Inicialmente vista apenas como uma chance de melhorias de São Januário, a adesão do Vasco ao projeto olímpico pode se desdobrar em algo muito maior. Silenciosamente, a diretoria cruzmaltina vinha trabalhando com uma ideia de aproveitar a inserção nas Olimpíadas para desenvolver um projeto de modernização geral do estádio. Impulsionado pelos investimentos para os Jogos, o clube quer transformar seu “caldeirão” em uma Arena nos padrões exigidos pela Fifa para receber grandes eventos.
A verba para isso viria de duas fontes. A primeira, dos governos federal, estadual e municipal, que se encarregarão dos ajustes necessários para a adequação para o rúgbi. Para o projeto se transformar na Arena, o clube teria o apoio de empresas privadas que em troca teriam algumas concessões, no moldes do que fez o Grêmio.
- O cavalo encilhado está passando. Precisamos aproveitar a oportunidade e colocar os interesses do clube em primeiro lugar. Além dos investimentos públicos no estádio, há o projeto de revitalização de São Cristóvão, através do PAC 2 (Plano de Aceleração do Crescimento, do governo federal). Isso vai contribuir para melhorar a acessibilidade de São Januário e facilitar a viabilização da exploração comercial da Arena. O Vasco tem que sair da inércia. Temos que pensar grande e trabalhar para isso. A Arena é um projeto possível. O clube colocaria suas receitas em um patamar superior ao atual, como por exemplo a exploração de modernos camarotes e assentos de negócio. O rúgbi vai ser a mola propulsora para a Arena. Se todos trabalharem juntos pelo clube, podemos conseguir – explica Cristiano Koehler, Diretor Geral do Vasco.
O projeto para a Arena será elaborado apenas depois que todos os tramites envolvendo o rúgbi sejam solucionados. No momento, o clube espera a aprovação do Conselho Deliberativo para enviar ao COI o Termo de Garantia de Cessão. Depois disso, o Vasco receberá da entidade o Termo de Referência para a elaboração do projeto básico para as Olimpíadas.
- Vamos ver o que o projeto básico do rúgbi exige e comparar com o que queremos para a Arena. A partir daí, desenvolvemos o projeto geral. A ideia é que a Arena seja multiuso, moderna, coberta, rentável e adverso para os concorrentes esportivos, com maior interação da torcida. Ela vai ser construída para isso. Mas também vai poder ser usada para eventos diversos, como shows e feiras. Queremos uma Arena com opções de entretenimento para os torcedores, que hoje São Januário não tem, com restaurantes, praças de alimentação, assentos de negócio, área comercial...Nosso objetivo é um local com padrões Fifa, que poderá nos trazer muitas fontes de renda – afirma Koehler.
Plano Estratégico para cinco anos
Além da Arena, o clube se debruça hoje sobre um grande projeto. O clube começou nesta quarta a fazer reuniões para a elaboração de um Plano Estratégico para os próximos cinco anos. A intenção é traçar metas a serem cumpridas nos próximos anos para que o Vasco desenvolva sua estrutura física, diminua sua dívida e aumente a receita.
- Queremos construir um CT para os profissionais e outro para as categorias de base, nossa fábrica de talentos. Também queremos construir um centro de esportes olímpicos, desde que seja auto-sustentável. A lei de incentivo ao esporte pode ser usada para captar recursos necessários na concretização destes projetos. No remo, tradição do clube, já obtivemos a aprovação do projeto para a revitalização do prédio da Sede Náutica e a construção de um moderno píer às margens da Lagoa. Temos que saber o que queremos fazer e como vamos fazer. O projeto não é para essa ou aquela diretoria. É um plano de desenvolvimento para o Vasco, ele está acima de todos nós. Devemos buscar a satisfação dos torcedores com vitórias e conquistas de títulos, aliando a gestão esportiva competitiva com a gestão organizacional, fundamental para gerar recursos para a manutenção do ativo de atletas. Nosso objetivo é conseguir a viabilidade financeira do clube, tornando-o superavitário (mais receitas que despesas) com maior capacidade de investimento no futebol, nosso foco principal.
Para a construção dos centros de treinamento, o clube ainda busca terrenos, que serão cedidos pelo governo, uma vez que o Vasco não pode fazer aquisições por conta de suas dívidas. O acerto está próximo.
- Está muito bem encaminhada essa questão. Até o fim do ano poderemos anunciar onde são esses terrenos. Enquanto o CT for construído, vamos usar uma estrutura particular que já existe. A ideia é que São Januário fique apenas para os jogos oficiais para preservar o campo.
Dívidas e Eletrobrás
Grande barreira do Vasco, a dívida do clube é estimada em mais de R$ 300 milhões, entre questões trabalhistas, cíveis e tributárias. Esta última, inclusive, impede que o clube receba o patrocínio da Eletrobrás de forma direta. Um problema que a diretoria tem que contornar.
- Ou o clube quita sua dívida tributária que tem impedido a obtenção das certidões, o que é impossível com a disponibilidade financeira atual, já que ela (a dívida) é expressiva e parte inegociável, ou busca alternativas jurídicas argumentando e comprovando junto ao Tribunal Regional do Trabalho a necessidade de honrar os compromissos salariais com seus funcionários, como temos feito. A Justiça do Trabalho tem compreendido a situação financeira atual do clube e tem sido receptiva neste processo junto ao nosso patrocinador. A verba é relevante, por isso precisamos legalmente encontrar o melhor caminho, sem afetar a relação entre as partes envolvidas. Não há só questão tributária, estamos trabalhando forte para buscar também soluções ao passivo cível e trabalhista, com objetivo de minimizar gradativamente o impacto no caixa do clube.
O Plano Estratégico ficará pronto até o fim do ano para que possa ser colocado em prática já nos primeiros dias de 2011. Segundo Cristiano, todos os setores do clube participam do processo.
Fonte: GloboEsporte.com