Tamanho da letra:
|

Euller diz que Eurico vetou sua presença na Seleção Brasileira


Sábado, 27/11/2010 - 11:20

Aos 39 anos, Euller já não tem mais a velocidade que o deixou conhecido como “Filho do Vento”. Mesmo assim, teve participação importante na campanha do América-MG na Série B. Neste sábado, pode coroar a campanha com o acesso à primeira divisão. Para isso, basta que o time empate com a Ponte Preta, às 17h, em Campinas, ou que a Portuguesa não vença o Sport, no mesmo horário, na Ilha do Retiro.

Qualquer que seja o resultado, o jogador não vai disputar o Brasileiro do ano que vem. A despedida do gramado está marcada para o início de 2011, possivelmente em um jogo do Campeonato Mineiro.

Em entrevista ao UOL Esporte, Euller revela que não teve mais oportunidades na seleção brasileira por causa de um veto de Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco. O atacante relembra de sua parceria com Romário no time vascaíno, seu melhor companheiro de ataque, e comenta sobre o momento mais triste de sua carreira, a morte do zagueiro Serginho em campo, em jogo pelo São Caetano diante do São Paulo, no Morumbi, pelo Brasileirão de 2004. O atacante conta que chegou a pensar em abandonar a carreira, mas conseguiu superar o problema.

Euller diz também que ainda não está pronto para iniciar a carreira como treinador e negocia com a diretoria do América como poderá ajudar o clube a partir de 2011. Quando estiver à frente de alguma equipe, ele pretende seguir os ensinamentos de Telê Santana, com quem trabalhou no São Paulo e o considera “um pai”.

Veja, em vídeo, opiniões do atacante Euller e, logo abaixo, o melhor da entrevista:

UOL Esporte: Você já decidiu que encerrará a carreira agora mesmo? Quando será o seu jogo de despedida?

Euller: Terei uma conversa com a diretoria do América a respeito da minha parada. Quero encerrar a carreira com a camisa do América e em seguida estar à disposição do clube para ajudar. Quero estar junto com a diretoria, vamos ouvir o que eles vão propor, ver onde posso ajudar, só espero que esse jogo possa ser oficial. Vamos escolher um no Campeonato Mineiro para que eu possa fazer a despedida oficial. Ainda não vai ser este ano, pois não deu para planejar esse jogo.

UOL Esporte: Você conviveu durante toda a temporada com seguidas lesões, sem conseguir uma sequência de jogos, se sente frustrado por isso?

Euller: Dentro dos meus planos, sim, pois em 38 rodadas, joguei menos da metade. Esperava um pouco mais, mas o mais importante é o América. Não é planejamento individual, não são marcas individuais ou plano que o atleta faz. Tem de entender que é em prol de uma equipe e o América tem conseguido este sucesso que podemos coroar com o acesso.

UOL Esporte: Você fez curso de treinador no ano passado. Pretende seguir o caminho depois de encerrar a sua carreira?

Euller: Não penso agora em ser técnico. Eu me formei, fiz o curso, já tenho bastante experiência diante dos treinadores que passei, mas quero dar tempo para a minha família, para mim mesmo, quero ir para a Europa, quero fazer estágio com dois treinadores e depois disso vou dar início à minha carreira. Não quero entrar de qualquer modo, não. Quero me preparar muito bem, porque na verdade as coisas estão tendendo para que eu possa estar bem preparado, senão o tal dos três joguinhos manda o técnico embora.

UOL Esporte: Você já tem escolinhas de futebol, preparando-se para o momento de encerrar a carreira. Além de trabalhar no América, tem outros projetos? Pretende diversificar seus negócios?

Euller: Tenho duas escolinhas “Filho do Vento”, uma no bairro Minaslândia e outro no bairro Nova Suíça, um núcleo do América na cidade do Curvelo (região central de Minas Gerais). Meu projeto mesmo é buscar aquilo que eu quero, como dirigente do futebol, dentro do América, se for possível, e me dedicar a isso. As outras coisas serão secundárias. Temos pessoas específicas e capacitadas para poder organizar as outras coisas.

UOL Esporte: Qual sua relação com outros clubes em que também fez sucesso, como Palmeiras, Vasco e Atlético-MG?

Euller: São excelentes. Em todos os clubes que passei tenho portas abertas, tenho ligação com eles também, com as diretorias, com atletas, ex-atletas, então graças a Deus tenho as portas abertas em todos eles.

UOL Esporte: Comenta-se sobre uma possível “mala branca” da Portuguesa para a Ponte Preta vencer o América. Já viveu isso ao longo da carreira? Acredita que possa acontecer?

Euller: Não existe mala branca para entregar o resultado, pelo menos dentro do futebol. Não vi e não conheço ninguém que tenha vivido isso. Há realmente aqueles prêmios extras que você recebe para vencer uma partida, até para beneficiar a outros, mas nunca para perder.

