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Futebol Americano: Deny Barbosa fala da carreira e do título pelo Vasco


Sábado, 23/10/2010 - 09:23

Ela é carioca. Basta o jeitinho de ela andar.

Mas quando Deny Barbosa, aos sábados à tarde, vai a caminho do mar, em Copacabana, na altura do Posto Quatro, onde mora, está indo treinar pelo time de futebol americano do Vasco. No último fim de semana, o time conquistou a primeira edição do Carioca Bowl feminino, o campeonato de futebol americano adaptado à praia.

Se os mais machistas dizem que futebol (o de origem inglesa, nossa paixão nacional) é para homem, imaginem se tivessem visto Deny e suas companheiras vascaínas se engalfinhando na disputa pela bola oval com as meninas do Botafogo Flames, ligado ao time alvinegro, na final de domingo, vencida pelo Vasco, na Praia de Botafogo.

— Estou neste esporte há sete anos, fui a primeira menina no Rio a jogar futebol americano. No começo, eu disputava com os meninos da minha sala no Colégio Plank, de Copacabana, no ensino médio, em 2003. Depois, chamei minha prima, Denise, e em 2004 começaram a aparecer outras meninas.

Formamos, então, o Copacabana Eagles feminino, enquanto em Saquarema era criado o Saquarema Big Riders — conta a professora de educação física e de escolinha de beach soccer. — O Coyotes surgiu em 2005 e foi tricampeão do Venus Bowl (um torneio feminino) de 2006 a 2008. Neste ano de 2010, o Coyotes uniu-se ao Copacabana Soldiers e agora nós representamos o Vasco — diz Deny, que tem 25 anos.

Fã do marido da Gisele Bündchen

Para ela, o apoio do time de São Januário e de sua torcida em sites como o Orkut e o Twitter fazem a diferença.

— O apoio tem sido muito legal, mas, no caso do feminino, ainda falta aceitação e sobra preconceito — enfatiza. — Quando alguém fica sabendo que eu jogo futebol americano, estranha o fato de eu ser baixinha (1,63m).

E quando alguém comenta que futebol americano é muito violento, Deny garante que não é bem assim: — As pessoas estão acostumadas com aqueles homens enormes, de quase três metros, batendo, mas o time feminino é mais pela técnica e pelo jeito. Há todo um lado de estratégia, de drible, de destreza e de talento que as mulheres desenvolvem.

Na final de domingo, Deny foi eleita a melhor quarterback do jogo e do campeonato.

Quarterback é a armadora, a organizadora, o cérebro do time. Além dessa posição, ela joga também como kicker, isto é, aquela que chuta a bola oval no meio das traves em formato de Y. Isso acontece depois que um time marca o touchdown, objetivo maior do esporte, que vale seis pontos. Para marcar um touchdown, a jogadora tem de penetrar na linha de fundo do time rival com a bola dominada. Quando o chute vai certo, depois do touchdown, o time marca mais um ponto.

— No futebol americano profissional, nos Estados Unidos, cada time joga com 11 jogadores. Como há times específicos de defesa e ataque, e jogadores com funções especiais, como o kicker, cada time tem 44 atletas. No nosso caso, no feminino, jogamos nove contra nove. Contando com os times de defesa, somos 28. Ao todo, nos quatro times do Carioca Bowl (Vasco, Botafogo, Saquarema Big Riders e Rio Islanders) são cem jogadoras, e o número está aumentando — calcula.

O Vasco venceu o Botafogo por 5 a 0, mas não foi uma goleada, como seria no futebol. A final foi disputada e truncada.

O Vasco obteve dois pontos num safety (uma espécie de gol contra), quando a cornerback (lateral) Raquel bloqueou a quarterback adversária em sua própria linha de fundo. Depois, coube à própria Deny fazer um field goal (quando um time não avança o suficiente para o touchdown, mas chuta a bola oval no meio da trave em forma de Y e ganha três pontos). O Botafogo tentou a virada, mas não conseguiu.

— Somos um time novo, mas nos entrosamos muito rápido. Seis meses é pouco tempo. Não esperávamos ser campeãs este ano — diz Deny.

Morena, com os cabelos pintados de ruivo, ela tem de tomar algumas providências para poder jogar a bola oval.

— Tiro toda a maquiagem, passo protetor solar no rosto e mantenho as unhas cortadas, ou jogo com luvas. O cabelo é sempre preso. E também uso protetor bucal. Mas isso é pra jogar, porque quando posamos para filmagens ou fotos, vamos todas maquiadas — ri.

Ela namora há três anos Carlos, formado em administração de empresas, que trabalha com advocacia.

— No começo ele não gostava muito, mas agora é chefe do meu fã-clube — diz a número 12 vascaína, cujo sonho é jogar em campos de grama, usando capacete e todo o equipamento de segurança adotado pela NFL.

— Sempre gostei de jogar com a número 3 ou com a 4, mas fiquei na dúvida e escolhi 12, que é 3 vezes 4.

Além disso, na NFL (liga americana profissional), torço pelo New England Patriots. O quarterback é Tom Brady, marido da Gisele Bündchen, e ele usa a camisa 12.

Mas, e os uniformes? As camisas largas, embora respeitando as cores tradicionais de clubes como Botafogo e Vasco, são tudo, menos femininas. Deny ri do comentário: — Os uniformes dos Coyotes eram uma blusinha baby look e um short curtinho, mas não deu tempo de fazer algo parecido. Na próxima edição do Carioca Bowl, vamos encomendar ao fabricante uniformes com um corte mais feminino.


Deny Barbosa em ação no jogo Vasco x Botafogo


Deny Barbosa em ação no jogo Vasco x Botafogo


Deny Barbosa com prêmios do I Carioca Bowl


Fonte: O Globo (texto), Site da Fefarj (fotos)