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Fellipe Bastos conta histórias de sua infância na Penha


Quinta-feira, 28/10/2010 - 10:00

A volta ao Rio de Janeiro após uma aventura na Europa foi também um retorno às origens para o volante Fellipe Bastos, de 20 anos, carioca da Penha. No bairro da Zona Norte da Cidade Maravilhosa, o jogador deu os primeiros passos no futebol. Nascido em 1990, ele cresceu influenciado pelos frutos gerados pela conquista da Copa do Mundo de 1994, e em especial por Romário e Bebeto. Do pequeno Florença, time de futsal do seu bairro, ele começou trilhar seu caminho. Depois de uma passagem pelo Fluminense, ele chegou ao Botafogo.

Foi no Glorioso que Fellipe Bastos realmente conseguiu se destacar e foi convocado para todas as seleções de base. Quando tinha 17, entrou em um imbróglio com a diretoria alvinegra para a renovação de contrato e resolveu deixar o clube.

- Meus pais sempre me incentivaram a praticar esporte desde cedo. Eu e meu irmão jogávamos futebol e nos inspirávamos naquele time campeão do mundo em 94, em Romário e Bebeto. Com seis anos, eu estava jogando uma pelada onde eu morava, na Penha, aí perguntaram ao meu pai se eu não queria fazer um teste no Florença (futsal), onde tudo começou. Com sete anos eu fui para o Fluminense, onde fiquei até os dez anos. Depois fui para o Botafogo, onde fiz a base toda, até os 17 anos.

Quando saiu do Bota, Fellipe teve a oportunidade de fazer um teste no PSV, da Holanda, mas acabou não ficando. Retornou ao Brasil mas logo conseguiu acertar com o Benfica. Lá, apesar de não ter ficado muito tempo, formou uma família com outros brasileiros, como Luisão, Weldon e David Luiz. Segundo ele, uma experiência que marcou sua vida.

- Com 17, fui para o PSV e, por causa de um problema contratual, voltei para o Brasil. Uma semana depois houve o acerto com o Benfica. Foi uma experiência muito boa. Posso falar do Luisão, do David (luiz), das pessoas que me ajudaram muito. Não só os brasileiros. Rui Costa, Saviola, Aimar... todos me ajudaram muito, me passaram a experiência que têm.

Sem muito espaço e por causa da grande quantidade de estrangeiros, o volante acabou emprestado para o Belenenses. Lá encontrou alguns problemas, principalmente com o técnico, e também ficou pouco tempo. Acertou com o Servette, da Suiça, e, apesar do nível mais baixo do campeonato, acredita que aproveitou bem a experiência.

- Fui emprestado para o Belenenses, onde fiquei seis meses. Foi uma experiência com coisas boas, mas outras ruins também. Tinha um treinador português que não gostava muito de escalar brasileiros, apesar de ter pedido a contratação dos jogadores. Mas tem que ter pedras no caminho para aprendermos também, a vida não é feita só de vitórias. Depois voltei para o Benfica e logo fui para o Servette. Lá foi muito bom. O Campeonato Suiço é bem diferente, bem pegado, com muita força e tática. Aprendi bastante, foi muito bom.

A relação íntima com Portugal

Portugal parece ter invadido a vida de Fellipe Bastos com toda força. Nem quando foi para a Suiça ele perdeu contanto, nem que fosse mínimo, com os descobridores do Brasil.

- Eu tenho alguma coisa com Portugal. Fui contratado por um clube do país e emprestado a outro. Quando eu fui para a Suíça, fui treinado por um português. Agora, vim para um clube com raízes portuguesas e com a grandeza do Vasco. Minha esposa é descendente de portugueses. Não tenho como não adorar os portugueses.

Em terras lusitanas, o volante aproveitou bastante a culinária e a cultura dos patrícios. Só não gostou muito de um ritmo musical famoso no local, o fado.

- Deu para conhecer bem a cultura portuguesa. É um povo que não é muito acolhedor mas é bastante carinhoso. Minha família gostou muito do país. Ouvi o fado, mas não gostei muito porque é muita gritaria. A culinária é muito boa, comi muito bacalhau e Pastel de Belém, que é maravilhoso.

Depois da passagem na Europa, o Vasco apareceu na vida de Fellipe Bastos como uma chance de vencer e ser reconhecido no país onde nasceu e saiu tão cedo. Com pouco espaço para estrangeiros e com a intenção de valorizar seu atleta, a diretoria do Benfica incluiu o jogador na negociação de Eder Luis. Com o dinheiro que ganhou na Europa, o volante conseguiu comprar nova para os pais na Barra da Tijuca. Mas ele não deixou as origens na Penha de lado.

- É o lugar onde eu nasci, onde tenho meus amigos. Quando tenho folga do Vasco, sempre estou lá. Meu coração é da Penha. Sento com meus amigos e nós lembramos dos tempos de criança, quando aprontávamos. Nós jogávamos bola, bolinha de gude...Eu não soltava pipa porque nunca fui muito bom nisso não.

Entre as travessuras preferidas estava uma muito famosa entre as crianças mais levadas: tocar a campainha do vizinho e sair em disparada.

- Tocava na campainha dos vizinhos e saía correndo. Corria muito. Corria do meu irmão também, porque ele é mais velho (dois anos) e eu gostava de implicar. Aí tinha que fugir para não apanhar dele.

O namoro de adolescente vira casamento

Fellipe conheceu a atual esposa, Rafaela, quando tinha 15 anos e ainda não era um jogador conhecido. A amada testemunhou muitas vezes o atleta encarar uma kombi ou ônibus lotado para ir para Marechal Hermes, local onde o Botafogo treinava. O cupido da história foi o irmão de Rafaela, que já era muito amigo do atleta.

- Nasci e fui criado junto dela. Viajei com a família deles no carnaval para Saquarema e acabou rolando. Ele não ficou chateado, até colocou pilha. Ela falou que estava com frio e eu abracei. Aí ele disse “se ta abraçado, beija”. Eu vi que tinha o aval dele, então arrisquei. E ela não resistiu ao charme do Bastos - orgulhou-se.

Mas a vida também colocou obstáculos na vida do casal, que, junto, soube driblar as dificuldades. Fellipe lembra do desespero de descobrir que Rafaela estava com tuberculose e não estar ao lado dela.

- Quando eu fui para a Suíça, ela não pode ir comigo. Tínhamos vindo passar o Natal aqui e eu decidi que iria primeiro e ela iria depois. Mas depois ela ficava me falando que tava com pneumonia e que não poderia viajar. No início, aceitei, mas depois comecei a desconfiar. Só depois de muita insistência que consegui saber a verdade. Ela estava com tuberculose e teve que fazer um tratamento pesado. Foi uma época muito difícil.

Já com tudo nos eixos e com a carreira caminhando para outro rumo, Fellipe Bastos espera fazer um grande papel com a camisa vascaína e ter a oportunidade de defender a Seleção Brasileira.

- Tive esta oportunidade de jogar no Vasco, que é uma vitrine maravilhosa. Encontrei a confiança de todos aqui. A imprensa não me conhecia muito bem e desconfiava um pouco. Claro que eu queria reconhecimento, o que pode me ajudar a ir para as Olimpíadas e ao Mundial de 2014. Trabalho com metas. Uma era jogar no Vasco, e outra é estar na Seleção.

Fellipe Bastos está emprestado ao Vasco até a metade de 2011.

Fonte: GloboEsporte.com