UOL Esporte: Você passou momentos muito difíceis no América, como a disputa do Módulo II do Estadual, a Série C do Brasileiro... Por que não desistiu?

Euller: Eu conheci o clube na década de 90 e vi a sua grandeza. Comecei no América em 1987 e vivi momentos gloriosos, então sei o que é esse clube. Sabia desde que cheguei aqui, em 2006, que o que estava acontecendo era tudo passageiro, e que com uma boa administração e planejamento o América voltaria para a elite do futebol. Foi apostando nisso que eu permaneci.

UOL Esporte: Em alguns momentos, os jogadores americanos, inclusive você, passaram aperto financeiro, com falta de dinheiro para situações básicas, como transporte, sem falar em salários atrasados. Como você lidou com isso?

Euller: Ajudei financeiramente em tudo o que podia. Ajudei no CT, os funcionários e como foi aqui que dei o pontapé inicial, tenho de ser no mínimo grato.

UOL Esporte: Recebeu o dinheiro emprestado de volta?

Euller: Não contribuí para receber, mas para contribuir mesmo. Não fiz nada aqui para receber depois.

UOL Esporte: Como foi a sua relação com o Telê Santana? Qual a importância do treinador para a sua carreira? Vai levar alguma coisa para sua possível carreira como treinador?

Euller: Para mim ter sido treinado pelo Telê Santana foi algo maravilhoso . Ele não foi só um técnico, mas sim um pai para mim. Consegui mudar o meu estilo de jogo com ele. O São Paulo foi uma nova escola para mim depois do América, altamente profissional, e o Telê foi o mestre dos mestres para mim, quando for técnico tenho muito a colocar o que aprendi com ele em prática e até mesmo na escola da vida. Para mim, o Telê é completo.

UOL Esporte: Você esteve no São Caetano, em 2004, quando o zagueiro Serginho morreu dentro de campo, em um jogo do Campeonato Brasileiro. Foi difícil superar este acontecimento?

Euller: Este momento foi o pior momento da minha carreira, foi o mais difícil, você ver um companheiro seu morrer dentro de campo, fiquei muito triste, chorei bastante com a minha mulher. Ele era um amigo, tinha grande relacionamento com a minha família, então, foi um momento muito complicado, que mexeu realmente comigo, eu pensei até em parar naquele momento. Mas junto com a minha esposa, minha mãe, com meu empresário, eu continuei, mas foi o momento mais triste da minha carreira, hoje já superado.

UOL Esporte: O Romário costuma apontá-lo como um dos principais parceiros de ataque da carreira, inclusive atribuindo-lhe parte da responsabilidade pelos mil gols. Você considera o Romário seu principal companheiro de ataque?

Euller: O Romário foi o melhor companheiro que eu tive de ataque. Quando tive a proposta para ir para o Vasco (2000 e 2001), não pensei duas vezes, pois era um sonho jogar ao lado dele. Eu achava que a minha característica poderia combinar com a dele, de ser o garçom para aquele que coloca a bola para dentro. Quando cheguei ao Vasco, deu certo, pois ele foi artilheiro do Campeonato Brasileiro e do mundo em 2001. Ninguém marcou mais gol que ele, contribuí muito para que isso acontecesse, dando muita assistência. Também formamos a dupla na seleção brasileira, na minha primeira convocação eu fui titular, junto com ele, então foi muito bom.

UOL Esporte: Você não é um pouco frustrado em relação a seleção brasileira? Candinho, quando assumiu como interino após a queda do Vanderlei Luxemburgo, convocou um quarteto do Vasco para o jogo contra a Venezuela. Você não acha que poderia ter tido mais oportunidades mesmo no seu melhor momento?

Euller: Poderia ter mais oportunidades e eu teria mais oportunidades, mas como o Vasco da Gama teria sempre quatro jogadores para a seleção (Euller, Romário, Juninho Paulista e Juninho Pernambucano) fui barrado pelo Eurico Miranda (presidente), pois o Vasco ficaria muito desfalcado, então sempre ia dois. Fomos seguros na Copa das Confederações e na Copa América. Acho que aquilo que Deus preparou para mim foi cumprido, mesmo sendo pouco, mas eu agradeço a Deus.

Fonte: UOL

Nota da NETVASCO: A Copa das Confederações de 2001 aconteceu simultaneamente às quartas-de-final da Libertadores (Vasco x Boca) e à final do Estadual (Vasco x Flamengo); o Vasco não cedeu nenhum jogador para a Seleção assim como a maioria dos grandes clubes brasileiros exceto Fluminense, São Paulo, Santos e Inter (lista de convocados aqui). Para a Copa América de 2001 o único vascaíno chamado foi Juninho Paulista; Juninho Pernambucano já estava no Lyon e Romário não estava mais sendo convocado pelo treinador Felipão (lista de convocados aqui).