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Padre Jorge André, vascaíno roxo, faz sucesso no Rio de Janeiro


Domingo, 24/10/2010 - 09:33

A AGLOMERAÇÃO DE 35 MIL FIÉIS em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição Aparecida chamou a atenção de quem passava pelas ruas do Cachambi na tarde do dia 12, data em que a santa era celebrada. Sem tirar o mérito da padroeira, boa parte do sucesso da festa — já considerada das maiores do estado — pode ser creditada a Jorge André Pimentel Gouvêa, 38 anos, padre que há 5 anos assumiu a paróquia. Apaixonado por samba, o pároco, que é mangueirense desde criancinha, tem no círculo de amigos nomes como Emílio Santiago e Alcione. Além da música, futebol, boxe, skate e asa delta fazem parte da rotina desse padre pra lá de pop.

Quando o senhor decidiu seguir a vocação religiosa?

Padre Jorge André: No fim da adolescência. Antes, eu era evangélico. Comecei a trilhar meu caminho na Igreja em um mosteiro na Holanda, fui trapista por 1 ano e 2 meses, tempo em que permaneci no claustro. Depois voltei ao Rio, fiz o seminário e me tornei padre. Tenho 14 anos de vida religiosa e oito de ordenação como padre.

Nos últimos 5 anos, o senhor transformou a festa de Nossa Senhora Aparecida, no Cachambi, numa das mais importantes do estado. Como começou esse fenômeno de público?

"Quando cheguei, a festa era pequena. No primeiro ano, convidei o Emílio Santiago, que é um grande amigo. Ele veio e foi uma coisa totalmente nova para a comunidade. Nos anos seguintes, o público foi aumentando. Este ano, foram quatro dias de festa, com programação religiosa, cerca de 20 shows e 35 mil pessoas.

A que o senhor atribui esse atual sucesso da festa? A união entre a fé e o lazer é o segredo?

Aqui na Zona Norte existe uma carência grande de opções de diversão. Temos apenas um teatro. Faltam casas de show. Para boa parte dos moradores, também fica difícil ir para a Zona Sul, onde o lazer acaba ficando um pouco caro. Por isso, além das missas, procissão e outras atividades da programação religiosa, fazemos questão de organizar os shows.

O samba é uma paixão em sua vida?

Sim, vem de sangue. Sou primo da Elza Soares e além do Emílio, tenho amigos muito queridos no samba, como Alcione, Lecy Brandão, Nana Caymmi. Gosto muito de ir a show de música ao vivo, curto todos os ritmos, sobretudo samba e pagode. Também sou mangueirense doente, já trabalhei na diretoria da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã durante 3 carnavais. Desfilei na Mangueira e Beija-Flor, que já me convidou para sair ano que vem, junto à ala que fará homenagem à canção ‘Nossa Senhora’.

Por gostar de samba e Carnaval, o senhor enfrentou resistência da Igreja e dos outros sacerdotes?

Não, hoje os padres têm uma liberdade maior. Existe uma mentalidade mais aberta. O sacerdote também precisa se divertir, até porque dificilmente alguém vai ao padre contar uma história legal, sempre são relatos de problemas e coisas tristes. O arcebispo de nossa Diocese (Dom Orani) tem uma visão boa da comunicação, está sempre próximo dos padres e dos fiéis. Isso está renovando muito a Igreja no Rio.

Além de mangueirense, o senhor já disse ser vascaíno roxo. O esporte também está presente no seu cotidiano?

O futebol é outra paixão. Sou sócio de carteirinha do Vasco. Sempre que posso, vou assistir aos jogos nos estádios. Também luto boxe, ando de skate e, a cada dois meses, mais ou menos, salto de asa-delta.

Como consegue conciliar tantas atividades com a agenda de sacerdote?

Na verdade, tem que programar bem o tempo para dar conta de tudo. Na paróquia, celebro duas missas diárias e, aos domingos, são quatro. Tem dia de confissão, além das atividades no centro social onde funcionam creche e atendimento à comunidade. Também sou assessor da Cúria para as irmandades e associações dos fiéis negros. Gosto de acumular as atividade para não cair numa vida de rotina.

Sua personalidade popular é um fator que atrai mais fiéis?

Acredito que isso influencia, sim. Hoje, os fiéis têm sua paróquia afetiva, ou seja, frequentam a igreja em que se sentem bem. Aqui, temos gente que vem da Ilha do Governador e da Zona Sul. Por semana, as missas reúnem mais de duas mil pessoas. Eu tento estar sempre próximo dos fiéis. As missas são muito alegres, até sorteio de camisa de time de futebol a gente faz para animar.




Fonte: O Dia