Quem diz que amor não pode ser medido, é porque nunca viu um jogo do Vasco. Nos últimos meses, as arquibancadas de São Januário e do Maracanã têm sido cobertas por uma paixão sem limites- ou quase, dependendo da quantidade de pano gasto na confecção dos bandeirões. E não aqui nenhum exagero: em se tratando da torcida vascaína, a ligação com o clube nunca pareceu tão bem costurada.
Um exemplo disso é o bandeirão da União Vascaína, que inovou na escolha do formato: o escudo do clube. De corte pouco comum, exigiu habilidade na criação e muita, muita atenção durante os ensaios, até que fosse aberto em São Januário, na vitória por 2 a 0 sobre o Atlético Goianiense, em 24 de julho, pelo Campeonato Brasileiro.
“Nossa torcida busca sempre exaltar os símbolos do Vasco e não os nossos, particulares. Por isso mesmo, a marca da União foi colocada de forma bem discreta, para não chamar a atenção. A escolha do escudo foi um caminho natural”, conta Jorge Mansur, presidente da torcida.
Começava ali uma preocupação maior do que custear o projeto: criar uma forma de esticar o bandeirão sem que ficasse torto, amassado. A questão financeira foi resolvida com doações dos próprios filiados e vende de produtos, como camisas e bonés. Foi assim que chegaram aos 7 mil cobrados e mostram que a União faz a força e bandeira. Já a parte prática foi (e ainda é) um capítulo à parte.
“Para facilitar a operação, o bandeirão tem seis alças, uma em cada bico e no topo. Por isso, destacamos seis pessoas que têm a missão-chave de fazer a abertura, enquanto os demais dão apoio. Marcamos um dia em São Januário para treinar e, no fim das contas, foi até mais simples do que imaginávamos”, relata Jorge, impressionado com a qualidade do trabalho de Roberto Rodrigues. “É um artista e tano. Uma equipe até ajuda na costura, mas quem pinta é ele, a mão.”
QUANDO A METADE JÁ DIZ TUDO
Guardada a sete chaves em uma sala do Estádio de São Januário, uma preciosidade sai de lá apenas em ocasiões especiais. Tal cuidado passa a fazer todo o sentido, quando se toma conhecimento do trabalho que deu fazer a bandeira da Pequenos Vascaínos. Bastaria dizer que tem 100 metros de comprimento e 41 de altura, mas os números são ainda mais impressionantes: foram usados 30 mil metros de linha e dez galões de tinta. O peso? São 400 quilos que só podem ser carregados por, pelo menos, 25 pessoas. Nada, porém, que seja visto com espanto pela tradicional torcida.
“Era para o bandeirão ter 200 metros e ser ainda mais alto, para ir além da grade da arquibancada. Mas pela estrutura do Maracanã, chegamos à medida atual, que é metade da que pretendíamos”, resigna-se Wagner Pedro, responsável pelo marketing da Pequenos Vascaínos. “Pelo menos, assim não existe o risco de alguém que está na parte inferior do estádio puxar o pano.”
Cercada de expectativas, a primeira exibição oficial ao público aconteceu durante a vitória por 1 a 0 sobre o Tigres, na estréia do Vasco no Campeonato Estadual deste ano. Bem antes disso, não foram poucas as vezes em que vídeos mostrando a confecção eram lançados na internet. As imagens logo despertaram curiosidade e ganharam o mundo. Um dos teasers (técnica de marketing para chamar atenção) exibia uma quantidade incrível de tecido branco brilhante, abrindo caminho para a imaginação. Também produziu grande efeito a cena das estrelas amarelas sendo pintadas, para representar alguns dos títulos mais importantes do clube.
Todo o projeto, no entanto, durou mais do que os 30 dias dedicados exclusivamente aos panos e às tintas. Mais uma vez a internet foi usada: em um processo democrático, chegou-se à conclusão de que nenhuma alusão seria feita à Pequenos Vascaínos.
“O objetivo era mostrar o amor pelo clube, por isso, optamos pela frase “Paixão, teu nome é Vasco”. É um sentimento que se propaga naturalmente e que, na maioria das vezes, leva as ações incompreendidas. A construção desse símbolo também serve para demonstrar como diversas pessoas podem trabalhar juntas por um ideal. “Não importa idade, sexo ou religião, o amor é um só”, ressalta Wagner. A escolha do desenho talvez tenha sido a parte mais fácil de todo o trabalho. “Começou com traços simples, que foram sendo aperfeiçoados até se chegar às formas que vemos agora”, revela.
UM MESTRE NA ARTE DE CRIAR IMPACTO
Em dias de jogo do Vasco, São Januário e Maracanã viram uma espécie de galeria de arte a céu aberto. O responsável por tal exposição é Roberto Rodrigues, artista plástico de 31 anos, que assina trabalhos como o bandeirão da União Vascaína, além de outras duas das maiores bandeiras da Força Jovem- uma de 2000 e a mais recente.
Tudo teve inicio em 1996, quando Beto começou nesta carreira de forma despretensiosa: criou uma bandeira de 4 por 4,5 metros para a Força e nunca mais parou. De lá para cá, matriculou-se em cursos de arte e passou a pintar quadros a óleo. “O bandeirão mais difícil que fiz foi este mais recente, da Força Jovem. Não apenas pelo tamanho (95 x 35 metros), mas pelo desenho. O pessoal da torcida me deu o modelo e adaptei. Não adianta simplesmente copiar, é preciso levar em conta o impacto que provoca no estádio.”, explica Beto, que já fez trabalhos para outras torcidas do país.
“Mas a afinidade maior é mesmo com o Vasco, não tem jeito...”
Presidente da Rasta, Beto é autor do bandeirão (40 x 30 metros) que a torcida apresentou no Maracanã, no empate de 0 a 0 com o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro deste ano. É bem menor do que os da Força, mas chama a atenção pelo enorme Bob Marley sobre o fundo preto. Perguntado se santo de casa faz milagre, acha graça: “O pessoal se dá bem, né? Nem cobro a mão de obra.”
Fonte: Revista oficial do Vasco (texto), Supervasco (transcrição), Site Organizadas Brasil (fotos)