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Remo e regatas difundiram no Rio o uso da praia como local de lazer


Domingo, 31/10/2010 - 04:47

As regatas e a prática do remo foram responsáveis por difundir no Rio a ideia de que a praia é um local de lazer, na transição dos séculos 19 e 20. Até então, o banho de mar era ignorado ou receitado como atividade terapêutica. Essa é uma das curiosidades contadas no livro Vida Divertida: histórias do lazer no Rio de Janeiro (1830-1930), lançado pela Editora Apicuri.

"Antes do futebol, o remo era uma febre na cidade. Foi certamente o mais importante incentivador para que o carioca desenvolvesse o uso da praia", diz o professor Victor Andrade de Melo, que escreveu um dos 11 artigos do livro e organizou a publicação com a historiadora Andrea Marzano. Coordenador do Laboratório de História do Esporte e do Lazer da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele diz que o auge do remo na então capital coincidiu com o início da República.

Desde a chegada da Família Real, o turfe dominava como principal atividade esportiva na cidade. O remo começou a ser difundido em 1875 e teve seu pico no período de 1895 a 1910. Depois, foi suplantado pelo futebol, que continua até hoje como o esporte preferido dos cariocas.

Melo avalia que as regatas foram fundamentais na divulgação de um novo modelo de corpo e vestimenta dos cariocas. "O atleta do turfe era o cavalo", diz. "Os jornais exaltavam esse novo personagem, o remador. Estava ligado à ideia de se construir uma nação moderna, nos moldes europeus. Só o teatro rivalizava com o remo como atividade de lazer na virada dos séculos 19 e 20", afirma o professor.

Futebol. Ele lembra que o esporte era praticado pelas elites, mas diz que o povo comparecia em peso às regatas. "Nesses dias, havia linhas de bonde especiais para a Praia de Botafogo", conta. Não à toa, grandes clubes de futebol como Flamengo e Vasco nasceram de clubes de regatas.

Na gestão do prefeito Pereira Passos (1902-1906), responsável por reformas urbanas que erradicaram inúmeras habitações populares no início do século passado, com o objetivo de "civilizar" a cidade, foram oferecidos incentivos à prática do remo, como construção de garagens, redução de taxas de importação de barcos e prêmios para competições. O esporte era apresentado como substituto para práticas tradicionais como brigas de galo, touradas e capoeira. Um processo de "saneamento", aponta Melo, copiado da Europa.

Fonte: Estadão