26 anos. Além de levar o Botafogo ao título carioca, Joel Santana fez o Botafogo brigar por vaga na Libertadores até a última rodada. Paulo César Gusmão garantiu um fim de ano tranquilo para o Vasco no primeiro ano pós-Série B. Vanderlei Luxemburgo evitou de forma dramática o rebaixamento do Flamengo. O prêmio dos quatro? Continuar no cargo em 2011. Instável, o futebol carioca não via seus clubes começarem o ano com o mesmo técnico desde 2007, quando Cuca (Botafogo), Ney Franco (Flamengo), Paulo César Gusmão (Fluminense) e Renato Gaúcho (Vasco) deram continuidade ao trabalho.
Em caso de demissão saíba a quem recorrer...
» Abel Braga
Campeão mundial em 2006 à frente do Internacional, está no Al Jazira, dos Emirados Árabes Unidos.
» Osvaldo de Oliveira
Campeão brasileiro em 1999 pelo Corinthians, vai para a quarta temporada no Kashima Antlers.
» Caio Júnior
Depois de bons trabalhos no Palmeiras e no Flamengo, continua no Al-Gharafa, do Qatar.
» Paulo Autuori
Campeão da Libertadores e Mundial pelo São Paulo em 2005, lidera o Al-Rayyan, do Qatar.
» Levir Culpi
Campeão da Copa do Brasil de 1996 pelo Cruzeiro, dirige o Cerezo Osaka, do Japão, desde 2007.
» Jorginho
Auxiliar de Dunga na Seleção e com passagens por América-RJ e Goiás, está desempregado.
» Dunga
Campeão da Copa América e da Copa das Confederações pela Seleção Brasileira, está desempregado.
» Emerson Leão
Campeão brasileiro em 2002, não arranja emprego desde o pedido de demissão do Goiás.
» Silas
Campeão gaúcho pelo Grêmio, não trabalha desde a demissão do Flamengo.
» Mário Sérgio
Está desempregado desde a saída do Ceará.
» Andrade
Campeão pelo Flamengo em 2009 e rebaixado com o Brasiliense, voltou a ficar desempregado.
» Ricardo Gomes
Não consegue emprego desde a demissão do São Paulo na eliminação da Taça Libertadores.
» Vágner Mancini
Rebaixado com o Guarani, está distribuindo currículo.
» Estevam Soares
Está solto no mercado depois de ser demitido pelo Ceará no Brasileirão
Estatísticas e curiosidades
As trocas de técnico na virada do ano
2003-2004
5 mudanças, 7 manutenções
2004-2005
5 mudanças, 7 manutenções
2005-2006
6 mudanças, 6 manutenções
2006-2007
2 mudanças, 10 manutenções
2007-2008
5 mudanças, 7 manutenções
2008-2009
3 mudanças, 9 manutenções
2009-2010
4 mudanças, 8 manutenções
2010-2011
12 manutenções
Fonte: Superesportes