Se hoje Dedé é ídolo da torcida e esbanja confiança no Vasco — que enfrenta o Cruzeiro, às 19h30, na Arena do Jacaré —, na infância pobre não era assim. Muito apegado à mãe, ele não conseguia se afastar de dona Maria Helena e, toda vez que arriscava uma adaptação fora de Volta Redonda, não suportava a saudade e voltava para a modesta casa e os amigos.
A primeira tentativa foi no Santo André (SP), aos 14 anos. “Comprei uma chuteira de R$ 78 no crediário, dividi em 12 vezes. Uma semana depois, ele me ligou: ‘Mãe, não quero mais, vem me buscar’. Chegamos em Volta Redonda e disse que deixou a chuteira lá. Não acreditei. Fiquei 12 meses pagando, sem nunca ter calçado”, lembra dona Lena.
Na Itália, pela Udinese, e, em Xerém, na base do Fluminense, a história se repetiu: Dedé não quis ficar. “Era insegurança, ele é muito família. Até hoje, quando acaba o jogo, corre pra cá”, conta a mãe.
Aos 6 anos, o filho do meio da família Silva deu os primeiros passos no futebol de salão com o tio Tim. Três anos depois, crescera demais. Jorge Barriga, o segundo professor, mandou Dedé para o gol. O desempenho foi bom, mas a responsabilidade pesou. “Chegou em casa assustado: ‘Mãe, não quero mais ser goleiro’”.
Dedé foi para a zaga. Um dia, o vizinho José Coelho, pai do volante Felipe Melo, o levou para a escolinha do tio Nelson, onde funciona até hoje núcleo do Fluminense. Depois de duas passagens por Xerém, foi entre os profissionais do Volta Redonda que se destacou e acabou no Vasco.
Na infância, Dedé não largava a bola e as pipas, suas paixões. A distração era tanta que até o banho era deixado de lado. “Já ficou três dias sem banho, só lavava o pé pra dormir”, entrega o irmão Gledson. “Não podia ver uma pipa, subia nas árvores. Já caiu de um pé de jamelão de três metros, quebrou quatro dedos do pé. Vivia sangrando e andava sempre sujo”, diverte-se o parceiro de pelada. “Dedé aprendeu comigo. Ele conta pra todo mundo que uma vez me deu elástico no alto, mas não completou. A bola foi quase fora da arquibancada”, debocha Gledson.
Motivo de orgulho para toda a família
Separado da mãe de Dedé há 15 anos, seu Nivaldo exibe com orgulho o pôster que ganhou do filho na semana passada. Hoje, com o menino fazendo sucesso, o pai transborda de felicidade ao falar de Dedé.
“Admiro tudo nele. A humildade, como ele trata a mãe... Meus dois filhos são tudo pra mim”, diz o aposentado, botafoguense, assim como a mãe de Dedé. “Não acompanho mais o Botafogo, mas sei tudo de futebol por causa do Dedé”, diz dona Lena, hoje com uma situação financeira mais confortável.
Até os 8 anos, Dedé e Gledson tomaram mamadeira. Como o dinheiro era curto, a mãe misturava com café para o leite render: “Agora é engraçado, mas foi difícil cuidar dos três. Para criá-los, fiz muita faxina. Até pouco tempo, a minha geladeira era amarrada com elástico”. Se os irmãos Gledson e Mariana são flamenguistas, na hora de torcer, o time é Dedé Futebol Clube.
Seu Nivaldo, pai de Dedé
Maria Helena, Gledson e Mariana, mãe e irmãos de Dedé
Fonte: O Dia