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Romário, sobre Romarinho: 'É inevitável, sempre irão comparar'
Domingo, 17/10/2010 - 11:04
Recém-eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, Romário fala sobre os desafios de sua nova profissão, para a qual confessa ainda não estar preparado, e diz que é fã do estilo ´marrento´ de Neymar
Você já procurou se aprofundar sobre o papel desempenhado por um parlamentar?
Um deputado federal tem seus deveres e obrigações e, com certeza, uma delas é fiscalizar, outra delas é legislar e, se você me perguntasse hoje se eu estou preparado para isso, eu diria: preparado não, mas eu estou me preparando. E irei procurar me acompanhar de profissionais competentes e honestos para cumprir com os meus objetivos.
Como você pretende utilizar a Copa 2014 e as Olimpíadas do Rio como pontos de partida para projetos voltados para os jovens?
A gente tem que aproveitar este momento e passar para estes jovens e crianças que a oportunidade que eu tive eles também poderão ter. O meu objetivo é fazer vilas olímpicas, centros poliesportivos dentro das comunidades ou próximo a elas, centros de tratamento para as crianças com necessidades especiais... enfim, estou com vários projetos na cabeça.
O que você pode trazer de positivo para ser discutido sobre a Lei Pelé, que desde sua criação sempre teve como característica a complexidade de inúmeras emendas que já sofreu?
Existem algumas coisas que são falhas na Lei Pelé, como em quase todas as leis do nosso país, e tentarei rever e consertar estas falhas. Hoje o clube é um dos mais prejudicados pela Lei Pelé. Hoje, o atleta faz sua base, o clube tem gastos com ele por quase sete anos, abre as portas para ele jogar e, se o atleta chegar aos 16 anos e não tiver um contrato com ele, vai embora. E tudo aquilo que o clube fez é deixado para trás. Isto, é uma das falhas dessa lei.
Quando surgiu, exatamente, a ideia de virar político?
Enquanto jogava, nunca pensei em ingressar na vida política. Isso aconteceu no ano passado, quando tive uma reunião com o presidente regional do PSB (Partido Socialista Brasileiro) do Rio de Janeiro, Alexandre Cardoso. A gente conversou algumas coisas, na verdade, tivemos umas quatro ou cinco reuniões, até eu decidir. Essa transição de ex-jogador e ídolo para político foi uma coisa totalmente diferente, não tinha a menor ideia de como as pessoas iriam reagir, mas, foram quase 150 mil votos e fiquei muito feliz.
Você pensa em ocupar algum cargo no Executivo no futuro?
É muito cedo. Fui eleito para o cargo de deputado federal e pretendo exercer, no mínimo, esses quatro anos de mandato. Claro que um cargo no Executivo, para um cara como eu, que sempre fui de fazer e executar, me daria muito mais oportunidades de realizar, mas como deputado, tenho certeza de que conseguirei fazer o que projetei.
Ser jogador de futebol famoso e rico, hoje em dia, na sua opinião, é mais fácil do que na época em que você começou?
É. Hoje em dia, o jogador de futebol ganha muito mais do que na época em que comecei. E é isso mesmo, as coisas mudam e, com certeza, daqui a alguns anos as coisas vão mudar para mais. Eu, particularmente, não tenho nada do que reclamar, tive a minha fase, aproveitei bastante e eu espero que estes jogadores de hoje saibam ganhar dinheiro e que, também, possam representar bem a Seleção, que na minha opinião é o que mais vale na carreira.
Aqui, tivemos o caso de um jogador que estourou no início da década como grande revelação, o Clodoaldo. Inclusive, muitos comparavam o estilo dele com o seu. Só que ele não conseguiu vingar nacionalmente porque não soube lidar com a fama repentina. Você, de alguma forma, se preparou para ser famoso?
Não. As coisas foram acontecendo na minha vida quando tinham de acontecer. E a gente é que escolhe os caminhos bons ou ruins. Resolvi escolher o caminho bom e positivo, mesmo com todas as dificuldades que tive. Meus pais sempre me ensinaram a ter uma boa índole. Então, acho que a preparação de cada um vem da família e não quero dizer com isto que as famílias de muitos que não conseguiram vingar são as culpadas.
Como você conseguiu ter uma carreira tão longa, sendo, como todos sabem, um cara da noite?
Continuo gostando muito da noite, mas talvez a minha diferença para muitos é a de que nunca bebi, não fumei e nunca usei nenhum tipo de droga. A minha noite era mesmo para ouvir a minha música, para dançar e sair com os amigos. Infelizmente, muitos não curtem como eu curtia e como ainda curto, embora um pouco menos que antes, e talvez essa tenha sido a diferença.
O Neymar tem tido um início de carreira marcado pela sua genialidade e algumas polêmicas. Qual a sua opinião sobre ele?
Particularmente, sou fã do Neymar por ele ser polêmico e bom jogador. O Brasil precisa de jogadores assim. E chega de bonzinhos que não resolvem p... nenhuma. Talvez eu tenha sido um dos últimos polêmicos que apareceram no Brasil e estes "good boys" não resolvem. Se o Neymar for polêmico e resolver, principalmente na Seleção, para mim é muito bem aceito.
Você vê algum tipo de semelhança entre ele e você?
Não tem semelhança nenhuma. Já tive a mesma idade dele e arrumei alguns problemas, pelo fato de ser jovem e não ter experiência, mas tudo isso faz parte da vida de um jogador. Daqui a pouco vai passar.
Até que ponto você pode servir de referência para seu filho Romarinho?
O Romarinho sabe que ele vai ter pela frente algumas dificuldades por conta de ser meu filho. Ele já tem 17 anos, já entende muito bem das coisas, está seguindo a carreira de futebol no juvenil do Vasco e acredito que ele possa vir a ser respeitado. É inevitável, sempre irão comparar. Mas, acredito muito nele, principalmente, porque ele tem muita força de vontade, sabe jogar futebol.
Qual era a melhor dupla: Stoichkov e Romário; Bebeto e Romário ou Romário e Ronaldo?
Tive o privilégio de fazer parte destas grandes duplas. Mas para mim, a que mais marcou foi a que fiz com o Bebeto. Vestimos por muito tempo a camisa da Seleção, ganhamos todos os títulos que disputamos.
Você se arrepende de ter jogado no futebol brasileiro, apenas no Rio de Janeiro?
Não. Não tive nenhum tipo de prejuízo. Sou Rio até no nome: Romário. Sempre respeitei os outros Estados e clubes, mas não me arrependo de ter atuado em quatro (Flamengo, Vasco, Fluminense e América) dos cinco grandes clubes cariocas.
Qual sua relação com o Estado do Ceará? Você ainda costuma passar férias aqui?
Sempre gostei de Fortaleza. Sempre nos finais de temporada, quando ainda jogava, eu pegava minha esposa e meus filhos e vinha para cá. Me sinto bem a vontade aqui.
Você tem ou teve algum projeto voltado para o Ceará?
Já tive convites para vir trabalhar com o futebol aqui do Ceará depois que eu parei. Mas, a gente acabou não acertando e fiquei pelo Rio mesmo. Na política, como deputado federal, dentro do que um parlamentar pode fazer pelo Brasil, eu sempre irei trabalhar em prol do Nordeste. O Nordeste é sempre uma região do nosso País que a gente tem sempre muito carinho e respeito. E o que seria o Brasil sem o Nordeste? Na minha opinião nada.
Fonte: Diário do Nordeste