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Dinamite faz balanço de seu mandato como presidente do Vasco


Domingo, 24/10/2010 - 10:43

Dois ex-atletas que fizeram história em seus clubes, Roberto Dinamite e Patrícia Amorim estarão mais uma vez em lados opostos quando Vasco e Flamengo entrarem em campo hoje à tarde, no Engenhão. Em entrevista ao marca.br, os presidentes dos clubes de maiores torcidas do Rio falam de vitórias e derrotas durante a gestão, planos para o futuro e dívidas do passado. Dinamite e Patrícia também elegem seu Clássico dos Milhões inesquecível.

MB*: Você assumiu a presidência com a moralização do clube como uma das bandeiras. O que já foi feito nesse sentido e o que ainda está por fazer?

ROBERTO DINAMITE: A nossa principal bandeira desde o início sempre foi a transparência absoluta dos nossos atos e temos trabalhado o tempo todo nesse sentido. Eu entendo que a moralização passa por aí.

PATRÍCIA AMORIM: A questão da transparência e a forma como o clube negocia, sem trabalhar com um empresário específico, sem dar preferência. Em relação à comissão de empresário, está cada vez mais baixa. Agora é tentar cada vez mais diminuir a ação desses agentes. Tudo o que eu faço, submeto ao conselho diretor. É uma gestão compartilhada. Tem funcionado bem assim.

MB*: Como é conciliar a relação de paixão de um ex-atleta com o clube e a razão necessária para administrá-lo?

RD: Um dos meus traços de personalidade sempre foi o de separar a emoção da razão. Não misturo as coisas. Minha vida toda tem sido assim e não vou mudar agora, nesta altura dos acontecimentos.

PA: Para quem foi atleta, tendo que dominar os nervos, passo por tudo com tranquilidade. Não carrego a paixão para a administração. Mas passei coisas que nenhum outro presidente passou. O caso do homicídio (Eliza Samudio) foi top de linha. Tenho equilíbrio. Com paixão, o drama seria muito maior. Quem foi atleta tem essa vantagem. Trabalha o controle da emoção, porque tem centésimos de segundo para tomar uma decisão.

MB*: A experiênciana política ajuda na gestão?

RD: Uma das experiências mais importantes que a política me ensinou foi a arte da conciliação para o bem comum. No Vasco não tem sido diferente. Sempre coloco a instituição acima de qualquer coisa.

PA: Estes 10 anos na política foram fundamentais para eu estar aqui. Como é um cargo político, as decisões em conselhos são políticas. Não levo divergências para casa. Não pode levar para o lado pessoal. Você tem adversários ideológicos e convive com as diferenças todos os dias. O Flamengo tem várias forças políticas.

MB*: Quais os problemas do clube gerados por gestões anteriores que a sua gostaria de solucionar, mas que ainda não conseguiu?

RD: Não dá para generalizar. Houve gestões que fizeram o seu trabalho. Mas o nosso maior problema atualmente é, sem dúvida, a dívida altíssima que herdamos, mas estamos trabalhando para resolvê-la.

PA: A dívida monstruosa. Estamos fazendo uma auditoria com a KPMG. Até o fim do ano teremos um balanço. Por mais que a gente tenha aumentado as receitas, controlado despesas, às vezes, bate alguma penhora e prejudica o fluxo. É um problema sério. Estamos também com uma consultoria da Accenture e vamos pedir um estudo da dívida ao INBG.

MB*: Qual foi a maior conquista fora de campo de sua gestão e por quê?

RD: Sem dúvida, foi conseguir a união de todos os vascaínos em prol desse projeto importantíssimo que é a recuperação administrativa e financeira do nosso clube e, também, a recuperação da autoestima dos vascaínos que andava baixa.

PA: Sem dúvida os salários, os compromissos e as contas em dia. O clube agora tem palavra. Representa um aumento substancial da credibilidade. E a preocupação com o patrimônio físico do clube: o CT, as reformas na Gávea. Peguei o clube quebrado.

