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Ex-vice de marketing José Henrique Coelho comenta a política do Vasco


Quarta-feira, 01/12/2010 - 10:22

Artigo publicado no site Supervasco:

"José Henrique Coelho

Ex-vice de marketing do Club de Regatas Vasco da Gama.

Terça-feira, 30 de novembro de 2010

Como Fazer Oposição?

Como ser oposição se um dia chegamos ao governo e o poder é muito mais um instrumento capital para retribuir favores e não para tentar melhorar o mundo, servindo a este mundo?
Se tudo se dividia entre nós e eles, mocinhos e bandidos, revolucionários e reacionários, vira de ponta-cabeça e agora “nós somos eles”, como fazer?
Normalmente, vamos por partes. Os mais próximos primeiro; depois os outros e o que sobrar vai para a sociedade. Mas o que ocorre quando a demanda igualitária aumenta e a mídia aproxima governo e governados, revelando suas incríveis proximidades? Mostrando como os hábitos ficam, embora a ideologia troque de lugar? Exibindo que, no fundo, todos são muito mais parecidos do que pensávamos?
A resposta, amigos, se resposta existe, é que não pode haver oposição se não há diferença. Democracia tem truques, mas ela não suporta uma ética de condescendência, um espírito com dois pesos e duas medidas.

O texto acima foi escrito pelo antropólogo Roberto DaMatta e publicado em sua coluna no jornal O Globo no passado dia 17/11 e nos serve para entender as práticas políticas também no nosso clube.

No período entre 2001 e 2008 o quadro social estava dividido politicamente em três partes: - situação, oposição e os “em cima do muro”, aguardando o desfecho da disputa para se aproximarem do vencedor.

Entre 2001 e 2008, situação e oposição tiveram discursos sempre muito claros:
- A situação dizia que o clube nada devia ao governo, que não tinha patrocínio porque só aceitaria “o valor que o Vasco merece”, justificava a falta de êxito esportivo pela prioridade no ajuste administrativo-financeiro, que a causa dos seus problemas eram provocados pela oposição e que o modelo de administração deveria ser com base em diretores amadores.
- A oposição fiscalizava e acompanhava a administração, informando aos vascaínos tudo que era descoberto: - que as dívidas fiscais eram enormes, o leilão do nosso estádio fora autorizado pela justiça federal, anulação da cessão do terreno de Duque de Caxias, que a falta de patrocínio era por falta de credibilidade, balanços e orçamentos mentirosos, cadastro de sócios fraudado para adulterar resultados eleitorais, clube-réu em processos por rompimento de contratos, causando mais e mais prejuízos, um clube insolvente que teve de caminhar para a “terceirização” do departamento de futebol, sem resultados.

O MUV cumpriu durante anos o seu papel de oposição, de fiscalizar, de denunciar e de apresentar suas propostas para os vascaínos, como a profissionalização da administração do clube, a defesa da legalidade e a defesa da negociação com os parceiros, entre tantas medidas.
Éramos realmente diferentes da situação.

Depois de quatro anos a justiça se pronunciou! Marcou eleições em 2008, regulou o pleito e colocou ordem numa eleição que era realizada pela diretoria para se perpetuar no poder. Foi assim que a oposição ganhou uma eleição depois de vinte e oito anos, virou ponta-cabeça.

A esperança vencera! O clube poderia retomar seu destino de vencedor.
A primeira mudança veio com os novos dirigentes: - um ar mais simpático e sem a antiga arrogância e com o clube mais aberto.

Qual foi à surpresa? O presidente que deu o exemplo.
“Às favas” com os compromissos de campanha, não eram mais necessários. Venci a eleição, deve ter pensado o presidente, que no fundo o que desejava era exercer o poder, para o que lhe fosse conveniente: - atender primeiro suas necessidades de deputado e depois de parentes e amigos e se possível o Vasco.

Assim o presidente “num primeiro momento, foi buscando no dia a dia” as velhas práticas que prometera mudar. Trouxe ainda para o Vasco os vícios ocultos de seu gabinete na ALERJ. Se durante a disputa eleitoral as diferenças entre situação e oposição foram sempre muito claras, por conta da direção do MUV, desde o início da sua gestão no clube, o presidente, conivente com alguns de seus vices e contando com a omissão de alguns outros, foram assumindo as velhas práticas: - distribuição de ingressos, contratos fabulosos com parentes, privilégios em negócios para os amigos, irresponsabilidade administrativa nos gastos realizados, não recolhimento dos impostos retidos dos funcionários e prestadores de serviço, orçamentos fajutos e descumpridos, falta de transparência, balanço 2008 “aprovado às pressas”, rompimento de contratos e réu de novas ações na justiça (Quadran, SVI, Habib’s), quebra da credibilidade, má gestão, desídia e incompetência, sem nenhum resultado esportivo que possamos nos orgulhar.

