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Éder Luís relembra seus primeiros passos na carreira


Quarta-feira, 06/10/2010 - 14:16

Em um universo onde a idolatria e o dinheiro por vezes deslumbram os jogadores, a simplicidade de Eder Luis chega a espantar. Tranquilo e dono de histórias muito engraçadas, o atacante é daquele tipo de pessoa com quem vale a pena conversar. Essa personalidade ajudou o atacante a ganhar destaque na Colina. Menos festejada que Carlos Alberto, Felipe e Zé Roberto, a contratação do jogador foi muito comemorada pela diretoria na época. Hoje, quem vibra com o empréstimo dele é a torcida.

Com um jeitinho mineiro, o atacante chegou ao Vasco comendo pelas beiradas mas logo ocupou seu espaço. Principal destaque do time no Campeonato Brasileiro, o jogador ainda está se acostumando a ser protagonista. O camisa 7, que é o artilheiro da equipe na competição com seis gols, acredita que ainda pode dar muito mais para ajudar o Gigante da Colina .

Ele, que tem 25 anos, considera que este momento é um dos seus melhores da carreira, assim como 2007, quando se destacou com a camisa do Atlético-MG.

- Eu encaro isto (ser o destaque) com naturalidade. Em todo lugar que eu vou, jogo do mesmo jeito. Aqui, eu estou em uma sequência boa, fazendo bons jogos. Em 2007, eu também tive um momento muito bom no Atlético. Fui campeão mineiro lá. Estou me sentindo bem fisicamente, mas o ideal ainda vai demorar um pouco. Quando eu chegar lá, meu rendimento vai poder melhorar muito.

Uma das vantagens de Eder Luis sobre outros medalhões do Vasco é que passa longe do departamento médico. E não é de agora.

- Nunca tive lesões, graças a Deus. Só conheço os médicos do Vasco passando pelo vestiário.

Uma das explicações para boa adaptação do atacante ao clube é o rápido entrosamento que teve com o elenco. Ele já até ganhou o apelido de "Chico Bento", famoso personagem de histórias em quadrinhos que vive na zona rural. Mas a comparação antecede a Colina, como contou o camisa 7 em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM em seu apartamento, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do rio.

- Meu treinador na época dos juniores (Marcelo Oliveira) levou um bonequinho (do Chico Bento) para a preleção. Em vez de falar meu nome, colocou ele no quadro. Mas eu nem conheço muito bem (o personagem). Quando viajo com o Vasco, no aeroporto tem uma banca de jornal que tem o boneco. Nem paro perto para os caras não ficarem “buzinando”. Mas acho que o apelido deve ser porque gosto muito de roça, fazenda, essas coisas. Nas férias, 90% do tempo eu fico na roça, em Uberaba.

A relação de Eder Luis com o campo vem desde o berço. Nascido em Uberaba, em Minas Gerais, desde pequeno aprendeu os afazeres de uma fazenda, como lidar com animais e cuidar da plantação. E o gosto pelos encantos do interior parecem ter passado para os filhos Luisa Victoria e Davi Luis.

- Quando eu era criança, tirava leite de vaca em fazenda. Ajudava meu pai a plantar milho, soja... Ainda vou nas terras dele. Aproveito, fico lá. Também tenho meu lugar, mas eu gosto mais de animais. Meus filhos também, já que cidade grande não tem. Quando começam a ver os bezerros, eles riem muito. Também gostam de passear a cavalo.

Depois de deixar o convívio dos pais para tentar a vida no futebol, aos 14 anos, o atacante passou por muitas provações até alcançar o sucesso atual. Ele revelou que, por causa das dificuldades financeiras de jogar em um clube pequeno e da distância da família, por pouco não desistiu da carreira antes mesmo de se profissionalizar. Recordar os momentos de solidão no alojamento do Comercial, de Ribeirão Preto, emocionam o atleta.

- Comecei no Comercial com 14 anos. Fiquei quatro anos lá. Era difícil receber salário. Era triste, quase parei de jogar. Meu pai e minha mãe me ajudaram muito. Dia de domingo então era muito difícil. Fica até complicado de falar. Mas foi onde eu aprendi a dar valor para as minhas coisas. Lá, eles abriram as portas do futebol para mim. Quando terminar o campeonato, pretendo passar lá na cidade para rever os amigos.

Quando ainda era muito jovem e não tinha se estabilizado, Eder ainda teve a notícia de que seria pai pela primeira vez. Era a responsabilidade chegando bem cedo na vida do jogador.

- Tive uma filha muito novo, eu tinha 17 anos quando nasceu a Luisa Vitória. Minha esposa morava em Nova Ponte, em Minas, que fica a três horas e meia de Uberaba.