MB*: Qual foi a maior derrotada da sua gestão?

RD: Não considero derrota, em função das circunstâncias, mas gostaria que não tivéssemos caído para a Série B.

PA: Não sei. São só dez meses. Em termos técnicos poderia ser a perda do Estadual ou a saída da Libertadores. Pode ter sido o momento conturbado fora de campo... Não vejo ainda uma grande derrota. É cedo.

MB*: Qual clube brasileiro tem um modelo de gestão que você considere a ser seguido? Que dirigente você destaca atualmente no futebol brasileiro?

RD: Gosto do que está sendo feito no Internacional, no São Paulo e no Cruzeiro. Quanto aos dirigentes, todos os que pensam na instituição antes de qualquer outra coisa e buscam o melhor para o futebol brasileiro merecem o nosso respeito.

PA: O Internacional nos últimos anos tem apresentado resultados consistentes. Como dirigente, acho o João Havelange. Dos atuais, gosto de alguns, mas mais pela amizade mesmo.

MB*: Até o fim do seu mandato, quais são as metas traçadas antes de você assumir a presidência que a sua equipe ainda pretende alcançar e quais você acha que não será possível cumprir?

RD: O Vasco que queremos deixar para os nossos sucessores é um Vasco saneado financeiramente, ganhador de títulos, com um centro de treinamento à altura das tradições cruzmaltinas, organizado administrativamente e independente economicamente para que a gente possa honrar todos os nossos compromissos. A palavra impossível não existe no meu dicionário.

PA: A que pretendo alcançar são vitórias no futebol. Foi a única coisa que não consegui. Quero ganhar um Estadual o Brasileiro e a Libertadores. São metas que não conseguimos, mas que estão traçadas. O que não vou conseguir... Só sei que prometi entregar o clube melhor do que quando encontrei e vou conseguir. Deixarei um legado importante.

MB*: Com tudo o que você já passou no cargo, aceitaria continuar por mais um mandato? Ou é muita dor de cabeça?

RD: Dentro dos estudos que foram realizados pelo pessoal da área, vamos precisar de pelo menos uns cinco ou seis anos para arrumar a casa do jeito que um clube do tamanho do Vasco exige. E isso que estamos buscando no dia a dia. A cabeça já não dói tanto, mas a continuidade do nosso trabalho vai depender da escolha que o sócio fizer na próxima eleição.

PA: São dez meses ainda. Acho um privilégio, uma honra. Claro que é muito desgastante, dá muita dor de cabeça. Não é para qualquer um. Não é mesmo. Mas, com certeza, sairei de cabeça erguida. Por enquanto, continuo querendo isso. Podemos conversar daqui a um ano de novo (risos). Mas durmo e acordo pensando no que posso fazer para melhorar o Flamengo.

MB*: Qual o seu Flamengo e Vasco inesquecível?

RD: Foi em 81. Era a decisão do Campeonato Carioca, Tivemos que disputar três partidas. A primeira, ganhamos de 2 a 0, com os dois gols meus. A segunda foi numa quarta-feira chuvosa. Estava 0 a 0. A torcida do Flamengo já gritava 'é campeão' quando, aos 44 do segundo tempo, fiz 1 a 0. Veio o terceiro jogo, no Maracanã. Adílio e Nunes fizeram 2 a 0. Aos 38 do segundo tempo, diminuímos. Precisávamos do empate. O juiz deu mais 4 min. A pressão do Vasco aumentava, até que um torcedor, o 'ladrilheiro', invadiu o campo e criou a maior confusão. O juiz encerrou o jogo e o Flamengo foi campeão. (Nota da NETVASCO: Na verdade, o empate no 3º jogo levaria a partida para a prorrogação; persistindo o empate, haveria pênaltis.)

PA: O de 2001, o gol do Pet, do tetratri. Para mim, foi inesquecível aquela bola na coruja, aos 43 do segundo tempo.

Fonte: Marca Brasil