O presidente continua “buscando no dia a dia” outros objetivos. Ele que acompanhou a luta pela legalidade nas eleições, durante as duas campanhas que coordenei, após a última eleição esqueceu até mesmo do que assinou no Termo de Posse (clique aqui para exibir o termo), registrado em cartório, onde está claro que o seu mandato se encerra em 1º de julho de 2011, com o testemunho assinado dos seus dois vices e do Presidente do Conselho Deliberativo. Hoje, a tentativa de prorrogação do seu mandato de três anos, por mais sete meses, que vem sendo articulada com seu apoio, através dos vice-presidentes, social e jurídico e outros apadrinhados, viola o que determina o Estatuto do clube sobre a duração do mandato, transformando-se num golpe rasteiro contra a legalidade.

A tentativa deste golpe esta sendo felizmente rechaçada pela justiça, visto que em Sentença no processo 0095622-89.2009.8.19.0001 publicada abaixo, a juíza define o fim do mandato para 30 de junho de 2011.
Nesta mesma ação, por outro lado, os Autores, membros da antiga diretoria, tentaram outro golpe: - encurtar o mandato de três anos, conquistado na justiça e consagrado na eleição. Este episódio confirma a tese do antropólogo:
- em que ficaram diferentes as duas administrações? Quase nada!

A atual diretoria é ainda protagonista de outro fato administrativo nunca dantes ocorrido na história do clube: - A reprovação do balanço da sua administração em 2009 pelo Conselho Fiscal, Poder que, desde o início da gestão, o presidente do clube pensou que poderia manipular, mesmo sabendo que é presidido por um dos mais importantes membros da chapa vencedora e que se mantém fiel aos princípios que o elegeram: competência, credibilidade e transparência, recusando a aprovação pelo voto “político”.

Com Direito à Crítica, mas Sem Credibilidade.

Sempre defendi a existência dos movimentos de oposição. Bom ou ruim, organizado ou anarquista, serão eles que apontarão outros caminhos, que fiscalizarão a administração e nos mostrarão aquilo que a diretoria quer esconder. Este direito é inalienável e estarei sempre na sua defesa.

A apresentação de uma segunda chapa da situação na eleição sempre será uma tentativa de corromper a democracia, que só existe quando há oposição, como também de afastar do Conselho Fiscal o seu real poder de fiscalização da administração. Este ato já foi praticado em 2000 pelo ex-presidente e trouxe grandes prejuízos para o clube, que nem balanço publicou.

Eu sempre quis ouvir as críticas para ter a oportunidade de reavaliar minhas posições, seguindo ou mudando, precisando apenas ser convencido.
Questões de princípios só se mudam por convencimento.

Por outro lado a credibilidade do crítico e os princípios da crítica dão a este conjunto o seu valor. Ambos, crítico e crítica, dependem da sua coerência e da sua história.

Como exemplo destaco o importante acompanhamento da proposta orçamentária de 2009 realizado e publicado pelo site de apoio da antiga diretoria, que tem demonstrado como é inexeqüível “aquilo” que foi apresentado como Orçamento do Clube e aprovado pelo Conselho Deliberativo. A crítica é boa e é muito importante, mas os críticos não têm a menor coerência, tampouco credibilidade para fazê-la, pois durante os anos em que o seu grupo dirigiu o clube os seus procedimentos foram os mesmos que hoje criticam e pior, porque eles criaram o que hoje erradamente é copiado pela atual diretoria, que quando oposição criticava aqueles administradores. Alguns membros da atual diretoria, quando na oposição, entraram na justiça, com base na Lei Pelé, pedindo a responsabilização dos antigos dirigentes, o seu afastamento e sua inelegibilidade, por conta dos orçamentos apresentados, aprovados e descumpridos e dos balanços fajutos, mas hoje fazem o mesmo.

No recente debate sobre a negociação da cessão não onerosa do Estádio Vasco da Gama para o Comitê Rio 2016, todos deveriam ter como objetivo, respeitar o estatuto, tratar o assunto com transparência junto aos Poderes do clube e pautar as negociações objetivando conquistar as melhorias tão desejadas, não só no estádio, como no entorno do clube e seus acessos.
Isto só aconteceu após intervenção da justiça.

É preciso uma oposição coerente, que fiscalize, faça suas críticas e nos mostre que é diferente também após a posse, no exercício da administração. A atual oposição já nos mostrou que não tem qualquer credibilidade pelo que fez quando dirigiu o clube entre 2001 e 2008.
A atual diretoria, “antiga oposição” seguiu pelo mesmo caminho e preferiu manter as piores práticas que antes contestava, com correções apenas estéticas.

A revolução vascaína, que derrubou “o regime euriquista” em 2008, ao menos abriu o clube para uma pluralidade de movimentos e personagens. Precisamos agora encontrar quem possa representar a diferença e ser oposição aos métodos destas duas diretorias que nos envergonharam e roubaram as nossas esperanças até aqui.

O nosso clube poderá assim ressurgir mais forte do que nunca, inspirado na saga do grande navegador, livre das bravatas de um passado recente e dos gerúndios do presente.
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Fonte: Supervasco