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Ex-vice de marketing J.H. Coelho comenta acordo entre Vasco e Habib's
Quinta-feira, 16/12/2010 - 10:04
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"José Henrique Coelho
Ex-vice de marketing do Club de Regatas Vasco da Gama.
Terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Uma Diretoria de “Grandes Negócios”
Foi anunciado pela diretoria na passada quarta feira, 8/12, um acordo relativo ao “caso” Habib’s. O Vasco terá que pagar a empresa um valor de R$2,304 milhões até 15 de janeiro pelo rompimento unilateral de contrato, “negociado” apenas após ter perdido na justiça todas as “tentativas atrapalhadas”. Além desta quantia, superior a própria multa do contrato, terá de pagar mais R$ 760 mil reais ao escritório da filha do V.P. Jurídico, depois de ter deixado passar 30 meses para “negociar” este tipo de “acordo”. Caso não pague no prazo o acordo não terá validade.
Histórico
Quando a nova diretoria assumiu o clube em 2008, muito já se sabia daquele contrato, tanto do prazo de cinco anos como do valor da multa rescisória de R$3 milhões, que pró-rata/ano indicava um valor para negociação de R$600 mil por ano “descumprido”. A surpresa se deu com os compromissos de espaço para a “nova loja Habib’s” onde a antiga diretoria tinha “negociado” o mesmo local também com o proprietário do restaurante e da loja de material esportivo.
Em agosto de 2008 iniciei como V.P. de Marketing uma série de reuniões com os representantes da empresa, visando à renegociação do contrato, sempre acompanhado de outros membros da diretoria. Informei à diretoria que o valor avaliado da manga era em torno de R$ 4,5 milhões/ano. A cada mês que passava perdíamos R$ 350 mil, pela diferença entre o valor de mercado e aquele negociado pela antiga diretoria, em mais um contrato da “herança maldita”, mas que fora assinado em nome do Vasco. A minha estratégia era a mesma que teve sucesso na rescisão com a Reebok. Negociar para encontrar o acordo ou efetuar uma rescisão amigável, como foi o caso, o único dos últimos anos na história do clube. Naquele caso conseguimos ainda um desconto de 40% sobre o valor da multa contratual. Economizamos R$300 mil para o clube.
Em janeiro de 2009, estive para me encontrar com o presidente da empresa em São Paulo acompanhado do V.P. de Patrimônio, mas este encontro foi adiado.
Em fevereiro de 2009 renunciei por não concordar mais com o “padrão dos negócios” encaminhados pelo novo presidente.
A “negociação”
Após minha saída a diretoria não conseguiu nenhuma evolução e passados mais treze meses, a atual V.P. Jurídica tomou a iniciativa de romper o contrato unilateralmente, sem qualquer acordo ou indenização, descumprindo a promessa de campanha de não rasgar contratos. Uma atitude que repetiu os procedimentos tão criticados na diretoria anterior que nos proporciona hoje o imenso passivo existente. O próprio clube sequer disponibilizara à empresa a área para a construção prevista em contrato. Desta forma a empresa agiu para se defender e conseguiu na justiça a restituição de seus direitos de contrato, impondo inclusive uma pesada multa por descumprimento de decisão judicial. Com isto o Vasco tinha entrado no pior dos mundos: - com um contrato ruim, depois descumprido e por último mantido por uma decisão da justiça, em São Paulo. Não haveria cenário pior para se tentar uma nova “renegociação”. Sem estratégia, incompetência maior, impossível.
“O Grande Negócio”- comparando custos
Para entender melhor este “negócio” é preciso saber que em julho de 2008 o V.P. Jurídico da época contratou um reconhecido escritório de advocacia cível, pelo custo unitário de R$333,00 por ação/mês, incluídas neste lote todas as ações de grande e pequeno valor, no Rio ou em São Paulo (excetuando-se as ações do juizado especial em que o valor era de R$80,00 por ação/mês. Este escritório permanece com o contrato em vigor, prestando serviços normalmente e em ações de valor e complexidade até superior ao do caso Habib’s, como no caso do C.T. Vasco-Barra e Penalty.)
Em março de 2010 quando a Habib’s ajuizou a ação contra o Vasco, a nova V.P. Jurídica “acertou com o Presidente” a contratação do escritório da filha do próprio V.P. Jurídico, com notório saber em advocacia imobiliária, instalado no imóvel do próprio pai e vizinho dele, para defender o clube nesta ação cível, de direito comercial. A remuneração dos serviços jurídicos terá um custo direto de R$710 mil, sendo uma parte paga em 20 parcelas de R$15 mil desde a assinatura do contrato, R$300 mil, e a outra parte, 20% do valor do acordo, R$460 mil, paga junto com o acordo, num processo que durou apenas 10 meses, ou seja, a um custo de R$71 mil por mês. Quanto maior o valor do acordo, maior os honorários. Não se encontram aí incluídas todas as despesas de viagem, hospedagem, alimentação e demais despesas, pagas também pelo Vasco.
Quem ganhou?
O Habib’s recebeu pela rescisão R$2,304 milhões, mais do que o dobro do que pagou ao clube durante os três anos que durou o contrato. Recebeu ainda neste período o valor de R$13 milhões em mídia espontânea pela veiculação de sua marca em nosso uniforme, placas e no estádio, além de vender suas esfihas e quibes. Por todos estes benefícios pagou R$300 mil por ano e 6%sobre o faturamento dos bares ao Vasco pelos 35 meses de contrato.
O escritório de advocacia da filha do V.P. Jurídico receberá por 10 meses de “trabalho” R$760 mil, valor que o outro escritório levaria 190 anos para receber por uma única ação.
O Vasco ficou com a conta para pagar: R$3.014.501,00
Depois de ter perdido R$12 milhões em receitas no período 2008/2010 por conta de um mau contrato mantido pelas duas diretorias, ainda terá de pagar mais R$2.052 milhões ao Habib’s pela rescisão do contrato e mais R$252 mil, já depositados, pela multa por descumprimento de decisão judicial do seu jurídico no processo e ainda mais R$760 mil ao escritório da filha do V.P. Jurídico.
Em síntese, a antiga diretoria assina um contrato prejudicial ao clube, a nova diretoria rompe o contrato como no passado, é acionada na justiça, descumpre decisão judicial como no passado e o Vasco é quem paga a conta, como sempre. A nova diretoria pagou para divulgar o Habib’s e fez mais um contrato “de pai para filho” e aí eu pergunto:
Quem vai defender o Vasco do seu jurídico e de seu presidente que assina qualquer contrato para com os amigos?
Será que os demais Vice-presidentes do clube têm o conhecimento de todos estes fatos? E os Conselhos do clube que providências tomarão? Onde estão os inimigos do clube?
É indiscutível que os termos do contrato não interessavam ao clube. Todos já sabiam.
Depois de pagar toda esta conta, a diretoria quer que só se enxergue à vantagem de poder negociar um novo patrocinador.
Para nós torcedores, que somos “malucos pelo Vasco”, a pergunta:
Quando vamos gritar novamente “é campeão”?
Assim só nos resta esperar um Feliz Ano Novo."
Fonte: Supervasco