A carreira do camisa 7 vascaíno só começou a decolar depois de uma atuação de gala em um clássico local, contra o Botafogo de Ribeirão Preto. Os dois gols foram decisivos para despertar o interesse dos olheiros do Galo mineiro.

- O pessoal do Atlético foi olhar o Diego (goleiro atualmente no Almería, da Espanha) e o Zé Luis (que jogavam no Botafogo, de Ribeirão Preto). Foi um clássico Come-Fogo (Comercial x Botafogo). Eu fiz dois gols e o pessoal disse que tinha era que me levar.

Felizmente, os tentos de Eder não trouxeram problemas a Diego, que também foi levado para o Atlético-MG. Segundo Eder, o goleiro não teve culpa nos gols.

- Eu driblei ele – disse, com naturalidade, sem o menor tom de vaidade.

No Galo, Eder Luis explodiu no cenário nacional e, depois de uma passagem pelo São Paulo, foi para o Benfica, de Portugal. No clube mineiro, além de conhecer pela primeira vez o apelido "Chico Bento", ele ganhou a alcunha de "Neto do Vento" por causa da velocidade parecida com a de outro atacante: Euller. Os dois nomes pegaram também na Colina, onde Euller fez sucesso ao lado de Romário.

- Lá no Atlético-MG já falavam. Eu gostava muito do jeito dele. Meu gosto pela 7 é por causa do Euller. Ainda tenho contato com ele e com o Marques, que também passou pelo Atlético e pelo Vasco. Antes de eu vir para o Rio, o Euller me disse que o Campeonato Carioca é o melhor porque tem três finais.

Confira outros trechos da entrevista de Eder Luis ao GLOBOESPORTE.COM.

Você não tem um estilo clássico do "boleiro", que usa roupas de grife, cordões, tem tatuagens... Tem alguma vaidade deste tipo?

Até tenho alguns acessórios, como cordões, mas quase não uso. Mas isso vai da pessoa, depende do dia. Se precisar, eu compro. O que gosto mais é de relógio. Uso cremes e perfumes para chegar cheiroso em casa. Minha esposa gosta.

E os carros esportivos que os jogadores normalmente gostam de comprar?

Eu quase não ligo para carros. Para pegar uma viagem, como sempre fazemos aqui em casa, tem que ter um mais confortável. Mas para o dia a dia, tanto faz. Os esportivos não me chamam a atenção. Tem tantos que fazem a mesma coisa...

Nas horas de folga, o que gosta de fazer? Vai ao cinema, teatro, sai para jantar? Já está com algum costume carioca, como ir a praia?

Tento aproveitar meus filhos nas horas de folga. Levo eles para brincar em shopping. De praia eu gosto, e eles também. Mas neste ritmo de tantos jogos está difícil. Quando tiver mais folga, vou tentar ir mais. A praia está aqui na frente de casa. À noite saio muito pouco, mais para jantar. Gosto de comer carne e pizza. A nutricionista do clube fala que é para eu me alimentar bem. Perco uma média de dois quilos por partida, então não tem problema.

O que fez você optar pela transferência para o Vasco?

A oportunidade. Conversei muito com meu empresário. Tive outras propostas (Fla e Grêmio), mas a melhor foi do Vasco. Na época, o clube estava em pior situação que o Flamengo, por exemplo. Meu pai (Ronaldo), que é vascaíno, ficou muito feliz. Já até veio me ver jogar (contra o Botafogo e Avaí). Normalmente, eu faço gols quando ele vem. Ele torce muito.

O PC Gusmão tem repetidamente pedido que você seja convocado pela Seleção. Acredita que está merecendo?

Acho cedo para falar em Seleção, nunca tive uma convocação. Agora que eu tenho a oportunidade de ter essa divulgação, quem sabe nas próximas? Se começou a surgir este assunto...Qualidade tenho. Se o Mano começar a observar, eu posso acreditar. Pelo menos um amistoso.

Qual avaliação que você faz da passagem de seis meses pelo Benfica? Por que não deu certo?

Cheguei lá (no Benfica) e o time já estava para ser campeão. Já tinha os 11. É difícil você chegar e entrar. Até ganhar ritmo, demora. Cardozo, Saviola... estes caras estavam bem. Eles queriam que eu ficasse lá, mas eu queria jogar.

Seu empréstimo termina em junho de 2011. Já está com uma possível renovação na cabeça?

É difícil ficar pensando em renovação. Está tão bom agora... Tem que ver a parte do Vasco. Minha família está bem adaptada aqui, estou gostando muito do Rio. O lugar que eu moro é muito tranquilo, perto da praia.

Fonte: GloboEsporte.com