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Carlos Alberto rebate críticas e relembra jogos em que entrou no sacrifício


Sexta-feira, 12/11/2010 - 08:35

Chance de jogar devolve sorriso a Carlos AlbertoHá 48 dias que Carlos Alberto não sabe o que é entrar em campo para disputar uma partida pelo Vasco. Aliás, atormentado por lesões, participou de apenas sete jogos neste Campeonato Brasileiro. O último foi na derrota por 1 a 0 para o Guarani, na 25ª rodada, quando sentiu um problema na coxa direita. De lá para cá, muito trabalho para se recuperar da lesão e poder ajudar novamente a equipe. Agora, a alegria está de volta.

Neste domingo, às 19h30m (de Brasília), contra o São Paulo, a braçadeira de capitão deve voltar para os braços do camisa 19, que tem tudo para ser confirmado como titular. Mas, antes de isso acontecer, o meia viveu um período em que viu algumas notícias extracampo sobre ele. Um exemplo foi a foto em que, ao lado do tricolor Deco, o curtia um ensaio de uma escola de samba carioca.

Apenas este tipo de polêmica é capaz de tirar o sorriso do rosto de Carlos Alberto. Mas, com a consciência tranquila, disse que não pode se importar com essas questões, apenas com o carinho dos torcedores.

- Tem gente que não sabe nada de futebol aí cria estes assuntos paralelos, fofocas, este tipo de situação. Agora, se fizer uma análise minha de campo, paro e sento para discutir com quem for. Aí sim podemos chegar a um denominador comum. Me pauto é pelo carinho da torcida. Saio nas ruas e vejo crianças com as tranças. Isso é gratificante para caramba. Quero passar pelo futebol e saber que fui importante. Erros todo mundo comete. Aqueles de cabelinho branco na cabeça fazem besteira, por que eu que tenho 25 anos não posso fazer? Não fiz nada demais também. Não matei, não roubei carro de ninguém, não assaltei banco... Estou com a consciência tranquila.

Mas o que realmente tira Carlos Alberto do sério é ouvir comentários de que ele faz corpo mole para não jogar. Ele revelou que sempre fez sacrifícios para defender o Vasco, inclusive jogando com infiltrações.

- As pessoas têm memória curta demais. Não foram dois nem três, foram vários jogos que entrei em campo infiltrado para ajudar. Todos têm que lembrar que eu sou um ser humano, não sou de ferro. Isso o departamento médico sabe. Aí, quando você machuca, as pessoas te criticam e não dá para fazer nada.

O ano de 2010 foi realmente complicado no quesito lesões para o camisa 19, que desde o início da temporada conviveu com problemas deste tipo. Ele lembrou que em algumas ocasiões pediu para jogar quando não estava 100% e acabou se prejudicando.

- Na semifinal do Carioca, por exemplo, tive um problema no dia anterior, no treino, e mesmo assim fui para o jogo. Eu pedi para jogar. Muito disto eu assumo a responsabilidade, porque quando existe a possibilidade de eu ajudar, vou até o fim. Quando não tenho condição nenhuma, não vou entrar para atrapalhar. Lembro de um outro jogo contra o Fluminense que eu fui liberado para jogar 30 minutos. Só que o Jeferson machucou com cinco minutos de jogo e eu entrei. Depois, fiquei mais uma semana fora das atividades. Quem me conhece sabe que eu quero sempre jogar. Algumas coisas que escuto me deixam triste.

Confira a entrevista completa com Carlos Alberto:

Como você está se sentindo fisicamente? Está pronto para jogar?

Já me sinto muito bem. Estava clinicamente recuperado, só precisava melhorar o condicionamento físico. Creio que já não teria problema para atuar, iniciar jogando. Foi tudo muito bem pensado para a minha volta, cumpri todas as etapas.

Faltam apenas quatro rodadas para o fim do Brasileiro. Como é passar por toda recuperação, jogar quatro jogos e depois saber que vai ficar um longo tempo fora por causa das férias?

- Sou apaixonado pelo que eu faço. O dia que eu estiver de saco cheio disto, é melhor eu parar. Sempre sonhei ser jogador de futebol, e isso um dia vai acabar. Então, todo jogo que eu tiver oportunidade de jogar, tenho que curtir, independentemente se vou entrar de férias daqui a um mês ou uma semana. São quatro jogos que tenho e quero ganhar todos. Temos mais um amistoso (quarta-feira, contra o Santos, no Piauí), e, se precisar, eu vou. Quero jogar.

Qual foi o momento mais complicado desde a lesão sofrida contra o Guarani?

- Quando um jogador machuca, é preciso buscar força onde não tem. Como atleta, meu corpo sente a necessidade de exercício físico. A lesão contra o Guarani me pegou de uma forma que sugou todas as minhas forças. Fiquei muito triste, mas recebi o apoio da minha família, amigos e dos torcedores. É uma luta diária contra ansiedade, mas é preciso ter calma para que eu não corra risco.

Este trabalho de recuperação é muito penoso para o atleta?

- Muitas vezes a carga horária de trabalho é maior, e muitas pessoas não sabem disso. Às vezes chegava 8h da manhã e saía às 19h, isso antes de voltar a trabalhar com a preparação física e com o PC no campo. É um período difícil, às vezes não tinha nem vontade de ir para o clube, mas tem que ir. Tem que insistir, não pode deixar o desânimo te pegar.

Quando você está machucado, como isto altera a sua rotina em casa, com sua família?

