Pedido de autógrafos, fotos, abraços e um pequeno papo. Essa é a rotina de uma estrela do Vasco. Não, não estamos falando de Carlos Alberto. Nem de Felipe. Nem do presidente e ídolo Roberto Dinamite. Esse é o dia a dia de Carlos Germano, ex-goleiro e atual preparador de arqueiros do clube. Por onde quer que ele vá, é parado por funcionários e fãs. Até crianças mostram conhecer o ídolo, que parou de jogar há três anos e tem em sua lista de títulos o Brasileiro de 1997 e a Libertadores de 1998.
Tanto carinho deixa o ex-jogador emocionado. É nítido que Germano gosta desse reconhecimento, embora encontre um motivo para ainda ser tão requisitado.
- O Vasco não ganha um título desde 2003. Com isso, o torcedor fica carente de ídolos. Mas agora tem o Carlos Alberto e o Felipe que dão muito mais autógrafos que eu – disse.
Com 18 anos de Vasco, Germano adora o ambiente do clube. Tanto, que é capaz de passar o dia inteiro em São Januário trabalhando, conversando com amigos e vendo as filhas jogando vôlei.
E foi em São Januário que o ex-jogador bom de papo conversou longamente com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM. Germano não se esquivou de falar sobre nenhum assunto. Contou sobre os momentos mais felizes de sua carreira, a decepção de ter ficado fora do Mundial de 2000 e fez uma aposta ousada sobre o time atual:
- Ano que vem, vai ter o Mundial. Pode ter a certeza. A gente vai chegar. Esse time que está aí é bom demais. Pode apostar nisso que eu estou falando
Confira a entrevista completa com Carlos Germano:
Sabe quantos anos tem de Vasco?
Foram 15 como jogador e mais três como preparador de goleiros. Ou seja, 18 anos.
Como tem 40, quase metade da vida...
Pois é, rapaz. Nunca tinha parado para fazer essa conta.
Mesmo tendo parado de jogar, você sempre é um dos mais assediados do clube. Como vê isso?
Isso é normal porque é recíproco. Eu estou no clube em que fui criado e que gosto. O torcedor enxerga isso. Você vê que os meninos da base quando entram em campo sempre recebem um carinho maior. Eu, ainda bem, sempre tive esse carinho. Parece que conquistamos os títulos ontem. O Vasco não ganha um título desde 2003. Com isso, o torcedor fica carente de ídolos.
O torcedor costuma te parar nas ruas também? Consegue ir a shopping e essas coisas?
Consigo, normalmente. O torcedor me trata com muito respeito. E hoje é mais tranquilo. Não é aquele agito todo, aquele assédio do tempo em que eu jogava.
Alguma situação já te incomodou?
Não, nunca. O torcedor do Vasco é ótimo comigo.
Quem dá mais autógrafo? Você, Felipe ou Carlos Alberto?
Eles dois, sem dúvida. O Carlos Alberto é um ídolo recente, enquanto o Felipe é um cara que já conquistou muita coisa aqui e está de volta. Eu já parei de jogar faz tempo.
Você chegou a jogar com o Felipe no início da carreira dele aqui. Como era o Felipe?
Já jogava muito. Hoje, tem mais experiência e continua com toda aquela qualidade. Se antes já era uma referência, agora é ainda mais.
Você chegou a dar conselhos a ele na época?
Existe uma diferença de idade e, por isso, os mais experientes se preocupavam em proteger os mais novos, como ele e Pedrinho. Mas nem precisava. Os garotos jogavam demais.
Este ano, você já ganhou uma camisa retrô e uma outra em sua homenagem. Deve dar orgulho saber que mesmo depois de ter parado ainda é reconhecido pelo que fez dentro de campo.
Essa camisa em minha homenagem é a mais importante que vesti na vida. Quando você é lembrado pelo que fez, dá muito orgulho. Não sei nem descrever. É muita honra.
Como tem sido sua carreira de preparador de goleiros? Gosta dessa função?
Tenho gostado, sim. Tudo é novidade. Tenho aprendido muito (Germano ajudou o Vasco a conquistar o Brasileiro de 97. Assista ao lado).
Não bate uma vontade de entrar em campo de vez em quando para ajudar?
Dá vontade, claro. Mas eu mato as saudades nas peladas. Deixa para os outros agora.
Você teve chance de jogar pelo Flamengo, em 97, mas recusou. Sente que estaria traindo a torcida se fizesse isso?
Isso foi uma confusão...Teve realmente uma sondagem do Flamengo. Mas nada foi firmado. Eles queriam me registrar porque eu estava sem contrato, mas para isso precisava que eu concordasse. Nunca pensei em deixar o Vasco, ainda mais para um clube rival. Sabia que a situação ia se resolver.
E valeu a pena não é? Afinal, foi campeão brasileiro e depois da Libertadores.
Uma semana depois de tudo resolvido, voltei a jogar. E não perdemos mais nas últimas 14 partidas do Brasileiro. A Libertadores foi a consagração.
Título mais importante do clube até hoje...
É. Mas ano que vem vai ter o Mundial. Pode ter a certeza. A gente vai chegar. Esse time que está aí é bom demais. Pode apostar nisso que eu estou falando.
Está mesmo otimista...
Eu conheço de futebol. Sei da qualidade desses jogadores que estão aqui. Quando o time começar a jogar sempre junto, você vai entender o que estou falando. Pelo que o time tem mostrado, só não vai para a frente se não quiser.
Voltando a falar da época em que você jogava. Depois do imbróglio em 97, teve mais uma confusão em sua renovação de contrato. Desta vez, no ano 2000. O que aconteceu para você deixar o clube naquele ano?
Olha, é complicado explicar. Envolvia tanta coisa, empresários, dirigentes. Acabei sendo forçado a sair daqui, embora nunca quisesse ter saído. Meu contrato vencia perto do Mundial de clubes. Queriam que eu estendesse até depois do torneio, mas eu queria prorrogar por mais dois anos. Teve até falsificação de contrato. Cheguei a ficar afastado do grupo e não pude disputar o Mundial. Mas isso já é passado. Deixa para lá.
Foi o momento mais triste de sua carreira?
Foi. Queria ter disputado o Mundial com o time. O clube chegou a me negociar com o Corinthians no fim de 99, mas eu não aceitei. Queria disputar o Mundial pelo Vasco. Eles (o Corinthians) contrataram o Dida, e eu acabei fora do torneio.
E qual foi o momento mais alegre de sua carreira?
A minha primeira partida. Foi um Vasco x Botafogo, em 1990. O Acácio se machucou e eu entrei. Eles tinham um timaço, mas eu consegui me sair bem.
Você foi vice-campeão Mundial pela Seleção Brasileira em 98. Naquela final, contra a França, teve a polêmica envolvendo Ronaldo. O que aconteceu?
Sinceramente, não sei. Eu estava no quarto, quando me falaram que o Ronaldo passou mal, teve uma convulsão. Não sei exatamente como aconteceu, mas o pessoal estava muito preocupado.
E em 2002? Não teve chance de ir ao Japão e à Coréia do Sul?
Eu tive problemas no Santos, que passava por problemas financeiros. Acabei ficando um tempo sem jogar e isso me prejudicou. O Antônio Lopes (coordenador da Seleção à época) me disse que o Felipão queria me convocar, mas que eu precisava jogar. Poderia ter ido como terceiro goleiro, pelo menos para contar piada.
Fonte: GloboEsporte.com