- Procurei brincar bastante com o meu filho. Realizei um dos meus sonhos que era trazer ele pela primeira vez para o campo para bater bola e tirar foto. Espero poder entrar com ele no gramado no domingo, que é uma coisa que eu tenho muita vontade. Com certeza dá uma força muito grande.

Nos períodos em que você não joga, é comum surgirem assuntos de fora do campo, geralmente problemas. Como lida com isso?

Não sei de onde as pessoas tiram estes problemas. Outro dia disseram que aqui existem dois grupos, um meu e outro do Felipe. Isto não existe. Aqui só existe o grupo do Vasco. Me dou bem com todos. Falaram também que eu tinha ficado chateado sobre horário de treinos da manhã (8h), e eu nunca reclamei de nada. Não vou deixar entrar nada de fora aqui.

É possível ficar alheio a tudo isso? Não o incomoda?

- Se me incomodasse, eu não saía de casa. Minha preocupação agora é treinar. Estando bem para jogar, vou jogar o meu melhor. Minha vida segue assim. Sabe quando eu vou parar de ser criticado? O dia que eu parar de jogar. Mas seu eu, por exemplo, for jogar um showbol, ou então para a política, vou continuar a ser criticado.

Você consegue se motivar com as críticas? Elas te deixam mais fortalecido?

Os críticos leais me ajudam. Os desonestos eu não me preocupo porque tenho autocrítica. Mal sabem eles que me motivam muito. Às vezes acontecem algumas coisas que mexem com o seu brio. Isso me fortalece e me ensina a criar uma nova estratégia para ter cuidado com tudo que vou fazer dali para frente.

Como é viver todos os dias cercado de pressão? Nos últimos meses, a cobrança maior foi para que o seu retorno fosse o mais rápido possível.

Desde criança eu aprendi a lidar com pressão. Aqui no clube eu tenho pessoas que me dão este tipo de ajuda. A maior cobrança é minha mesmo. Muitas vezes eu acabava meu trabalho aqui e ficava assistindo ao treino doido para participar. Cada dia que vai evoluindo é um prazer diferente. Bater na bola sem dor, correr sem dor, mudar de direção sem dor... Isso vai te dando a confiança para voltar mais tranquilo.

Apesar da carga grande de críticas, você é sempre muito bem cotado quando o assunto é popularidade com os torcedores.

Fico feliz com o reconhecimento. É por isso que nós trabalhamos, para dar alegria aos torcedores. Que bom que eles reconhecem isso. Sempre me apoiaram em todos os momentos. Recebi muitas mensagens de incentivo neste período difícil. Procuro representar o torcedor dentro de campo.

Como é sua relação com o técnico PC Gusmão? Já surgiram boatos de que vocês não se dão bem.

PC sempre me deixa bastante à vontade. Temos um bom relacionamento. No aniversário do meu filho todos foram, não vejo o motivo de tantas notícias ruins. Acho que em alguns momentos é até uma covardia. Enfim, isto não vai mudar minha vida.

O jeito enérgico que a torcida vê o PC na beira do campo é o mesmo do trabalho no dia a dia?

Ele sabe a forma de falar com cada jogador. Tem alguns que ele precisa estimular mais, outros que ele vai mais na conversa. Tem caras que, se ele faz isso, acaba tirando a cabeça do jogo. Estamos bem, estamos tranquilos. O único problema de verdade é que ficamos muitos jogos sem vencer.

Quando não está jogando, você continua a ser 'capitão' também nos bastidores?

Sou responsável por fazer a ligação dos jogadores com a diretoria sobre assuntos como atraso de salários, premiação, algum problema que um ou outro atleta possa ter. Quando é interesse do grupo, sentamos eu, Felipe, Prass, Fernando, Tiago.. até porque preciso da opinião de todos para levarmos para a diretoria. Às vezes alguns funcionários têm alguns problemas e usamos, por exemplo, a caixinha para ajudar. É este tipo de responsabilidade que tenho, jogando ou não.

Que balanço você faz desta temporada? Depois da chegada de reforços como Felipe e Eder Luis, acha que a torcida ficou frustrada com a colocação do time?

Ficamos com sentimento de que podia ser um pouco melhor. Temos vários jogadores de qualidade e eu não consigo ver um ano sem conquistas como um ano bom. Não é que está tudo ruim, mas bom não pode ser. Time grande tem que ganhar títulos, pensar em coisas maiores. Se estivéssemos brigando pela Libertadores poderia ser uma temporada boa.

Poderia ser diferente se o Carlos Alberto tivesse participado de mais jogos?

Difícil falar porque seria um pouco egocêntrico. Não sei se iríamos conseguir, mas eu ia trabalhar para colaborar muito. Seria um prazer jogar mais com Felipe, com Zé, com Eder Luis, que estão vivendo um bom momento.

O elenco precisa ser muito reforçado para 2011?

Temos um pessoal capacitado para analisar, como o Rodrigo Caetano e toda diretoria. Temos um bom elenco, mas claro que reforços são sempre importantes. Que venham para somar, jogar e serem decisivos. É isso que precisamos.

Dá para prometer título para os vascaínos na próxima temporada?

O que podemos prometer é trabalho. Terminar um ano sem título em uma equipe como o Vasco é sinal de insucesso. Este time todo junto pode incomodar bastante no próximo ano.

O que você espera deste restante de ano?

Conseguir terminar estes jogos que restam sem problemas de lesão. Começar o próximo ano tranquilo, com o pessoal aproveitando bem as férias, porque isso ajuda também.

Fonte: GloboEsporte.com